Saúde
Juraci critica obsessão por emagrecimento entre triatletas de ponta
Com 1,87 m de altura e 74 quilos, Juraci Moreira conta que a balança tem sido um fator decisivo para a seleção dos melhores atletas. O que não significa a opção mais saudável para o alto rendimento. "Há uma pressão para que os atletas estejam cada vez mais magros. Eu já cheguei a competir com 71 kg e 4% de gordura", fala.
Com menos peso para carregar, teoricamente ficaria mais fácil nadar e correr, mas, a perda de peso em excesso, pode resultar em enfraquecimento. "Não concordo com tanta restrição. Talvez tenha até me machucado por causa de tanta restrição, não podia comer, tinha de me manter magro. Tem uma atleta britânica que desistiu do esporte porque ficou anoréxica", lembra.
Juraci se refere à Hollie Avil, 22 anos, e que era cotada pelos ingleses para defender a Grã-Bretanha na Olimpíada deste ano. Mas ela anunciou a aposentadoria no ano passado. Ela contou, em depoimento ao jornal The Telegraph, em maio, que foi um comentário do seu técnico enquanto competia o Mundial Junior (em 2006) que desencadeou sua desordem alimentar. "Me disse que eu deveria pensar em perder peso se eu quisesse correr mais rápido. A partir daquele dia, eu sempre pensava sobre o que eu colocava na boca. Comida transformou-se em inimiga", relata.
Juraci nas olimpíadasEsta será a quarta vez que o triatlo fará parte do programa olímpico. Em Londres, 110 atletas estarão na disputa pelos pódios no masculino e feminino; destes, três são brasileiros. Mas não são as presenças que chamam a atenção e sim uma ausência.
O curitibano Juraci Moreira será a baixa na seleção brasileira. Ele estreou na Olimpíada de Sydney (2000), aos 21 anos, quando a prova composta de por natação, ciclismo e corrida também debutava no evento. E também participou de Atenas (2004) e Pequim (2008).
Ele é o quarto melhor brasileiro do ranking mundial, na 83.ª posição, sendo superado por Colucci, Sclebin e Bruno Matheus.
O passaporte carimbado para o evento exigia que ficasse, no máximo, no 55.º lugar e sendo até o segundo melhor brasileiro para competir no trajeto criado no Hyde Park, na capital inglesa, como um dos veteranos.
"Apenas um ou dois atletas em Londres estiveram nas outras três edições. Eu poderia ter sido o terceiro", diz o triatleta, de 33 anos, sobre o objetivo não concretizado. A queda no ranking, explica, foi pelas constantes lesões e "algumas faltas de sorte" em algumas etapas de provas.
"Terminei bem 2011 e comecei este ano empolgado. Mas uma inflamação no joelho esquerdo me incomodou toda a temporada", lamenta.
Ainda amargando a ausência nos Jogos, experimentou dias de descanso, livre da obsessão olímpica que cultivou nos últimos 22 anos (quatro ciclos para os Jogos). "Não consigo lembrar muito bem a última vez que tive férias..."
A frase solta poderia até indicar que ele começa a se afeiçoar ao sossego. Mas o triatleta rechaça qualquer sinônimo de aposentadoria. Mesmo assistindo à prova olímpica no conforto do sofá: "Prefiro não acompanhar ao vivo", diz.
Ele não nega que sentirá um incômodo em não preencher no braço esquerdo o espaço reservado para a quarta tatuagem Juraci estampou os logos dos Jogos de Sydney, Atenas e Pequim. Mas aproveita o intervalo dos treinos para começar outros planos.
Um deles é poder experimentar-se em outras versões do triatlo, como o X-Terra ou distâncias mais longas que a versão olímpica. Também concilia os treinos com projetos de divulgação da modalidade na parceria com o ex-nadador Gustavo Borges. Juraci quer ensinar não só as técnicas do triatlo como dividir estratégias como a de conquistar e manter patrocinadores. Não bastasse isso, aos 33 anos, pensa, com a esposa Bella, em ampliar a família.
O paranaense destaca o desgaste que sentiu nos últimos anos, exigência da evolução da modalidade. "Cada vez mais o triatleta é exigido. Não concordo com isso porque acaba estressando", critica.
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