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Um dia, uma menina viu o ídolo de sua mãe em um programa de televisão. Sem conhecer o esporte que a tal atleta praticava, não prestou tanta atenção e voltou seu foco à ginástica artística, sua paixão na época. Mas a imagem de vitória e perseverança continuou em sua mente de criança, que sonhava ter conquistas como aquelas. Hoje, alguns anos depois, as duas se encontraram e viraram amigas. O destino, como a adolescente mesma diz, colocou Sara dos Santos e Fabiana Murer na mesma equipe de salto com vara. E essa história, que começou dentro da telinha, virou realidade e promete dar um bom roteiro de novela.

"Minha mãe era muito fã da Fabiana. Uma vez, estávamos assistindo ao Programa do Jô Soares (apresentador da TV Globo) e ela me disse: "Olha, aquela menina que salta com varas". Mas eu ainda nem tinha começado no atletismo. Agora, o destino nos juntou. Não fui eu que escolhi, o salto que acabou me escolhendo. Meu técnico da ginástica disse para eu ir fazer um teste e disseram que era exatamente o meu perfil", contou Sara.

Com apenas 19 anos, a atleta da equipe BM&F é a recordista brasileira juvenil, com a marca de 4,07m, alcançada no último campeonato nacional, quando foi eleita a melhor esportista da competição. Há menos de dois anos sob os treinos de Élson Miranda, a paulista teve uma evolução de 1,17m e está a somente 0,75m da melhor marca do continente, que pertence a Fabiana Murer.

"Já avisei que vou dar trabalho a ela para bater meu recorde ", diz Fabiana, que se intromete na conversa com sua "aprendiz".

Apesar de os números já mostrarem o potencial de Sara, a menina ganhou um incentivo a mais nesta semana. Vitaly Petrov, técnico da atual recordista mundial, a russa Yelena Isinbayeva, esteve em São Paulo para ministrar uma clínica a jovens atletas e elogiou muito a brasileira.

"Sara tem talento e um excelente tipo físico. Mas o importante é que ela não pare de treinar. Ela está aprendendo as técnicas e tem muitas chances de ser uma campeã se continuar assim. É uma menina com um belo futuro", afirmou Petrov, que também é o responsável pelos treinos de Fabiana quando ela está fora do Brasil.

Mentor de Sara, Élson Miranda assina embaixo da avaliação do ucraniano. Para o técnico, é um prazer treinar uma atleta tão promissora e que pode conquistar medalhas para o Brasil.

"Ela é muito forte e tem evoluído bastante nesses últimos anos. O biotipo dela favorece nesse esporte. Eu preciso trabalhar com ela, tirar tudo de melhor. Tenho que ensinar como ela pode aplicar o talento e usar as técnicas", disse Miranda.

Determinação até para combater o sono

Consciente do que pode alcançar no esporte, Sara tenta absorver tudo o que os técnicos passam para ela. Até curso de inglês a menina decidiu fazer para entender o que Petrov estava querendo lhe ensinar. O único empecilho que insiste em aparecer diariamente é algo que a paulista, que acaba de deixar a escola, adora cultivar: o sono. Logo que o técnico ucraniano chegou ao clube Pinheiros para começar o treino, chamou os atletas para correr na pista. Porém, quando olhou para Sara, ela respondeu "sleep, sleep" (dormir, em inglês).

"Sou dorminhoca mesmo. Acordo lá pelas 8h, tomo café e vou treinar. Depois volto, durmo um pouco e almoço. Mais treino e depois outra soneca", contou a menina, entre gargalhadas.

O lado brincalhão da saltadora também aparece quando ela conta qual foi o motivo para escolher o curso de Psicologia, que iniciará na faculdade no próximo ano.

"Eu li alguns livros sobre o assunto e me interessei. Conversava com as minhas amigas e pensava: "Acho que elas estão precisando de uma psicóloga". A maioria delas sempre vem desabafar comigo", diverte-se.

Mas o sorriso, que mostra o aparelho nos dentes como uma lembrança da infância que terminou há pouco tempo, fica de lado quando Sara fala sobre o que pretende conquistar em um futuro próximo.

"Sou muito dedicada, me cobro bastante e tenho uma meta na minha cabeça. Antes de todo mundo falar que posso ser uma campeã, já tenho isso como certo. Eu me sinto vencedora. Tenho uma coisa dentro de mim que fala: "Você vai conseguir e vai dar certo". Seguro isso com todas as forças e vou para cima. Quando anunciaram que o Brasil iria sediar as Olimpíadas, eu estava com a minha avó e a gente ligou correndo para a minha mãe. Claro que me imagino competindo no Rio. Lá fora é bom ganhar, mas aqui é outra história. Minha meta é vencer no Pan de Guadalajara daqui a dois anos, e depois, em 2016, quem sabe não posso ser uma campeã olímpica?"

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