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Nova Santa Bárbara – Numa cidade voltada para a agricultura, as opções de lazer são restritas. Para os quenianos então, menores ainda. O que não é problema nenhum, pelo contrário, sobra mais tempo ainda para eles fazerem o que mais gostam: correr. Curiosamente, não dão sequer dois passos mais rápidos no asfalto, piso onde disputam as provas. "É impossível fazê-los correr na pista dura", revela Coquinho.

Os quenianos adoram praticar nos terrenos acidentados de terra que cortam as vastas plantações de Nova Santa Bárbara. Um cenário que lembra um pouco os campos de treinamento do Quênia. Exceto, claro, na diferença das plantações, considerada a terrível pobreza do país africano. Já favorecidos geneticamente (possuem mais fibras brancas, responsáveis pela velocidade), e fisicamente (treinam em altitudes maiores, no Quênia, a cerca de 3.000 metros de altura) essa opção pela roça deixaria-os ainda mais preparados para as corridas em termos de agilidade.

Mas eles também se divertem, ultrapassando as fronteiras da pequena cidade conectados ao mundo através da internet e, principalmente, do celular. São as duas principais ocupações dos atletas nos períodos de folga, e um verdadeiro tormento para o bolso do treinador. "Já chegaram a gastar mais de mil reais em ligações para o Quênia em 15 dias. Sempre tenho que pedir pra maneirar", lamenta Coquinho.

Não largam dos aparelhinhos por nada, cada um com o seu devidamente personalizado, decorado com adesivos e capinhas transadas. Na maioria das vezes, contactam os familiares para matar um pouco da saudade provocada pela distância. Já na internet – acessada no escritório do técnico ou na sede da prefeitura – utilizam o correio eletrônico e procuram por notícias e resultados das provas que participam.

O jogo de sinuca, hábito importado da terra natal, também faz parte do cotidiano. Manejam com categoria os tacos, promovendo disputas acirradas pelos bares. E no país do futebol, naturalmente não ficariam imunes ao esporte. Porém, quem convidá-los para bater uma bolinha, contando com o excelente preparo físico, o perfil esguio e a negritude de Pelé que os quenianos ostentam, terá uma tremenda desilusão. As canelinhas finas transformam-se em pernas de pau, fazendo dos excelentes maratonistas boleiros medíocres. "Jogamos futebol uma vez e foi uma lástima. Nunca mais", relembra Coquinho, bem humorado.

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