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Desde o início do ano, tem crescido a preocupação do governo e da opinião pública quanto à possibilidade de ataques terroristas durante os Jogos Olímpicos. Como demonstram os noticiários recentes, essa ameaça é cada vez mais real, mas, infelizmente, a atenção dada ao tema pela sociedade brasileira chegou tardiamente. Três são os fatores que elevam os riscos de um ataque terrorista no Brasil durante os Jogos.

O primeiro deles se refere às características do terrorismo. Trata-se de uma ameaça difusa, que pode se concretizar com meios diversos (aviões, armas leves, bombas ou até mesmo um caminhão, como vimos em Nice ) e variados níveis de organização (esforços bem coordenados – como em 11/09/2001 – ou atos realizados por apenas um indivíduo, como o que ocorreu na boate Pulse , em Orlando). Tais características tornam praticamente impossível detectar todas as formas de ataques terroristas e preparar-se para elas.

O segundo fator tem relação com os alvos mais comuns dos terroristas. O Global Terrorism Database , estudo da Universidade de Maryland que mapeou ataques terroristas ocorridos entre 1970 e 2014, demonstra que há uma grande concentração nos alvos desses ataques. Normalmente, a escolha dos terroristas ocorre com base em duas variáveis: a mensagem política que pretendem passar (atacam países envolvidos em conflitos armados ou que defendam valores contrários aos seus) ou a capacidade de atenção que o alvo pode gerar (países com elevada atenção da mídia internacional). Como o Brasil é um país que pauta sua inserção internacional pelo pacifismo, nunca fomos diretamente ameaçados pelo terrorismo. Agora, porém, a presença de cidadãos de diversos países e toda a atenção que a mídia internacional dará ao país nos torna um alvo em potencial, o que vem sendo demonstrado, por exemplo, pela prisão de 10 suspeitos de terrorismo em 21 de julho.

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Ao nos tornarmos um alvo em potencial, ganha destaque o terceiro fator que eleva o risco de um ataque terrorista ao Brasil: nossa grande vulnerabilidade ao terrorismo. Nossos mais de 7.000 km de costa e 16.800 km de fronteira são muito desprotegidos. Em artigo publicado na Gazeta do Povo de 16/01/11 (Como Controlar as Fronteiras? ), afirmei que um dos grandes desafios da gestão de Dilma Rousseff seria aumentar o nível de segurança de nossas fronteiras. Mais de cinco anos depois, a missão não foi cumprida. Apesar de iniciativas importantes, como as Operações Ágata e Sentinela, as fronteiras brasileiras continuam extremamente vulneráveis e a entrada de terroristas e armamentos por elas é bastante factível.

Além disso, o Brasil nunca prestou atenção suficiente para a construção de um adequado aparato de proteção contra ameaças. Apesar dos esforços das diversas agências que atuam nos setores de Defesa e Segurança, seus recursos são insuficientes. O Ministério da Defesa, por exemplo, recebe apenas 1,4% do PIB (índice menor que a média dos BRICS e dos principais países da América do Sul). O problema mais relevante, porém, é que esses recursos são mal aplicados. Mais de 70% do valor é destinado ao pagamento de salários, o que deixa pouco espaço para investimentos em equipamentos de alta tecnologia. Se esse dado já parece preocupante, é ainda mais alarmante o fato de que cerca de 48% desse orçamento vai para o pagamento de aposentadorias e pensões, ou seja, não contribui em nada para a nossa preparação contra ameaças presentes e futuras.

Por fim, ressalto que a contenção de ameaças como o terrorismo só ocorre com planejamento de longo prazo, o que dificilmente é realizado em um país que passa por constantes crises político-econômicas. Infelizmente, a ameaça terrorista é real e nossa preparação foi insuficiente. No que diz respeito à contenção do terrorismo durante os Jogos, o melhor a fazer é, como ocorrerá nas quadras e pistas, torcer.

Juliano da Silva Cortinhas, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília.
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