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Reformado pelo governo de Minas, o Mineirão, inaugurado neste ano, ganhou uma série de itens de conforto e segurança | Washington Alves/ Reuters
Reformado pelo governo de Minas, o Mineirão, inaugurado neste ano, ganhou uma série de itens de conforto e segurança| Foto: Washington Alves/ Reuters

Planejamento

Atlético sai na frente na disputa para tirar mais receita do estádio

Na disputa para tirar o máximo de receita do seu novo estádio, o Atlético sai na frente. Essa é a avaliação do economista Fernando Ferreira, da Pluri Consultoria, empresa especializada em esportes. Para ele, os modelos de construção e gestão da Arena da Baixada permitem ao Furacão ter grande lucro com sua casa reformada.

"Quem soube melhor lidar com a construção do estádio foi o Atlético, que conseguiu uma coisa incrível: dar um nó nas grandes construtoras e tocar a obra sozinho", explica Ferreira.

Segundo o economista, Atlético e, até certo ponto, Internacional, serão os únicos clubes donos do próprio nariz na administração de suas arenas. Mesmo Corinthians, Palmeiras e Grêmio, que terão modernos estádios particulares, estão comprometidos, respectivamente, com Odebrecht, WTorre e OAS.

"No Rio, Minas, Bahia, Ceará e Pernambuco [estádios públicos] os clubes serão inquilinos, então fica complicado saber o que vai acontecer com eles. Como o Flamengo, por exemplo, vai viabilizar um plano de sócio-torcedor se não será ele o administrador do Maracanã?", questiona Ferreira.

O Atlético fechou uma parceria com a AEG para gestão da Arena. A empresa norte-americana, segunda maior do mundo no ramo do entretenimento, receberá US$ 40 mil mensais até a reinauguração da Baixada e depois de 9% a 12% das receitas do estádio.

49%

É a taxa média de ocupação dos estádios durante o Campeonato Brasileiro. Índice que salta para 92% na Primier League, a Primeira Divisão inglesa. Os clubes nacionais apostam em aumentar a presença de público com os superestádios, elevando assim a renda de um jogo. Em 2011, o "matchday" correspondeu a 8% da receita anual dos clubes brasileiros. Para efeitos de comparação, na Europa, a média salta para 20%

Ao longo da década passada, os cinemas de rua das grandes cidades brasileiras foram fechando um a um, engolidos pelas modernas salas montadas por redes internacionais em shoppings. Houve uma gritaria natural dos saudosistas, mas um número bem maior de pessoas aderiu aos espaços com poltronas confortáveis, som digital, ar-condicionado e lanches vendidos em carrinhos que circulam entre os corredores.

A comparação com o cinema é usada por Fernando Trevisan, especialista em marketing estratégico e gestão do esporte, para projetar o futebol brasileiro dos superestádios. Até a Copa do Mundo de 2014, o Brasil terá 15 estádios de nível internacional – os 12 do Mundial, o reformado Morumbi e as novas casas de Grêmio, aberta neste mês, e Palmeiras – e o "efeito cinema" deve desenhar um novo cenário no mais popular esporte nacional. Um cenário com mais conforto, expectativa de receitas maiores, ingressos potencialmente mais caros e a entrada de gigantes de outros segmentos no mercado brasileiro.

"O primeiro impacto será para o torcedor, que é tão maltratado no Brasil. Ele terá à sua disposição uma série de novos estádios de nível mundial, o que naturalmente vai atrair um público que está afastado", aposta Trevisan." O efeito inicial é de shopping abrindo em cidade pequena. "O estádio vai encher pela empolgação do torcedor. O que vai acontecer depois, é outra história. Depende do serviço que você vai vender", acrescenta o economista Fernando Ferreira, da Pluri Consultoria.

É exatamente esse "depois" que irá determinar o impacto real dos novos estádios. O primeiro desafio será aumentar a receita dos dias de jogo – bilheteria e consumo nas lojas, lanchonetes e restaurantes. Em 2011, o "matchday" correspondeu a 8% da receita anual dos clubes brasileiros. Na Europa, a média é de 20%. Uma diferença que se explica também pela taxa de ocupação dos estádios – 49% no Brasileirão e 92% na Premier League.

Sem experiência na gestão de arenas multiuso, clubes, estados e municípios estão recorrendo a empresas de outros segmentos ou estrangeiras para estabelecer parcerias – quando não botar a praça esportiva em pé. OAS, Andrade Gutierrez e Odebrecht criaram braços de administração de arenas para gerir os estádios que construíram. Oriunda do ramo de ingressos, a BWA fez o mesmo para tocar o Castelão. Atlético, Palmeiras e o governo de Pernambuco fecharam acordos com a AEG, segunda maior empresa de entretenimento no mundo, com vasta experiências em arenas nos Estados Unidos. A Amsterdam Arena presta consultoria ao Grêmio. Uma série necessária de novos atores de peso para o futebol brasileiro.

"É um conceito totalmente novo. Não é nem estádio nem shopping. É uma mistura das duas coisas. Por isso o ideal é firmar parcerias com empresas estrangeiras para captar o conhecimento das arenas do exterior", afirma Trevisan.

Uma experiência importante, mas que precisa ser adequada às peculiaridades locais. Por isso, qualquer projeção ainda é bastante incipiente tanto em termos de receita quanto de custos. "Um mundo novo começa agora. É precipitado falar em despesas e receitas", diz Eduardo Antonini, presidente da Grêmio Empreendimentos, que prefere esperar três meses para ajustar a conta da operação. Ainda assim, o clube gaúcho projeta arrecadar R$ 100 milhões no primeiro ano do novo estádio.

Se receitas e custos são difíceis de prever, outras mudanças parecem mais claras. Bem geridos, os estádios tendem a gerar receitas maiores, que se revertidas ao futebol devem reordenar forças no futebol brasileiro. Neste cenário, clubes como Vasco, Santos, Coritiba e Paraná, donos de estádios antigos, correm o risco de ficar para trás.

Outro ponto é o preço dos ingressos. As salas modernas fizeram o público dos cinemas brasileiros saltar, entre 2002 e 2011, de 90 milhões para 144 milhões e a arrecadação crescer 172%. No mesmo período, o ingresso ficou 71% mais caro. No futebol, a tendência é o tíquete nas novas arenas também encarecer.

"Os ingressos já aumentaram bastante no Brasil, mas você terá um público consumidor disposto a pagar mais se for efetivamente receber um serviço de mais qualidade", diz Trevisan, que, ainda assim, evita cravar uma elitização geral nas arquibancadas. "O Grêmio tem um foco nos camarotes como principal fonte de receita para, por exemplo, poder cobrar um ingresso mais barato na geral", compara.

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