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Naturalmente talentoso e preparado com esmero por um tutor de respeito, o piloto inglês Lewis Hamilton, de 22 anos, parece predestinado a quebrar paradigmas. Além do semblante constantemente sereno, da humildade nas palavras e da simpatia no trato com os fãs (características raras em um piloto de sucesso na Fórmula 1), o primeiro piloto negro da história da principal categoria do automobilismo mundial também se distingue pela forma que aprimorou sua peculiar habilidade para guiar carros de corrida: os treinos em simuladores.

Há 11 anos contando com a ajuda de Ron Dennis, chefe da equipe inglesa McLaren que usou seu "olho clínico" para detectar a notável aptidão do menino-prodígio, Hamilton passou milhares de horas simulando a pilotagem de Fórmula 1 nessas máquinas eletrônicas ultra-avançadas, capazes de exigir do "jogador" a avaliação das ondulações nas pistas e do desgaste dos pneus. Levando fé na ajuda cibernética, as equipes parecem dispostas a investir no expediente. Segundo o jornal inglês The Daily Mirror, a McLaren gastou 100 milhões de euros no seu simulador – muito utilizado por Hamilton.

O novato inglês – que em sete etapas conseguiu sete pódios, lidera o campeonato e ainda não terminou nenhuma prova abaixo da posição de largada – está fazendo o investimento valer a pena. Símbolo de piloto que sabe tirar proveito desse tipo de recurso, Hamilton chega com um bom conhecimento do traçado de circuitos onde nunca esteve, como nos GPs do Canadá e dos Estados Unidos, dos quais saiu vencedor.

Na avaliação de especialistas, o uso dos simuladores é positivo. "Não se trata de uma nova fórmula mágica", adverte Luciano Burti, comentarista da Rede Globo, piloto da Stock Car V8 e ex-piloto de Fórmula 1. "Acho que ajuda mais para fazer o piloto conhecer virtualmente lugares onde ele ainda não correu. E na Fórmula 1 tudo o que possa ajudar, nem que seja só um pouquinho, é válido e é usado", ressalta.

Para o jornalista Cassiano Mariani, comentarista de automobilismo, os simuladores ainda têm algumas limitações, como, por exemplo, não conseguir impor aos pilotos a chamada "Força G" (ação da gravidade que, com a velocidade, "prensa" o piloto no cockpit) e, assim, não testá-los diante de tal desconforto. Contudo, segundo Mariani, trata-se de uma tendência irreversível. "Acho que é algo que veio para ficar na preparação dos pilotos, somando-se ao treino físico e à alimentação adequada", destaca.

O assessor do canal Sportv para assuntos de esportes a motor, Carlos Cintra Mauro, faz uma analogia para dimensionar o valor desse tipo de treinamento. "É a mesma importância que um simulador tem para um piloto de avião, que quando se senta na cabine de pilotagem vai se sentir mais à vontade, de acordo com o tempo que passou nos simuladores e com o número de horas de vôo", explica.

Mas, segundo Mauro, tal expediente só é válido se for aliado à experiência real. "Se o Hamilton não tivesse passado pelo kart, F3 e GP2, por exemplo, essa prática não valeria muita coisa", diz. "Mas somada à direção nas pistas é muito benéfico, pois a cada dia o virtual passa a ser mais real. O Hamilton é o melhor exemplo. Toda a preparação de laboratório que ele recebeu está sendo somada ao seu talento natural, e o resultado está aí."

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