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Manoel Fernandes Alves é uma espécie de Dr. Jekyll do futebol. Assim como o personagem de "O médico e o monstro", Maneco – apelido do radialista de 61 anos – também se transforma. A diferença é a natureza da metamorfose. Enquanto o pacato médico da literatura vira uma criatura violenta ao ingerir uma fórmula que ele próprio inventou, o comportamento de Manoel depende dos resultados do Paraná.

"Pela maneira como eu abro o portão na volta de um jogo, minha mulher já sabe se meu time ganhou ou perdeu", admitiu Maneco, uma das figuras mais conhecidas na Vila por sua participação ativa no dia-a-dia do clube de coração.

Irritação, mau humor e abatimento são algumas das características da versão "monstro" do sargento da reserva. Além de revelar que o amor desmedido pelo time prejudica sua vida familiar, sua carreira no rádio, iniciada em 1968, também sente os reflexos do fanatismo assumido. "Por saberem que trabalho por qualquer salário, que não faço isso por dinheiro, me exploram", explicou.

Sua paixão clubística começou em 1967, quando se associou ao Água Verde, que logo sagrou-se campeão. Foi diretor do Pinheiros e, desde a fusão com o Colorado, é conselheiro vitalício. O enorme vínculo afetivo unido ao acesso à beira do gramado como jornalista renderam boas histórias.

Na invasão de campo de Eurico Miranda pelo Brasileiro 99, em São Januário, quando o jogo estava 1 a 1 e dois vascaínos tinham sido expulsos, ele quase correu para barrar o cartola. "Me arrependo de não ter peitado ele", lamenta.

Sua passagem mais famosa ocorreu em 1997, no último título estadual do Tricolor. Jogando em Cambará contra o Matsubara, o gol da vitória por 1 a 0 começou com ele. Graças ao resultado, o time ficou três pontos à frente do Atlético no octogonal final e sagrou-se campeão. "No fim da partida, os gandulas tinham desaparecido. Joguei o equipamento fora e peguei uma bola que saiu do campo. Devolvi para o Ageu e naquele lance saiu o gol", resumiu.

Neste Paranaense, justamente contra a Adap, no Pinheirão, nova participação. Na confusão de um pênalti não marcado pelo árbitro em Maicosuel, mas assinalado com veemência pelo bandeirinha, Maneco pressionou o juiz, da linha de fundo. Disse que ele deveria marcar o pênalti para salvar sua atuação. "Os caras da Adap até tentaram me agredir", diz.

Com a dedicação dele, certamente são poucos. Sexta-feira, durante o último treino antes da viagem do elenco a Maringá, ele estava na frente do estádio. Ficou a manhã toda em uma mesa revestida com a bandeira tricolor vendendo convites para um jantar – idealizado por ele - de apoio às obras de reforma da Vila Capanema. E, como sempre, sorrindo.

Sandro Gabardo

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Campo Mourão – Se depender da ajuda "divina", da quantidade de figas que são feitas durante os jogos e da paixão do gerente de posto de gasolina João Barbosa de Jesus, 59 anos, a Adap sai vitoriosa no confronto com o Paraná, hoje, em Maringá. Até para o sobrenome o torcedor pretende implorar e rezar pela conquista de mais uma vitória.

Jesus, como é conhecido pelos amigos e no local de trabalho, é um daqueles torcedores que faz tudo e é capaz de deixar tudo, inclusive o trabalho, para "sofrer" no campo. "Quando o time está ganhando sofro de tanta alegria e quando está perdendo, tenho vontade de entrar em campo e ajudar a marcar o gol", comenta.

No dia seguinte à vitória sobre o Coritiba, Jesus chegou ao trabalho sem voz e ainda emocionado. ""Transformo-me em um garotão de 25 anos e aí falta voz. Ninguém entendia o que eu estava falando, acho que extrapolei". Ele lembra que a hora de maior desespero aconteceu na cobrança dos pênaltis. "Quando o Gildásio errou o chute quase tive um infarto, mas depois o coração voltou ao normal com a vitória".

Baiano de Iaçuba e morador de Campo Mourão desde 1961, Jesus, que sempre teve paixão por futebol, adotou o time em 2002, início da Adap na fase profissional, e de lá para cá, segundo ele, a equipe só trouxe alegria. "A maior alegria veio na vitória contra o Coritiba e a vaga para a final no Campeonato Paranaense", afirma Jesus, que não perdeu uma partida sequer no Roberto Brzezinski.

O torcedor assiste aos jogos em cima de uma estrutura de concreto próximo as cabines de rádios. "Aqui também eu ouço os comentários dos radialistas", conta Jesus. Defensor do time em todas as horas, não admite comentários dos torcedores contra a equipe. "Se o time está perdendo tem de incentivar e não falar mal", observa Jesus.

O fanatismo pelo time é tamanho que, caso não tenha dinheiro para ir a Maringá de carro ou ônibus, pretende encarar a pé os 91 quilômetros entre as duas cidades. "É uma longa caminhada, mas eu vou ver meu time do coração", diz ele, para justificar a disposição para cumprir o equivalente a mais de duas marastonas pelo time. "Quem era o ADAP há alguns anos? Hoje todo mundo conhece essa equipe que derrotou dois grandes times da capital e vai trazer o título para Campo Mourão". Jesus arrisca ainda pela superioridade técnica da equipe, o bom trabalho do técnico Gilberto Pereira e a brilhante participação do goleiro Fábio, os resultados dos próximos jogos: "O título está mais para o nosso lado. Em Maringá vai ser 2 a 1 e em Curitiba 1 a 0."

Dirceu Portugal

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