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Terreno na zona norte de Londrina no qual o Cincão planeja construir seu estádio com capacidade para 5  mil torcedores: clube fundado em 2010 espera conquistar o apoio dos moradores da região para minimizar o prejuízo e melhorar o desempenho da equipe dentro de campo | Gilberto Abelha/ Jornal de Londrina
Terreno na zona norte de Londrina no qual o Cincão planeja construir seu estádio com capacidade para 5 mil torcedores: clube fundado em 2010 espera conquistar o apoio dos moradores da região para minimizar o prejuízo e melhorar o desempenho da equipe dentro de campo| Foto: Gilberto Abelha/ Jornal de Londrina

Exemplo

Ambição move novato de Londrina

Com exceção do Iguaçu, grande parte dos novos clubes surgem com o mesmo intuito: formar atletas e vendê-los. O percurso entre as duas pontas, contudo, normalmente é longo e custoso.

O Cincão foi fundado em 2010. A ideologia, segundo seu pre­­si­­den­­te, Gilberto Ponce, é a formação de atletas com custo baixo. O clube subiu para a Segunda Di­­vi­­são usando prioritariamente jogadores criados na base. E planeja, dessa forma, chegar à Série Ouro em 2014.

Até lá, além dos gastos de um time que inicia do zero (ver tabela), planeja construir seu estádio na Zona Norte de Londrina e solidificar de vez o clube no cenário paranaense. A praça esportiva teria capacidade para 5 mil pessoas, custaria R$ 2 milhões e serviria para criar uma identificação com os moradores da região.

Com o torcedor, a direção do Cincão imagina diminuir os prejuízos e melhorar o desempenho em campo. Até lá, o clube estima ficar no vermelho em cerca de R$ 1 mi­­lhão, somando todas as temporadas. Só no ano passado, na Terceira Divisão, o prejuízo foi de R$ 200 mil. "Até conseguirmos organizar totalmente o clube, contudo, fica difícil explorar outras formas de receita", analisa Ponce. "Por enquanto, são só gastos."

A rodada inaugural do Campeonato Paranaense 2012 está marcada para o dia 22, daqui a menos de duas se­­ma­­­­nas. Mas, para a Federação Para­­naense de Futebol (FPF) e os clubes a largada já foi dada. É exatamente na entressafra das competições que a en­­tidade consegue obter seu maior faturamento. No caso dos clubes, a ba­­­­­­lança se inverte: sem entrar em campo, acumulam gastos e prejuízos.

Para a entidade, o período é sinônimo de sobrevivência. São as taxas de registro e transferências de atletas, alvarás de funcionamento, certidões, alterações cadastrais, entre ou­­tras, a principal fonte de renda da FPF. Nos últimos dois balancetes apresentados, por exemplo, foi esse o item que garantiu o fechamento positivo das contas.

INFOGRÁFICO: Veja as despesas para se criar um time no estado

"Teoricamente [o começo do ano] é o melhor período [de arrecadação]. Mas ainda temos penhoras nas rendas. No borderô, ultimamente, 70% do que viria para a Federação ainda é blo­­queado, sobram apenas 30%", diz o presidente da FPF, Hélio Cury.

Por essa dívida – grande parte decorrente de ações judiciais ligadas ao Pinheirão – a gestora do futebol local se diferencia das outras federações por um fato curioso: ganha mais com burocracia do que com os 10% a que tem direito na renda dos jogos no estado. Tanto em 2010 co­­mo em 2009 o "cartório" da entidade recebeu pouco mais de R$ 1,3 milhão com esse tipo de cobrança.

A "anormalidade" causa a acusação de que este seria o motivo da FPF manter um calendário tão ex­­tenso durante o ano. Assim, ganharia mais com as transferências de atletas de um clube para outro entre seus próprios filiados. De acordo com o site da entidade, ela realiza 17 competições nas categorias profissionais, amador, base e feminino por ano. Nas contas de Cury, são entre 80 a 100 clubes filiados.

"Não existe isso. A federação não aumenta as taxas faz três anos. Con­­gelamos exatamente para ajudar os clubes", justifica. "Se eu colocar to­­das as divisões juntas, morre tudo pelo resto do ano. Tem de ter bom senso." Na contramão do fluxo de caixa da federação estão os clubes. En­­quanto a bola não rola, os gastos são protagonistas de dívidas suficientes para deixar boa parte das equipes no vermelho pelo restante da temporada.

"Ano passado, tive um prejuízo de R$ 140 mil", reclama Irno Picinini, presidente do Toledo, que retorna à Primeira Divisão em 2012.

Para o Toledo, como para boa parte das equipes do Paranaense, os gastos no período que precede a competição são um verdadeiro tiro no escuro. E o limiar entre o lucro e ônus se reflete quase sempre no desempenho de cada time nas primeiras rodadas da competição.

"Se a equipe entra nos eixos logo no começo, o estádio enche, a cidade apoia e dá tudo certo. Mas, se não en­­grenar, não tem jeito", analisa Pici­­ni­­ni, que conta com o apoio de empresários da região para manter o Toledo.

O clube tem estrutura invejável e orçamento grande (R$ 1,5 milhão) para uma equipe do interior. Mas, mesmo em mínimas condições, o custo para se colocar uma equipe em campo na Terceira Divisão, onde tudo começa, fica em torno dos R$ 300 mil.

O caso do Iguaçu Agex FC Ltda exemplifica bem a situação. O time de União da Vitória – juntamente com o Cincão, de Londrina – é o clube profissional mais novo do estado. Disputa a Segunda Divisão, mas foi criado em 2010, justamente porque o time da cidade, a Associação Atlética Iguaçu, fechou as portas após pendências fi­­nanceiras com a própria FPF. Depois de cair em campo para a Segunda Di­­visão; pela dívida foi rebaixado sumariamente pela entidade à Terceirona, onde fechou as portas. A solução encontrada para não deixar a cidade – que sempre levou um bom público ao Estádio Antiocho Pereira – sem futebol foi recriar o Iguaçu como uma empresa.

"Formar um time é a coisa mais fácil de se fazer, difícil é federá-lo", afirma Odenir Borges, presidente do Iguaçu. Ele gastou mais de R$ 100 mil apenas com filiação. Ou­­tra reclamação são as exigências para os estádios, que são as mesmas para a Primeira e Terceira Divisão. "Quando tivemos de formar o Iguaçu Agex, só em taxas para a Fe­­de­­ração e a CBF foram R$ 105 mil. Se quisermos utilizar nosso estádio, teremos de fazer adaptações que custarão cerca de R$ 200 mil."

Para a elite do futebol estadual, apenas Coritiba, Atlético, Londrina e Iraty não devem ter sofrer para arcar com as despesas burocráticas.

A Federação Paranaense de Fu­­tebol justifica que o alto preço para a criação de uma nova equipe profissional seria um dispositivo para evitar os chamados "times de empresários". Clubes sem identificação com torcida ou cidade, que alugam estádios para jogar e só servem de vitrine para seu dono vender jogadores.

Exemplo recente foi o Real Brasil, fundado pelo empresário Aurélio Almeida no começo dos anos 2000, hoje está inativo e faz parte do folclore do futebol paranaense. Em certo momento, chegou a habitar os quartos de um Pinheirão em vias de ser abandonado.

"Queremos clubes novos, mas que fiquem em suas cidades. Não forasteiros. Não somos contra empresários sé­­rios, o que não pode é aventureiro que a cada dia está em um lugar e sai dando problema para a cidade... Dei­­xa dívida no hotel, no transporte, restaurante...", afirma Cury, que aproveita para cutucar Onaireves Moura, seu antecessor. "Antigamente, se gabavam de que o FPF tinha o maior número de times amadores do Brasil. De que adianta se for pôr no papel e não sobrar meia dúzia?"

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