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O interior do Paraná: José Flausino, santista de Telêmaco; Eduardo Taques e o filho, fãs do Operário; e Vicente, corintiano de Cambará | Fotos: Luciano Mendes/ Gazeta do Povo; Luciano Mendes/ Gazeta do Povo; Marco Martins/ Gazeta do Povo
O interior do Paraná: José Flausino, santista de Telêmaco; Eduardo Taques e o filho, fãs do Operário; e Vicente, corintiano de Cambará| Foto: Fotos: Luciano Mendes/ Gazeta do Povo; Luciano Mendes/ Gazeta do Povo; Marco Martins/ Gazeta do Povo

Cambará é o principal reduto corintiano no PR

Marco Martins, correspondente

Três em cada dez habitantes da pequena Cambará, no Norte Pioneiro (380 km de Curitiba), são torcedores do Corinthians. A explicação para esse fenômeno é a fidelidade das famílias que passam o amor alvinegro para as novas gerações. Na cidade, com pouco mais de 23 mil habitantes, a tradição é que os filhos acompanhem a preferência dos pais desde pequeno.

Aliado a isso soma-se a proximidade com o estado vizinho e a colonização paulista. Logo atrás do Alvinegro aparece o São Paulo (13,52%), Santos (11,08%) e Palmeiras (10,60%).

O comerciante Vicente Fonseca, 74 anos, é um bom exemplo de fiel corintiano em Cambará. No pequeno boteco de uma porta em frente à praça principal da cidade, ele exibe com orgulho na parede o cartaz da única partida que o Corinthians fez na cidade, em 1969, contra o Operário local. "Eu estava lá. O placar foi 2 a 2", diz. "Uma pena que agora que o time ganha tudo, nunca mais eles vão jogar aqui", lamenta.

Timão ganha espaço em reduto gaúcho

Luiz Carlos da Cruz, correspondente

A expansão corintiana tem ganhado espaço até em redutos historicamente dominados por outros clubes. É assim em Cascavel, com tradicional devoção aos gaúchos Grêmio e Inter, hoje menos prestigiados.

Administrador de uma uni­­versidade na cidade, Wal­­domiro Antonio da Silva, 65 anos, é um retrato da paixão alvine­gra no Oeste – 17,48% da preferência em Cascavel.

Há uma semana, ele estava no Japão, acompanhando o título mundial do Timão. "No dia em que o Corin­­thians ganhou a Libertadores eu programei a viagem e disse: ‘Vou para o Japão, seja o que Deus quiser’. Fomos por conta. Te­­mos amigos japoneses que compraram os ingressos".

Silva diz que a paixão pelo Corinthians é como uma religião e aposta em nova con­­quista da Libertadores em 2013. Se isso ocorrer, promete estar no Marrocos no pró­­ximo Mundial de Clubes. "Es­­taremos lá", fala ele, que foi ao Japão com o filho Leo­­nardo da Silva, 35, que mora no Rio.

Opinião

LEC longe dos títulos, torcedor longe do estádio

Rodrigo Gutuzo, jornalista em Londrina

O Londrina completou 20 anos exatos sem um título expressivo. O último foi o Paranaense em 1992. Para piorar, a equipe não tem conseguido manter um calendário no ano todo há algum tempo. Desta forma, o torcedor acaba escolhendo outras equipes para sua paixão futebolística. A pesquisa pode ser um reflexo disso.

Vejo a torcida do Londrina maior do que as pesquisas apontam. Porém, infelizmente, o número de torcedores "100% alvicelestes" é realmente pequeno. Boa parte tem um amor estranho, dividido. A pessoa pode dizer que é corintiana, palmeirense, flamenguista, são-paulina... Mas, no fundo, também é torcedora do Tubarão. Não tem escolha. Seja apenas no Paranaense. Seja na Série D do Brasileirão. Seja na competição que for.

Torcedor que é torcedor pode gostar dos times de fora. Mas não consigo entender outra forma de torcer que não seja no estádio. A única explicação é ser um pouco maluco. Talvez por isso o Corinthians tenha a maioria na cidade com o seu bando de loucos.

A supremacia dos paulistas entre os torcedores paranaenses é um fato, mas há equipes do interior do estado que conseguem furar a regra, se colocando logo abaixo dos gi­gantes. Levantamento da Pa­raná Pesquisas revela que em Ponta Grossa (Campos Gerais), Londrina (Norte) e Paranavaí (Noroeste) os times locais ainda conseguem fazer uma graça na disputa.

Em Ponta Grossa, o Ope­rário é o time do coração de 2,83% da cidade. O Londrina tem a preferência de 2,6% dentro de casa. Já o ACP é citado como clube do coração de 0,55% dos locais.

Alex Augusto Barbosa, de 31 anos, não tem medo de dizer que é um sofredor por ser a exceção dentro de uma cidade com 25% de torcedores do Corinthians. Ele diz acreditar que a falta de calendário para o Tubarão tem desmotivado principalmente as crianças a gostarem do clube. Alex tinha apenas dez anos quando o Londrina foi campeão paranaense em 1992. No entanto, ele reconhece que a situação já não é mais a mesma. "Mas não importa a fase. Se o time morrer, a gente morre com ele", afirma, orgulhoso do amor incondicional.

No Noroeste, o Ver­me­lhi­nho também sente falta dos bons tempos. Em 2007, o time foi campeão paranaense. O mecânico de veículos Oliveiro Poldo, de 58 anos, é fanático pelo time desde a década de 1960. Segundo ele, há cerca de 1.500 torcedores realmente fiéis ao ACP na cidade, que sempre vão aos jogos. Uma ilha em meio à preferência pelos clubes de fora. "Falta um pouco de paixão também. Eu sou um ‘curinga’ do clube. Trabalho como gandula, dando uma força na bilheteria, tudo sem remuneração, só por amor ao time", afirma.

Eduardo Taques Gui­ma­rães, fã do Operário, também é daqueles que gosta de exaltar a paixão pelo Fantasma. "Como o Operário não aparece no restante do ano [depois do Paranaense], as pessoas acabam esquecendo", avalia. Com 32 anos, ele se define torcedor do Fantasma desde 1983, ano em que entrou no Estádio Germano Krüger pela primeira vez, quando tinha apenas três anos.

Eduardo enfrentou algumas situações difíceis, principalmente na década de 1990, quando o Alvinegro chegou a abandonar o futebol por alguns anos. "Mesmo assim, o clube continuou sendo a minha segunda casa. Espero muito mais do Operário, que agora é uma equipe centenária", afirma. Filho de um ex-presidente do clube e irmão do fundador de uma das torcidas organizadas do clube, Eduardo já ensinou o filho de quatro anos, também Eduardo, a torcer pelo Alvinegro. Mais um sinal de força do velho Fantasma.

Telêmaco BorbaBoom santista tem Neymar e ‘herança’ como explicações

"Eu torço para o Santos desde pequeno, mas conheço uma piazada que virou santista por causa do Neymar. Só não assumem que foi por causa disso", conta o jovem Jhonatan Matheus da Cruz Roma, de 12 anos, morador de Telêmaco Borba. O alvinegro de 20 anos é a explicação para, entre 2008 e 2012, o número de torcedores do Santos na cidade ter dobrado. Segundo levantamento da Paraná Pesquisas, apenas 5% dos entrevistados se declaravam santistas em 2008. Agora, são 10%. Alta maior do que no estado, onde o número passou de 4,3% para 5,3%.

Jhonatan herdou o amor à camisa do Santos do tio-avô, João Bosco da Cruz, que nos anos 1960 acompanhava o time paulista pelo rádio. "Eu era criança e ficava ao pé do rádio ouvindo os gols do Santos. Não houve jeito de eu não ser influenciado por isso", comenta. Em 50 anos de paixão pelo clube, viu apenas cinco jogos do Peixe in loco. O primeiro, em 1976, foi o mais doído. Na época, morava em São Paulo, trabalhando como pintor de paredes. Viu da arquibancada a derrota por 3 a 1 para o Internacional, campeão brasileiro daquele ano.

"Eu jamais pensei em largar mão, apesar das fases difíceis. Corremos 17 anos atrás de um título [entre o Paulista de 1984 e o Brasileiro de 2002]. A torcida do time em Santos chegou a colocar as bandeiras de ponta-cabeça como forma de protesto. Mas a minha bandeirinha sempre esteve em pé", conta Bosco, que revela ter sentido o crescimento no número de santistas na região.

Além de Jhonatan, Bosco tem mais três sobrinhos-netos santistas e que sonham com a carreira de jogador. Um deles, José Flausino da Cruz Neto, de 13 anos, ostenta uma cabeleira que lembra a de Neymar. Pura coincidência, diz. "Já faz tempo que eu queria esse corte."

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