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A surpreendente presença de Gana nas oitavas-de-final da Copa do Mundo da AlemanhA se deve muito a Carlos Alberto Parreira. Da mesma forma, o sucesso do treinador brasileiro – e adversário na terça-feira, às 12 horas – tem uma boa parcela de "culpa" fincada no país africano.

Foi a partir de uma troca de experiências no fim dos anos 60 que se criou tanto a base do futebol ganês como uma parcela da filosofia de trabalho vitoriosa utilizada por Parreira nos cerca de 40 anos de uma carreira que, por enquanto, tem como ápice a conquista do tetracampeonato mundial do Brasil, em 1994.

A ligação entre Gana e o treinador foi curta, de 1967 e 68, mas tão marcante que em seu livro Formando Equipes Vencedoras, produto de seu depoimento ao jornalista Ricardo Gonzalez, lançado pouco antes do início da Copa, Parreira afirma: "Ali, aprendi a ser homem".

Em contrapartida, pode-se dizer que a partir daquele momento, o futebol ganês viveu o seu primeiro amadurecimento rumo a uma real profissionalização que chega, em 2006, ao ponto mais alto.

Preparador físico e técnico de equipes de base do São Cristovão, no Rio de Janeiro, por meio de um intercâmbio entre Brasil e Gana, Parreira, então com 24 anos, aceitou o desafio de treinar a seleção africana e levar para lá um pouco da magia do já renomado futebol canarinho. O treinador deixou a família por um sonho, casa, comida e US$ 100 mensais.

Paralelamente, também dirigia a equipe local do Kotoko. Período no qual conseguiu economizar cerca de US$ 2.500 que reinvestiu inteiramente no futebol."A ‘fortuna’ que acumulei, preferi investir em cursos na Alemanha e estágios na Inglaterra a voltar ao Brasil e comprar um carro, por exemplo", conta na publicação, que tem como foco principal dar lições sobre liderança e motivação.

Nesse caso, foi também em Gana que Parreira viveu as primeiras experiências na área. Para justificar a sua máxima de que "sem conhecer o perfil dos liderados não se deve nem começar a pensar em comandar nada", o técnico conta como conquistou a confiança de seus jogadores logo no primeiro encontro: simplesmente sentou para jantar com o elenco. Na época, treinador da seleção era um cargo público, e o técnico nunca ficava junto dos jogadores. Chegava, dava o treino e caía fora.

Outra medida tomada por Parreira na época foi proibir o sexo no local de trabalho, o que era corriqueiro para os ganenses. O que parece algo óbvio hoje, para os africanos significou o primeiro contato com o termo concentração e teve um resultado quase imediato dentro de campo. Provocou uma grande melhora física dos atletas que culminou com a chegada de Gana às finais das copas africanas de seleções e de clubes – já que a maioria do atletas da seleção eram também do Kotoko.

Mesmo com o sucesso e a insistência dos ganeses pela permanência do brasileiro, contudo, Parreira decidiu voltar ao Brasil em meados de 68. Ele achava que não tinha mais a contribuir e que era necessário dar continuidade aos seus planos. O próximo grande passo foi ser observador e preparador físico da seleção brasileira em 70.Mas aquele período na África ainda se mostraria mais importante no tricampeonato mundial: foi com inovação aprendida nos cursos feitos na Europa por Parreira, os slides que fazia das equipe adversárias, que Zagallo montava o esquema brasileiro para cada jogo no México.

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