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Miguel de Oliveira (primeiro à esquerda) adotou Londrina como casa e ajudou jovens da cidade a conhecer o boxe | Reprodução / Confederação Brasileira de Boxe
Miguel de Oliveira (primeiro à esquerda) adotou Londrina como casa e ajudou jovens da cidade a conhecer o boxe| Foto: Reprodução / Confederação Brasileira de Boxe

O boxe londrinense está órfão. Miguel de Oliveira, o principal batalhador e divulgador da modalidade na cidade, faleceu nesta quarta-feira pela manhã, aos 66 anos, depois de lutar por anos contra os efeitos colaterais de um transplante de rins e de ter ficado mais de três meses internado no Hospital do Coração. O enterro foi realizado nesta quinta-feira, no Cemitério João XXIII, na área central.

Entre os feitos de Miguel como treinador de várias gerações de boxeadores estão quatro títulos brasileiros (dois profissionais e dois amadores), dezenas de estaduais (amador e profissional), a criação da Associação Londrinense de Boxe (em 1975) e aulas ministradas a mais de mil alunos, incluindo alguns em situação de risco.

A academia dele passou pela Vila Nova, ruas Maranhão e Sergipe, e há 14 anos está instalada sob as arquibancadas descobertas do VGD, na Rua Jorge Casoni. Desde 1976, Miguel de Oliveira era diretor técnico da Federação Paranaense de Pugilismo.

O grande boxeador parte sem conseguir realizar dois sonhos: a criação de um ginásio exclusivo para o boxe e a publicação de um livro – esta obra, porém, pré-intitulada "Minha Passagem Pelo Boxe", ainda pode ser finalizada. "Tínhamos que ter uma praça [ginásio] própria para a prática do boxe, onde os praticantes e o público se identificassem com o esporte", disse Miguel de Oliveira em uma das últimas entrevistas ao JL, ano passado.

Perfil

Natural da Lapa e criado em Castro, no centro-sul do Estado, Miguel de Oliveira chegou a Londrina com a família no início da década de 1960, mas já trazia na bagagem o amor pelo boxe. Segundo o irmão, Francisco, Miguel já reunia amigos para lutas improvisadas em uma praça de Castro.

Depois disso, esteve na Marinha, onde o interesse pelo pugilismo cresceu. Em Londrina, foi aluno do sargento Maurício Augustinho Pereira (da Rádio Patrulha Militar), considerado o primeiro mestre do esporte na cidade, já falecido, e que daria nome ao ginásio que Miguel sonhava construir na cidade.

A primeira academia foi instalada na Vila Nova, junto com o Clube Vila Nova de Futsal. "Ele adorava futebol, e era torcedor e conselheiro do Londrina. Teve fábrica de mesa de sinuca e percorria a cidade vendendo as mesas e fazendo amigos. Sempre foi meu parceiro e companheiro", relatou o irmão Francisco.

Um dos principais pupilos de Miguel, o professor e ainda lutador de boxe profissional Edílson Pereira, 32 anos, o considerava um pai. "Ele foi como um pai para mim. Sempre me apoiou e me transformou num profissional e campeão e duas vezes vice brasileiro", disse Edílson, campeão brasileiro em 2001.

Discípulos de Miguel garantem: legado do mestre vai continuar

César Oliveira, 26 anos, um dos cinco filhos de Miguel de Oliveira, cuida do legado do ‘mestre’. Ele mantém a academia no VGD, onde os alunos treinam diariamente, e garante que os projetos do pais terão continuidade. A academia, com apoio do Londrina Esporte Clube, deverá retomar os projetos sociais em 2010, ajudando a revelar novos talentos do pugilismo regional, estadual e nacional. "Estamos montando projetos sociais para obter recursos federais e estaduais, ajudando a revelar e desenvolver talentos", diz César.

A academia também espera obter recursos para levar alunos ao Campeonato Brasileiro, em outubro, em Aracaju. "Se algumas pessoas quiserem ajudar a academia, com apoio e patrocínio, podem nos procurar aqui", completou o filho de Miguel.

O pugilista e treinador Edílson Pereira voltará a lutar em dezembro e também espera por patrocinadores. "Queremos fazer um grande evento no Moringão, como sempre pensou o Miguel. Vamos dar continuidade nos projetos dele e queremos ampliar", disse Edílson, 70 lutas no currículo, sendo 54 vitórias. O telefone da academia, que só de alunos de boxe atende 150 pessoas, de diversas idades, é o 3321-1857.

Trouxe Maguila e apoiava até muay thay

Em 1984, o peso-pesado Adilson Maguila Rodrigues esteve em Londrina e enfrentou – e venceu – o norte americano Mike White, em um ringue armado no Ginásio Moringão. O árbitro da luta foi Miguel de Oliveira, também responsável por trazer o duelo para a cidade. Além do boxe, Miguel apoiou outras lutas, como kick boxing e muay thay. "Fizemos um evento de vale tudo no mês passado em homenagem a ele, pois o Miguel sempre gostou das coisas certas e entendeu a expansão das lutas na cidade", disse José Neto, cinco vezes campeão paranaense de boxe pela academia de Miguel.

"Colocou Londrina no mapa do boxe"

O treinador Miguel de Oliveira, uma lenda viva da história do boxe londrinense, teve uma vida dedicada aos ringues. A academia sempre foi simples, o ringue único, mas aluno é o que nunca faltou. Alguns treinam no saco, outros praticam golpes com o professor, à distancia um senhor observa todos os movimentos.

Miguel de Oliveira chegou a cidade em 1964. Veio de visita e acabou ficando. Era lutador de boxe amador, em 1975, convidado pelo sargento Mauricio Augustinho Pereira, outro aficionado do esporte, para desenvolver o boxe londrinense na Rádio Patrulha.

Miguel de Oliveira colocou Londrina no mapa desta modalidade, revelando boxeadores e promovendo campeonatos e lutas profissionais no ginásio Moringão. Em 1980, o treinador ligou-se ao Londrina Esporte Clube (LEC), que passou a contar com academia de boxe (atualmente, funciona no estádio Vitorino Gonçalves Dias). Foi treinador da seleção paranaense e árbitro nacional.

Em novembro de 2007, Miguel de Oliveira recebeu o título de cidadão honorário de Londrina. E ontem, em Londrina, o treinador de boxe Miguel de Oliveira, com 66 anos, faleceu vitima de problemas renal e pulmonar. Ele estava internado na Unidade de Terapia Intensiva no Hospital do Coração há cerca de 50 dias. Miguel morreu, deixa a mulher Celma e filhos, mas o sonho permanece vivo.

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