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"Ele tentou segurar a minha mão", diz mulher de vítima

Salvador – Apaixonado pelo Bahia, Djalma Lima Santos, de 30 anos, foi para a Fonte Nova com a mulher, Valdemira Rosário Pereira, 28, e mais cinco colegas do bairro do Retiro (periferia de Salvador).

Queria festejar o retorno do time à Série B. Ao final do empate sem gols contra o Vila Nova-GO, quando pulava e gritava, feliz com a apresentação, Santos caiu de uma altura de 20 metros.

A arquibancada onde ele estava, no anel superior do estádio, cedeu. O torcedor morreu na hora, de politraumatismo. Outros dois vizinhos, Márcia Santos Cruz, 27, e Anísio Andrade Santos, 24, também morreram em decorrência do acidente.

"Foi horrível. Ele tentou segurar na minha mão, mas não consegui sustentar. Depois, quando olhei para baixo, ele estava já no chão, arreado. Ele e mais três colegas caíram no buraco", disse Valdemira, enquanto esperava a liberação do corpo pelos legistas do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues.

Santos foi enterrado ontem, no cemitério Quinta dos Lázaros.

Agente de limpeza, Djalma Santos deixou um filho de apenas 3 meses, Djalma Lima Santos Júnior, fruto de um relacionamento extraconjugal.

"Como vamos cuidar desta criança agora? Era o salário dele que sustentava o menino", disse Valdemira.

Ela não foi a única a presenciar a morte de familiares. João Carlos Rodrigues está em estado de choque desde que viu as duas filhas caírem do anel superior da Fonte Nova. Milena Vasquez Palmeira, 27, morreu momentos após a queda. A outra filha, Patrícia Vasquez Palmeira, 24, que também caiu de uma altura de 20 metros, está internada com diversas fraturas. Segundo familiares, ela não corre risco de morte.

O pai das vítimas, bastante abalado e chorando sem parar, não conseguiu falar com os jornalistas. Ontem pela manhã, a mãe das vítimas, Raimunda Vasquez Palmeira, foi ao hospital para dar a notícia da morte para a filha que sobreviveu.

Salvador – Um dia após a tragédia na Fonte Nova, o governo da Bahia admitiu que tinha ciência dos problemas estruturais do local.

"Sabíamos que havia trecho do concreto se soltando. Em janeiro deste ano, interditamos 75% do estádio. A liberação aconteceu depois do tratamento da ferragem exposta para controlar a corrosão. Várias medidas foram tomadas no período. Havia preocupação com a estrutura, mas nada que sugerisse uma tragédia dessa proporção", disse o secretário do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, Nilton Vasconcelos.

No domingo, após o Bahia empatar sem gols com o Vila Nova-GO e retornar à Série B do Brasileiro, uma parte do anel superior da arquibancada cedeu, abrindo um vão de 17 metros. Doze torcedores caíram de uma altura de 20 metros – sete morreram. Mais de 80 ficaram feridos, a maioria durante a invasão ao gramado, depois do encerramento da partida, segundo a Polícia Militar.

Segundo Vasconcelos, o acidente afeta a imagem do governo. "Não podemos dizer que sairemos incólumes desse processo. Nossa imagem fica arranhada. Laudos de empresas de engenharia afirmavam que o estádio era seguro. Queremos que a perícia emita um laudo. A partir daí é que teremos condições de anunciar medidas."

Em 2006, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva interditou a Fonte Nova, após o jogo Bahia e Ipatinga-MG, quando a torcida invadiu o campo.

Indenização

A família de quem morreu não terá indenização do Estado da Bahia, o dono da Fonte Nova. Quem se feriu, sem seqüelas permanentes, não vai poder contar com auxílio da seguradora contratada para os jogos do Brasileiro para se recuperar. Este foi o recado que os torcedores que estavam na tragédia de Salvador receberam um dia depois do acidente.

O governador baiano, Jaques Wagner (PT), disse que não é o momento de falar em indenização pois isso denota culpa, e ele não se sente culpado pelas mortes. "Não sei se ela (a indenização às famílias) cabe no momento. Indenização passa uma idéia de culpa. Não me sinto culpado pela tragédia, mas responsável (...). A Fonte Nova é um estádio público."

O governador admitiu a possibilidade de a arena ser demolida. "Vamos fazer um estudo para saber se a estrutura está comprometida. Se estiver, não teremos outra solução, vamos demolir", disse Wagner.

O governador baiano passou a madrugada de ontem acordado, após voltar da China. Após o acidente e ontem pela manhã, visitou feridos em hospitais. Afirmou que, apesar de o relatório feito pelo Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco) apontar o estádio como o pior de 29 vistoriados pelo país, os responsáveis pelo documento não falaram em desabamento.

O estudo da Sinaenco também avaliou os três principais estádios de Curitiba: Arena, Vila Capanema e Couto Pereira.

A Baixada, embora esteja entre os cinco de melhor avaliação, ao lado de Maracanã, Morumbi, Engenhão e Mangueirão, apresentava pontos cegos nas arquibancadas e possibilidade de disseminação do foco da dengue, no fosso.

A Vila tem pontos de visibilidade parcial do gramado nos camarotes e nas sociais – cadeiras ficam atrás de pilastras. Já o Couto Pereira apresentou infiltração no segundo anel e armaduras expostas e corroídas.

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