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Silva começa a pensar na aposentadoria, mas com aperto no coração | Divulgação
Silva começa a pensar na aposentadoria, mas com aperto no coração| Foto: Divulgação

Foram 300 inscritos, 70 pré-selecionados e 16 serão os lutadores escolhidos para The Ultimate Fighter, o primeiro reality show de MMA no Brasil, com estreia em março e transmissão pela Globo. A metade deles, destinada ao comando do curitibano Wanderlei Silva, pode se preparar. Vai encarar linha dura no confinamento. Os outros oito atletas serão treinados por Vítor Belfort.

O tradicional embate entre os técnicos marcará o fim do confronto e será uma possibilidade de re­­vanche para o curitibano, no­­­­cau­­teado em apenas 44 segundos quando se enfrentaram na primeira edição do UFC no Brasil, em 1998.

"Para mim terá um gosto especial mesmo. E vou me preparar muito mais do que me prepararia para enfrentar qualquer outro lu­­tador", promete o Cachorro Louco. Desta vez o reencontro será em um megaevento no Morumbi, com a expectativa de recorde de público.

De férias no Brasil, o lutador se prepara para o desafio inédito de se transformar em técnico no programa que pretende popularizar a modalidade que tanto cresce no Bra­­sil. Nessa entrevista, ele fala so­­bre o ano que marcou um boom do UFC no país, do que espera da "casa da luta", do foco nos projetos so­­ciais e assume: "Cada luta para mim pode ser a última."

O programa The Ultimate Fighter foi um dos segredos do avassalador crescimento do UFC nos Esta­­dos Unidos. Qual a dimensão que deve ter no Brasil?

Lá foram 14 edições. O plano do pa­­trão [Dana White, presidente do UFC] é organizar um em cada país e usar os vencedores em uma Copa do Mundo da luta. O reality foi o que abriu as porta para que várias pessoas tivesse contato com o UFC.

A intenção é também preparar o público para um esporte considerado violento?

O público vai conhecer não só o lu­­tador, mas o atleta, a pessoa. Será bom para mostrar que luta não é briga e educar os espectadores so­­bre o esporte, para que entendam melhor e possam acompanhar em todos os sentidos.

Mas para acontecer isso será preciso muita disciplina. Como você e o Vítor Belfort vão controlar a ra­­paziada?

Tem de haver muito respeito. Olha, eu já avisei. Nos Estados Uni­­dos, o show é um pouco diferente, os caras têm um humor meio es­­tranho, fazem umas brincadeiras, umas piadas que, se for comigo, sento a mão na cara na hora. Não sou palhaço. Não quero nem saber. E se sobrar para mim não tem problema, saio feliz (risos). Prevalece a honra. (No The Ultimate a eliminação é definida no combate. Quem ganha, fica)

A entrada da tevê aberta foi um marco para o MMA em 2011. O que isso representou para os atle­­tas?

Mudou muito. Eu sempre dizia que era mais reconhecido fora do que na minha cidade. E olha que luto desde os 14 anos. Mas foi eu chegar aqui que senti um tratamento diferente, de vários tipos de pessoas. Realmente foi o ano da vi­­ra­­da. As pessoas podem pensar: ‘o que o lutador ganha com to­­da essa mídia, essa exposição?’ No meu tempo, o lutador de­­mo­­rava anos para conseguir um patrocínio. Nos Estados Unidos isso acontece muito rápido. Espero que se repita no Brasil também. E eu quero aproveitar esse momento para novos projetos, pois estou me preparando para a transição fora do octógono.

Quais projetos?

Eu já tenho uma academia que atende 50 crianças humildes em Las Vegas. Vou esperar o fim do programa, convidar os ótimos técnicos que temos aqui em Curitiba e tenho amigos que têm dinheiro e vão me ajudar a bancar e montar academias aqui também. Que­­ro levar para lugares carentes, como a Vila Zumbi [Colom­­bo], por exemplo. Hoje o crack está to­­mando conta dos jovens e, muitas vezes, porque eles não têm opção. As pessoas chamam de drogado, vagabundo, ladrão. Mas o que oferecem para aquele menino ser diferente?

Você sempre diz que a luta es­­tá no DNA das pessoas, que qualquer um pode lutar. Vai ser a sua bandeira?

É raríssimo encontrar um lutador de origem abastada. Quan­­tos Shoguns e Andersons Silva estamos perdendo? O Anderson era um "negrinho" lá da barreirinha. Falo assim porque eu era o único branco na academia e brincava muito com ele e os ou­­tros. Então, acho que devemos aproveitar todo esse crescimento do MMA e reverter também para o lado social.

Você concorda com essa exposição toda do Anderson Silva, com agenda recheada de programas de tevê, publicidade, modelo, etc.?

O Brasil sempre foi um centro da luta. Mas é preciso fazer su­­cesso lá fora ser reconhecido aqui. E finalmente aconteceu. Queria eu estar com 13 anos agora e começar nesse cenário. O Anderson merece tudo isso. Ele sempre foi muito esforçado, passou por dificuldades como qualquer um. Mas é um CDF de treino, onde quer que esteja es­­tá treinando. Força de vontade não é dom, é opção.

Você comentou que está programando a transição na carreira. Até quando pretende lutar?

Não sei quão longe eu vou. Te­­nho a vida feita. Amo muito o que eu faço e só de pensar [em parar] dá a maior vontade de chorar. Ainda tenho energia, mas, aos 35 anos, com meu estilo de luta, é difícil. Lutar no Brasil de novo era um dos meus sonhos. Não podia parar sem sentir essa energia dos meus fãs.

Mas estão essa luta com o Bel­­ford pode ser a última?

Ultimamente, acho que toda a luta é a última. Uma hora eu acerto [risos].

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Acompanhe a cobertura do enviado especial da Gazeta do Povo no UFC 142 do Rio www.gazetadopovo.com.br/esporte

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