Pais sofrem para ver filhos na água

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Ver o filho ganhar uma medalha olímpica foi um prêmio para os pais de César Cielo, César Augusto e Flávia, que viveram uma verdadeira via-crúcis para estarem presentes no Cubo D’Água. E segundo eles, não foram os únicos. Vários pais de atletas da natação brasileira viveram momentos de extrema tensão em Pequim por estarem tão perto dos filhos, mas sem poder vê-los no momento mais importante de suas carreiras.

César, que é médico pediatra e secretário de saúde de Santa Bárbara D’Oeste, cidade a 130 quilômetros de São Paulo, na região de Campinas, conta que refinanciou o carro para poder ir a Pequim com a mulher e a outra filha, Fernanda, de 17 anos, que também é nadadora. "Recomprei o meu carro", conta.

O problema maior, no entanto, aconteceu na hora de adquirir as entradas para as competições no Cubo D’Água, as mais disputadas da Olimpíada por causa da presença de Michael Phelps nas piscinas. A família conseguiu comprar as entradas para a prova de 50 metros livre, mas para os 100 metros do mesmo estilo, na qual Cielo levou a medalha de bronze, Flávia conta que tentaram adquirir pela internet e depois recorreram a uma amiga que morava na China, mas não tiveram sucesso.

Sobrou a opção do cambista. "É humilhante. Você pergunta se tem ingresso para a natação aí eles respondem: ‘Só com muito dinheiro’. Você pergunta quanto e eles dizem 10 mil (yuans, o equivalente a cerca de R$ 2.500). Você tenta negociar e eles simplesmente te dão as costas e vão embora", conta o César pai.

Segundo ele, também houve uma promessa do presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Coaracy Nunes, de conseguir as entradas que não se concretizou. "Me desculpe o Coaracy, mas você prometeu ingresso e não cumpriu." O pai de Cielo disse que se sente à vontade para criticar, pois foi quem formou e, há até pouco tempo, era quem sustentava o filho, no conhecido sistema de "paitrocínio".

A mãe de Joanna Maranhão, Terezinha, só conseguiu entrar porque a mulher de Rodrigo Castro, sensibilizada com o sofrimento, deu seu ingresso a ela. "Uma mãe ficou andando com um cartaz em inglês e mandarim por Pequim dizendo que era mãe de atleta e precisava de um ingresso", relata César Augusto. "Outra começou a chorar na frente do Cubo D’Água ao ver que não conseguiria entrar e uma japonesa, que ficou com pena, resolveu vender por US$ 90,00 e ainda queria voltar o troco para US$ 100."

César Augusto só conseguiu entrar no Cubo para ver o filho ganhar medalha com a ajuda da TV Globo, por meio de uma produtora da empresa que está em Pequim e conseguiu um par de ingressos. "O mais triste é você entrar e ver as famílias reunidas com placas, tudo organizado. Você vê ‘Kitagima’s family’ (família do nadador japonês Kosuke Kitajima), ‘Ryan Lochte’s family’, tudo organizado, e você passou por todo aquele sofrimento."

Coaracy Nunes preferiu não polemizar com César Augusto, mas deixou claro que não tem qualquer interferência nos sistema de distribuição de ingressos da Olimpíada. O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) também se isentou. Diz que não possui nenhum sistema de distribuição de ingressos para parentes de competidores. O único benefício que controla é a distribuição de entradas exclusivas para atletas, encaminhadas pelo Comitê Organizador dos Jogos de Pequim (Bocog), e que só podem ser usadas com credenciais.Na delegação dos Estados Unidos, as informações são de que a maior parte dos atletas que estão em Pequim comprou pacotes de viagem para seus familiares pela empresa credenciada pelo Comitê Olímpico Americano (Usoc), chamada Jet Set. No Brasil, Tamoio é a credenciada pelo COB.

Isso tudo, no entanto, já é passado para a família Cielo. Felizes da vida com o sucesso do filho, nem ligaram para a chuva que caía na saída do Cubo. "Quer saber? Vamos lavar a alma depois de tudo", decretou César Augusto, antes de sumir ao longe, satisfeito, de mãos dadas com Flávia, nem ligando para o aguaceiro no caminho.