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O que antes era visto apenas no eixo Rio–São Paulo virou realidade também no futebol do Paraná. As torcidas organizadas dos três grandes da capital, antes restritas a influenciar seu time das arquibancadas, nos últimos anos também passaram a ter influência em decisões administrativas.

Sob a máscara do bom relacionamento – marcado por reuniões regulares, protestos "pacíficos" ou conversas informais, mas que muitas vezes descambam para ameaças e até violência –, em algumas situações isoladas as organizadas já chegam a exercer uma espécie de poder paralelo.

O caso mais recente é o do Coritiba. Depois de ser rebaixado para a Segunda Divisão em 2006 e precisando do apoio do torcedores para evitar uma revolução na política interna do clube, a direção do Alviverde nunca "interagiu" tanto com as organizadas como agora. Nas constantes reuniões com líderes das torcidas, chega a expor inclusive comissão técnica e jogadores.

A última delas, no meio de semana, acabou com o "alerta" em tom de ameaça. "Falamos para eles que, nessa situação que estamos, se algum jogador for encontrado na noite vamos cair em cima. Não vamos partir para a violência, mas todos da nossa torcida já foram avisados para fazer o maior escândalo, fazer o cara passar vexame", diz Luiz Fernando Corrêa, o Papagaio, presidente da Império.

No Coxa, as torcidas já chegaram a definir até a formação do elenco. O atacante Jeférson, por exemplo, estava para ser dispensado após a Copa, mas teria ficado a pedido das organizadas.

O presidente do Coritiba, Giovani Gionédis, nega o fato, mas não esconde que, sempre que possível, prefere agradar a ter de enfrentar o grupo. "Não houve nada disso, o Jéferson ficou porque tem qualidade. Mas o Coritiba é um clube democrático e cede quando acha que deve ceder. Agora, por exemplo, eles queriam promoção de ingresso e não fizemos pois não seria correto com quem comprou o pacote", afirma o dirigente.

No caso do Paraná, a estratégia foi diferente. E deu errado. O clube enfrentou as organizadas, mas acabou tendo de voltar atrás. Depois disso, o assunto é sempre tratado com temor e muito cuidado – o Tricolor tem até um assessor para Assuntos de Torcida.

"Não falo mais sobre organizadas pois é uma coisa muito perigosa", afirma o presidente do Tricolor, José Carlos de Miranda. Quando o Paraná decidiu cortar as regalias das organizadas – principalmente ingressos e proibição de camisas da torcida –, o dirigente chegou a ser ameaçado. "Fui obrigado até a trocar de carro. Você que se cuide também com o que vai escrever", avisou.

A proibição durou pouco. No intervalo da partida contra o Santos, tudo foi liberado. "Mostramos a nossa força. Ficamos o primeiro tempo de braços cruzados e no segundo eles vieram pedir para que a gente voltasse a cantar, porque o estádio estava silencioso", afirma João Carvalho, vice da Fúria Independente, que desde então diz estar em lua-de-mel com a diretoria. Mas não com o time.

Há pouco menos de um mês, seis membros da Fúria foram ao treino do Tricolor para cobrar empenho dos jogadores. A conversa acabou em trocas de sopapos com o atacante Zumbi.

Depois do ocorrido, os dois lados desconversam. E Zumbi, a vítima, foi quem pediu desculpas. "O que aconteceu naquele dia foi lamentável. Torcida não tem o direito de colocar a mão em jogador. Mas eu também exagerei e se encontrasse o rapaz pediria desculpas", analisa o jogador, que depois de viver a situação limite, elogia a torcida do rival Coxa: "Eles ao menos marcam reuniões".

Atualmente, o relacionamento mais calmo clube–torcida é no lado da Baixada. Mas, entre o fim de 2005 e o início de 2006, o Atlético também teve sua derrota na queda-de-braço. Proibiu a entrada da bateria na Arena, aumentou os ingressos e enfrentou uma das mais demoradas represálias de suas organizadas. Sob os apupos de "Fora Petraglia!" o clube recuou e hoje deixa, inclusive, o time entrar com a bandeira da Fanáticos em campo.

"Não é queda-de-braço. Chegamos à conclusão de que só quem perdia com aquilo era o clube", desconversa Juliano Rodrigues, vice-presidente da Fanáticos.

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