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| Foto: Alexander Demanchiuk/ Reuters

Na quinta Olimpíada, Fofão realiza sonho e confirma despedia

Cinco Olimpíadas depois, Fofão encerrou ontem a sua história de 17 anos dentro da seleção brasileira. O título olímpico marcou a despedida da levantadora, que agora irá se dedicar apenas aos clubes. "Nem em sonho imaginava ter um desfecho como esse. Parece brincadeira", disse ela, que durante a execução do hino nacional, na cerimônia de pódio, chorou sem parar.

"Passa um filme na sua cabeça. Você relembra de tudo, dos momentos bons e ruins. Agradeço muito a esse grupo por ter me feito recuperar a alegria de jogar", afirmou a paulista, de 38 anos, cujo nome de batismo é Hélia, mas recebeu o apelido por causa das bochechas grandes. Quanto à possibilidade de repensar a aposentadoria, foi enfática: "Não volto atrás."

Capitã e jogadora de confiança de Zé Roberto, Fofão ajudou a orquestrar a homenagem a Joycinha e Carol Gattaz, cortadas antes da Olimpíada – a meio-de-rede Thaísa ergueu um cartaz no pódio em que estava escrito que aquele ouro também era das antigas companheiras. "Elas merecem tanto quanto a gente", avaliou a levantadora.

O drama de Zé Roberto agora passa a ser encontrar uma substituta. Dani Lins, Fabíola e Ana Tiene aparecem em vantagem. "A Fofão é brilhante, fenomenal. Joga com alma na seleção brasileira, que é o que precisamos encontrar em outra atleta para ocupar o seu lugar", opinou o treinador. (CEV)

Acabou. Os fantasmas que perseguiam a seleção brasileira feminina de vôlei foram definitivamente derrubados. A equipe nunca mais poderá ser chamada de "amarelona". Zé Roberto não terá de continuar convivendo com perguntas capciosas e a inevitável comparação com Bernardinho. Mari, a "Mulher de Gelo", enfim, se desmanchou em alegria. E cobrou respeito, com um dedo indicador sobre a boca, pedindo silêncios aos opositores.

Tudo isso porque o Brasil é campeão olímpico, encerrando um período de sofrimento e decepções. A verdadeira redenção de um grupo castigado por cobranças e pressões.

A vitória de ontem, por 3 sets a 1 (25-15, 18-25, 25-13, 25-21), sobre os Estados Unidos foi o ponto final de uma campanha irretocável. Oito jogos e oito vitórias. Apenas um set perdido. É o primeiro título de relevância de uma geração que vinha se acostumando a quase chegar lá. E a ser perseguida por isso.

Havia sido assim em Atenas, há quatro anos. Um apagão no quarto set, quando o time vencia a Rússia por 24 a 19, decretou o revés inesperado, de virada, e o início do período turbulento. Sempre que chegava o momento de decisão – e isso tem sido uma tônica sob o comando de Zé Roberto – algo acontecia que a seleção não conseguia confirmar o favoritismo.

"Tirei um fardo das minhas costas", resumiu o treinador, enrolado com a bandeira brasileira durante a comemoração.

Foi assim no Mundial de 2006, novamente contra as russas. Não houve o mesmo descontrole da Grécia, mas outra vez as meninas desperdiçaram a oportunidade de levantar o troféu.

A síndrome continuou do Rio de Janeiro, ano passado, durante os Jogos Pan-Americanos. A medalha de ouro escapou no excesso de erros e no nervosismo de um time claramente superior a Cuba. Triunfo da concentração das caribenhas. "No Pan, a preparação não foi adequada, por isso perdemos", justificou a atacante Sheila.

Enquanto os colegas do masculino colecionavam título, as mulheres fechavam para balanço. Era o momento de o técnico Zé Roberto rever o planejamento e atacar as causas da instabilidade.

A primeira providência foi incorporar a psicóloga esportiva Samia Hallage à comissão técnica. A profissional, cuja viagem foi bancada pelo próprio treinador, conseguiu arrancar confissões das meninas impossíveis de serem reveladas a um homem, no caso o chefe Zé Roberto. A equipe ganhou uma amiga, que aos poucos foi colocando em ordem o pensamento das atletas. "A Samia foi fundamental para tudo isso acontecer", revelou a paulista Mari, radicada em Rolândia, no interior do Paraná. "As jogadoras ganharam um ouvido", acrescentou o técnico.

A convivência do grupo com o treinador melhorou. Os resultados voltaram a aparecer. O Gran Prix, o grande teste a poucos dias dos Jogos Olímpicos, acabou superado sem dificuldades. Em paz, a seleção estava pronta para encarar o desafio olímpico e apagar o vexame grego.

A consolidação da reviravolta pôde ser vista ontem em Pequim. Uma equipe vibrante, arrebatadora e audaciosa, que, desde o princípio, sabia o que queria. O choro ainda dentro da quadra reflete a emoção de quem, apesar do clichê, verdadeiramente deu a volta por cima. E pode contar para todo mundo que é campeã dos Jogos Olímpicos. O resto é passado. "Essa medalha de ouro vale muito", disse a veterana levantadora Fofão, se despedindo do uniforme verde e amarelo.

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