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Romário é interminável na arte de fazer gols. Do seu jeito marrento, o Baixinho já conquistou o mundo, fez os tenores Luciano Pavarotti, José Carreras e Placido Domingo reverenciarem seu talento no Mundial dos Estados Unidos (94) e "Sai, sai da frente. Sai que o Romário é chapa quente" cravou o nome na história de três dos quatro maiores times do Rio de Janeiro. Com 939 gols, entre amador e profissional, em 20 anos de carreira (1.056 jogos), o que mais ele poderia exigir? Ser artilheiro do principal Brasileiro aos 39 anos e chegar ao milésimo gol.

Na árdua tarefa de manter o apenas regular time do Vasco na Série A, o atacante já balançou a rede 20 vezes. Está a apenas um do principal goleador do campeonato, Róbson, do Paysandu. Caso repita o feito de 2001, quando marcou 21 vezes e liderou a artilharia, é bem provável que o jogador repense o anunciado fim de sua carreira. Entre os amigos, já há quem aposte na versão 2006 do Peixe.

"Seria para calar a boca dos que disseram que eu estava acabado. Tem gente que não aprende e fala bobagem a vida toda", diz Romário, mantendo-se fiel ao estilo polêmico.

O maior goleador do país do futebol pós-Pelé tem fôlego de gato. Com seu temperamento forte e língua afiada, sempre resiste às peças que a vida teima em lhe pregar. E ressurge cada vez melhor.

O primeiro baque na trajetória do jogador – para quem o craque Tostão daria a camisa 9 na Copa de 70 – aconteceu em 1988. Aos 22 anos, bicampeão carioca pelo Vasco, o mundo descobriu Romário na Olimpíada de Seul. Marcou sete gols no torneio, mas a antiga União Soviética lhe tirou a medalha de ouro. Como recompensa, porém, acertou sua transferência para o holandês PSV.

Brilhou na gélida Eindhoven. Estreando em gramados europeus, ajudou com 19 gols o PSV a derrubar o poderoso Ajax. No ano seguinte, fez de cabeça contra o Uruguai, num Maracanã lotado, o gol que quebrou o jejum de 50 anos da seleção brasileira sem conquistar a Copa América.

Mas o Baixinho voltou a tombar. Uma fratura no perônio a três meses do Mundial da Itália (90) atrapalhou seu desempenho. Discreto, entrou apenas no segundo tempo na vitória por 1 a 0 sobre a Escócia na primeira fase.

Da Holanda, Romário foi reinar na Espanha. O Barcelona pagou US$ 4,5 milhões para tirá-lo do PSV. Em duas temporadas na equipe catalã, balançou a rede 55 vezes em 83 partidas. Apenas o técnico da seleção brasileira, Carlos Alberto Parreira, em nome da disciplina, não se dobrava ao talento do camisa 11, também conhecido pelas confusões que arrumava. Entretanto, com a vaga para a Copa seriamente ameaçada, a CBF forçou a barra e o treinador foi obrigado a engolir a convocação, às pressas, do salvador. Deu mais do que certo. Com dois gols e uma atuação histórica, de novo diante do Uruguai, Romário atingiu o ápice na carreira.

Nos Estados Unidos, em 1994, alcançou o status de imortal ao dar um título mundial ao Brasil após 24 anos de fila. Foi aclamado como o melhor do planeta na votação da Fifa. "Quando eu nasci, Papai do Céu olhou para mim e disse: esse é o cara!", costuma vangloriar-se.

Realizado, quis voltar para o seu Rio de Janeiro, para a praia e o futevôlei. Trocou o Barça pelo Flamengo e iniciou uma relação de amor e ódio com a maior torcida do Brasil. Do seu jeito, treinando pouco e marcando muitos gols, sempre esteve em evidência.

Mas Zagallo decretou o fim do terceiro ciclo do Peixe ao deixá-lo de fora das Olimpíadas de Atlanta (96). O motivo: a tal da indisciplina novamente.

De volta à rotina da Gávea, Romário passou a se preparar para ser bicampeão do mundo na França (98). Uma lesão na panturrilha esquerda interrompeu o sonho. A dupla com Ronaldo não se concretizou. Azar do futebol.

Por opção de Vanderlei Luxemburgo, que preferiu não levar nenhum jogador com mais de 23 anos, foi barrado das Olimpíadas de Sidney (2000), justamente na temporada em que marcou 72 gols pelo Vasco.

A teimosia de Luiz Felipe Scolari também impediu o Baixinho de disputar sua terceira Copa, em 2002. Em nome da ferrenha convicção, Felipão suportou a pressão vinda das ruas e não deu bola para o choro de Romário. Mais uma vez, a fama de indisciplinado pesou.

Era o que esperavam os apressados de plantão para enterrar o camisa 11. Precipitadamente. Em sua sétima vida, o Peixe, peregrinando entre Fluminense e Vasco, seguiu balançando as redes.

Perto de completar 40 anos – faz aniversário em janeiro –, o grito em São Januário segue mais intenso do que nunca: "Sai, sai da frente. Sai que o Romário é chapa quente".

Por tudo isso, como definiu o craque holandês Johan Cruyff, Romário é mesmo o gênio da grande área.

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