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Zico destaca a inteligência e a humildade de Alex, seu capitão no Fenerbahçe | CJ/JK/ Carlos Jasso
Zico destaca a inteligência e a humildade de Alex, seu capitão no Fenerbahçe| Foto: CJ/JK/ Carlos Jasso

Zico talvez tenha sido o jogador mais ovacionado do futebol brasileiro, por ser ídolo da apaixonada e gigante torcida do Flamengo quando o Maracanã recebia fácil 100 mil pessoas. Mas até o Galinho de Quintino se impressionou com a idolatria da torcida turca com Alex no período em que o comandou no Fenerbahçe, entre 2006 e 2008. "Eles faziam um barulho ensurdecedor para ele", revela o ex-camisa 10 da seleção à Gazeta do Povo, por telefone, da Índia, onde hoje treina o FC Goa, da recém-criada Liga Indiana.

Naquela época, Alex já estava acostumado com o fanatismo dos torcedores do clube de Istambul. Mas não com a possibilidade de ser treinado pelo seu maior ídolo. O craque que Alex imitava quando era criança nos campinhos de Colombo é, até hoje, com o meia do Coritiba prestes a se despedir dos gramados, sua grande referência. Ao ponto de, conforme revela Zico nesta entrevista, ter gerado um nervosismo no jogador nos treinos. Diante de Zico, Alex virava o torcedor.

Como foi trabalhar com o Alex?

O Alex foi o melhor jogador que dirigi. Ele é extraordinário, fora de série. Além de ser muito profissional, desequilibra dentro de campo. Vivemos bons momentos no Fenerbahçe. Mas no começo ele estava meio intimidado, porque sempre declarou que sou o ídolo dele.

Ele tinha receio de falar com você?

Tinha um pouco de vergonha por eu ser o cara em quem ele se espelhou. Era a mesma coisa que eu sentia no Flamengo com o Dida [atacante do Flamengo nos anos 50 e 60, maior artilheiro do clube pré-Zico], meu ídolo. Eu também tremia quando o via na Gávea.

E como você fez para quebrar esse gelo?

Tentei me aproximar do Alex, para que ele me visse como treinador, que não misturasse as coisas. Quando a gente quebrou isso, o trabalho engrenou muito rápido. E no ano seguinte à minha chegada ao Fenerbahçe eu botei o Alex de capitão.

Por que você escolheu o Alex como capitão?

Quando eu cheguei, o capitão era um turco que logo depois parou de jogar. Aí eu tinha de escolher alguém. E como o Alex já tinha um peso grande dentro do Fenerbahçe e tinha acabado de jogar uma Liga dos Campeões muito boa [ganhou a bola de prata da temporada 2004/05], optei por ele.

Como você o preparou para essa função?

Fui mostrando que ele tinha uma importância muito grande no time, não só com os jogadores, mas com a torcida. E o Alex é muito inteligente, logo captou isso. Até porque ele sabia a diferença de quem estava falando, porque eu passei por isso no Flamengo. Ele foi vendo a importância que tinha não só dentro de campo e aceitou muito bem tudo isso.

Qual foi a mudança que você notou no Alex quando ele recebeu a braçadeira?

Ele passou a falar muito mais dentro de campo, mas também a se envolver mais com os problemas dos jogadores. Em um elenco é fundamental ter um capitão de personalidade, até pelas reivindicações do grupo, como na hora de discutir uma concentração, uma premiação. Virou referência. Tanto que hoje é líder do Bom Senso.

Como você se sente com as constantes declarações de que você é ídolo dele? A família do Alex, por exemplo, afirma que quando ele era criança ele vivia imitando você.

Fico muito orgulhoso, porque acho que fiz bem em ser um exemplo para ele. Fui uma boa referência a tudo o que ele fez na carreira. É a busca de o aluno ser melhor do que o professor. A gente passa na vida e tem de deixar algo importante. Tenho orgulho disso.

Você repara no futebol do Alex algo parecido com o seu estilo?

A visão de jogo é igual, de dominar a bola e saber o que vai fazer. Mas tinha muitas coisas que ele via no campo que eu, como treinador, não via da beira do gramado.

Foi mais fácil para você se adaptar ao futebol turco com o Alex no time?

A possibilidade de um trabalho bom com um cara como ele no time é sempre muito grande. O Alex facilitaria o trabalho de qualquer treinador. É fácil trabalhar, porque não tem soberba. Ele, assim como eu, nunca foi de dizer "eu fiz". Sempre jogou em busca de resultado para a equipe. E a grande estratégia de um treinador é fazer o cara evoluir, fazer com o que o talento dele se reflita em resultado para a equipe. Tentei fazer com o Alex o que o Telê [Santana], que foi meu melhor treinador, fazia comigo.

A idolatria da torcida turca com o Alex é enorme. Você se lembra de algum momento marcante?

A saudação que a torcida faz com todos os jogadores antes da partida, no aquecimento, é sempre animada, emocionante. Mas com o Alex era diferente. Era um entusiasmo ensurdecedor. Para o Alex eles não só gritavam mais alto, como quem geralmente ficava quieto, por ele, entrava na onda.

Você acha que foi uma injustiça o Alex não ter jogado uma Copa?

Foi. Era para ele estar na seleção de 2002. Mas ele nunca reclamou .

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