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Do Oriente Médio à América Central. Da seleção feminina ao Coritiba. A carreira de René Simões é marcada por extremos que explicam um pouco a cultura e o jeito de ser deste carioca de 54 anos. Prolixo e cheio de histórias para motivar seus jogadores, ele está otimista com a campanha coxa na Série B e sabe da obrigação do acesso à elite. Mesmo que para isso tenha de enfrentar as mais diversas adversidades. Entre elas, a inabilidade de dirigentes que entram no vestiário da forma e no momento errado como ocorreu após o empate com o Gama, há dez dias.

Sua carreira deu muitas voltas. O que você destaca de mais importante?

O que mais me valorizou não foi como profissional, mas sim como ser humano. Tive a oportunidade de viver em várias culturas e povos diferentes. Ninguém é tão ignorante que não tenha algo para ensinar e ninguém é tão culto que não tenho algo a aprender. Em termos de futebol e conquistas, foram tantas e tão diferentes situações que todas tem um saborzinho especial. Desde o Mesquita e a condição de pobreza que o pessoal tem lá na Baixada Fluminense, até a discriminação e pobreza na Jamaica. Mesmo com a soberba dos árabes, conquistamos a primeira Copa que o Al Rayan, no Catar, nunca tinha conseguido em 33 anos de existência. Na seleção feminina também foi uma conquista bonita. Por mais incrível que pareça todos esses trabalhos tiveram um laço de preconceito com a conquista e com o pessoal que trabalhava.

E qual foi o preconceito encontrado no Coritiba?

Estar na Segunda Divisão. Um clube que tem o maior número de títulos e a maior torcida do estado fora da Série A deixa todo mundo se sentindo mal, para baixo.

Você não quis ficar na seleção feminina após a medalha de prata na Olimpíada de Atenas em 2004. Isso não atrapalhou o desenvolvimento da categoria?

A vida delas mudou muito com aquela medalha. Antes havia só a Marta fora do país. Agora, a maioria delas está no exterior. Eu teria continuado sem nenhum problema. Só acho que a CBF em termos de remuneração dos profissionais trata de uma forma desigual. Com a quantidade de dinheiro que entra lá, para pagar o que pagam...

Dos seus outros trabalhos qual mais se assemelha ao Coritiba?

Não tem nada que possa se comparar ao Coritiba. Nos outros lugares em que trabalhei a vitória era importante, mas no Coritiba é a única coisa. Se o time não subir isso aqui vai ser uma dificuldade só no ano que vem. Penso muito nos funcionários. É diferente da pressão de quando eu trabalhei no Vitória, que também estava na Segunda Divisão. Aqui não, com o Paraná e o Atlético na Série A, a dor é muito grande.

Essa pressão influi em campo pela base do time ser jovem?

Apesar de pouca experiência são jogadores de muita qualidade. Pela experiência que vão adquirir eles irão melhorar. É o que chamo de inteligência emocional. Você vai na universidade, pega pessoas extremamente inteligentes, mas quando saem para o campo de trabalho às vezes não conseguem produzir.

Você é um técnico diferenciado?

Sou um técnico do jeito que gosto de ser. A opinião das pessoas eu escuto, avalio, mas elas não determinam quem eu sou e o que vou fazer. Faço o que acho que tenho de fazer, mas converso com minha comissão técnica, mudo de opinião e me lembro até do Juscelino Kubitschek. Uma vez ele assinou um decreto e um ministro chegou e disse: "Presidente, o senhor mudou de idéia". E ele respondeu: "Mudei sim, não tenho compromisso com o erro". Eu também não.

Em quem você se inspira no trabalho de técnico e qual é o grande treinador do Brasil hoje?

O Vanderlei Luxemburgo é o melhor da atualidade. É aquele ame-o ou deixe-o, as pessoas ou gostam ou não gostam dele, mas como treinador ele sabe arrumar, montar e remontar uma equipe. Agora tem alguns grandes treinadores como o Tim, por exemplo, que não perdia o segundo tempo. Observava o primeiro e no segundo mudava. Me preocupo muito com isso e fico frustrado quando ocorre o oposto comigo. Cheguei a conhecer um pouquinho do Ênio Andrade e achei perfeito na forma de dar treinamento tático. Vi também o Telê Santana. Ele tirava 100% do jogador.

O episódio ocorrido após o jogo com o Gama já está superado?

Está sim. Foi um episódio em que todos, inclusive eu, aprendemos um pouquinho, então ficou a lição.

Como é sua relação com o presidente Giovani Gionédis?

A relação está ótima. Não tem problema nenhum.

Quem entrou no vestiário lhe ofendendo?

Ninguém ofendeu. Foi um momento de desabafo e cada um entendeu de forma diferente. Só que eu tenho de ser profissional. O nome não importa. Não falei ainda e desde o momento que sentamos e conversamos está tudo bem.

Quem são os maiores adversários por uma das quatro vagas na Série A?

O primeiro é o próprio Coritiba. Toda essa pressão que está colocada por esta situação de estar na Segunda Divisão e os rivais na Primeira. É também um período eleitoral e em qualquer clube é difícil de se passar. Há também uma chance de no ano que vem só dois subirem. A preparação para o centenário do clube que na Segunda Divisão seria meio complicado. São ingredientes que temos de vencer.

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