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Tradicional no salto triplo e celebrando o título olímpico de Maurren Maggi no salto em distância, o Brasil dificilmente poderá experimentar, nos próximos anos, sucesso equivalente no salto com vara. A constatação vem de um especialista na prova. Talvez, a maior autoridade mundial no assunto.

"O Brasil precisa de infra-estrutura. É muito mais complicado fazer um campeão do salto com vara do que nos saltos triplo ou em distância - e eu não estou desmerecendo essas provas. Mas o salto com vara necessita de muitos equipamentos - varas, postes, colchão", explicou à Agência Estado, na última terça-feira, o ucraniano Vitaly Petrov, técnico da recordista mundial Yelena Isinbayeva (que chegou aos 5,05 metros nos Jogos de Pequim) e mentor do mítico Sergey Bubka, cujo recorde de 6,14m continua intacto desde 1994.

A convite de Elson Miranda, técnico dos recordistas sul-americanos Fabiana Murer e Fábio Gomes do Santos, e da equipe de ambos, a BM&F Bovespa, Petrov esteve no Brasil pela quinta vez. Foram dez dias trabalhando no principal centro de atletismo do País, o estádio Ícaro de Castro Mello, no Ibirapuera, em São Paulo. Lá, presenciou os porquês de o Brasil ainda não ser a potência olímpica que poderia.

"Veja só isso (aponta para o gramado do Ibirapuera, onde começa uma partida de futebol). Enquanto a Fabiana treina, corre o risco de levar uma bolada. Isso não pode acontecer. O Brasil é um país com muitos talentos, mas precisa de estrutura para desenvolvê-los". Petrov vai além: o Brasil também necessita de técnicos para formar uma base. "Hoje, só conheço um", disse, referindo-se a Elson Miranda, que o procurou por conta própria e é seu pupilo desde 2001.

Em São Paulo, Petrov encontrou um Ibirapuera quase abandonado, que será utilizado pelos atletas da BM&F Bovespa até dezembro. A parceria da equipe com o governo estadual, iniciada há cinco anos, não será renovada - a Secretaria de Esportes, Lazer e Turismo diz que R$ 13 milhões serão investidos, em 2009, para a recuperação do Complexo Esportivo.

A pista já não apresenta condição de uso - para a área de saltos, um retalho de carpete, colocado sobre o piso original, tem diminuído o impacto na hora da corrida. A grama do campo, agora também usado para jogos de futebol, nem sequer tem sido aparada. O aspecto descuidado da vegetação também chamou a atenção do técnico ucraniano.

Mas as avaliações de Petrov não vêm seguidas de menosprezo. Embora seja mentor de duas estrelas do salto com vara e, desde 1991, coordene um centro de treinamento da modalidade pela Associação Internacional de Atletismo (IAAF), em Formia, na Itália, o técnico foi forjado na escassez da antiga União Soviética. Na falta de varas específicas para treinar, chegou a saltar com bambus.

Seus conhecimentos têm sido válidos para os brasileiros. Número 2 do ranking, Joana Costa, da Rede Atletismo, está em Formia para aprender os métodos de Petrov. Desde outubro, trabalha com seu auxiliar, o italiano Domenico Ingrosso. "Tinha participado de algumas clínicas, mas quero aprender o máximo do método. São coisas simples, como posturas de braço e de mão, mas difíceis de colocar em prática". O técnico diz que Joana pode chegar a saltar 4,60m - sua melhor marca é de 4,40m, conquistada em 2007.

Fabiana Murer é um caso à parte. Petrov a trata como pupila. "Os próximos dois anos serão fundamentais. Ela precisa ficar mais forte e harmonizar as etapas do salto". Petrov também defende que a brasileira treine mais e dispute um número menor de competições. "Ela precisa atingir os 4,80m (o recorde sul-americano) regularmente. Fabiana continua com condições de ser medalhista olímpica".

Sobre Yelena Isinbayeva, o técnico dispensa maiores comentários. "O que esperar dela a não ser a vitória?".

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