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Celso Bittencourt, superintendente paranista, participa também da comissão interna que investiga possíveis irregularidades na saída de Thiago Neves | Marco André Lima/ Arquivo/ Gazeta do Povo
Celso Bittencourt, superintendente paranista, participa também da comissão interna que investiga possíveis irregularidades na saída de Thiago Neves| Foto: Marco André Lima/ Arquivo/ Gazeta do Povo

Apuração

Com atraso, Paraná cria comissão para investigar polêmicas internas

Enquanto fecha os últimos detalhes do acordo, o Paraná investiga quem foi o responsável pelo prejuízo milionário. O Conselho Deliberativo criou no fim de novembro um grupo de trabalho que analisará os documentos e os autos do processo. O prazo era de dois meses, mas foi prorrogado pelas festas de fim de ano. O grupo encaminhará o resultado ao próprio Conselho, que tratará de tomar possíveis medidas.

"Estamos avaliando se realmente há culpa de alguém para o clube ter tido prejuízo", disse o presidente do grupo, Moacir Baggio. "O próprio Código Civil permite a responsabilização de pessoas pelo prejuízo do clube. Iremos investigar e explicar a todos quando concluirmos", completou Celso Bittencourt, superintendente tricolor e também membro da comissão.

Além da decisão de sacar o valor em juízo e saber como o dinheiro foi gasto, o grupo investigará o procedimento dos advogados contratados pelo clube, que faltaram a um dos julgamentos – pertenciam a um escritório do Rio, local da ação. "Tem uma regra da advocacia que, se não está recebendo ou está descontente, o advogado renuncia ao caso e pede para sair dos autos. Não foi o que aconteceu. Eles saindo, o caso pararia e um novo advogado seria contratado", explicou Bittencourt.

Há exatos cinco anos, em dezembro de 2007, Thiago Neves, então apenas uma promessa do futebol brasileiro, deixava o Paraná rumo ao Fluminense. Porém, a história conturbada que envolveu sua saída só agora caminha para o capítulo final, ao custo de quase R$ 10 milhões. Tudo porque o empresário Léo Rabello, proprietário do grupo Systema, entrou à época na Justiça alegando não ter recebido sua fatia (68%) na transação dos direitos econômicos do meia – a multa rescisória era de R$ 2,3 milhões.

O caso é polêmico. Interna­­mente houve troca de acusações entre empresários, advogados e dirigentes e suspeita de imperícia administrativa. Uma comissão interna foi criada dentro do Conselho Deliberativo tricolor para investigar o caso. Novela que, enfim, parece viver os últimos momentos.

Considerado culpado pela Justiça, o Paraná foi condenado, em maio de 2012, a pagar uma indenização de cerca de R$ 9 milhões (valor original) a Léo Rabello. Número que, corrigido com juros e multa, chegou perto dos R$ 19 milhões.

O Tricolor, porém, não precisará desembolsar todo este montante. O clube conseguiu fechar um acordo no fim do mês passado que diminuirá substancialmente o valor devido. Segundo a reportagem apurou, a indenização bate na casa dos R$ 10 milhões. E não fará necessariamente com que o Tricolor mexa no combalido caixa. Tudo indica que porcentuais de jogadores integrem a negociação.

"Quando finalmente encerrarmos o pagamento do acordo iremos revelar o conteúdo dele, o que foi exatamente gasto pelo clube", afirmou o superintendente tricolor Celso Bittencourt, evitando entrar em detalhes.

A negociação foi costurada durante os últimos meses, incluindo viagens dos dirigentes paranistas ao Rio de Janeiro para tratar presencialmente do acerto com o grupo liderado por Rabello. Perguntado sobre se poderia ter sido envolvida alguma parcela de direito federativo de atleta, William Castilho, advogado que defendeu os interesses da Systema, desconversou. "Pode ser, mas nada pode ser revelado agora", disse. Principal interessado no fim do caso, Rabello vai na mesma linha. "Foram só recursos financeiros. Afirmo que o acordo me agradou. Vi excelente intenção desta diretoria", elogiou o empresário.

Clube fica refém de Léo Rabello

O imbróglio em torno da trans­­ferência de Thiago Neves começou em 2003, ainda na gestão do presidente Ênio Ri­­beiro. Na época o dirigente fez a parceria com a L.A. Sports, fatiando o jogador meio a meio em troca de recursos e gestão compartilhada da base.

Em 2006, o clube, sob o comando de José Carlos de Miranda, se desfez de mais uma parcela do atleta (30%), comprada pela Systema, de Léo Rabello – a L.A. negociou também 30% de sua fatia. Empresa e clube embolsaram US$ 200 mil cada.

"Ele era um menino difícil. Não sabíamos no que ia dar e o clube precisava de dinheiro. Fui aplaudido quando cheguei ao conselho com R$ 400 mil [com a conversão da época]", disse Miranda.

No ano seguinte, Thiago Neves foi emprestado ao Ve­­galta Sendai (Japão). Du­­rante a passagem do jogador pelo Oriente, o Tricolor, precisando de recursos, vendeu o restante de sua participação – 12% para a L.A. Sports (passou a ter 32%) e 8% para a Systema (ficou com 68%).

Naquele ano o meia foi devolvido ao clube. Via L.A. ele assinou um contrato com o Palmeiras. Porém, a Systema o encaixou no Fluminense (opção do atleta). "O grupo Sendas e o Fluminense depositaram em juízo a multa rescisória do contrato, de 2,3 milhões até que o caso fosse julgado", explicou Miranda.

Em 2008, com Aurival Cor­­reia, foi feito o sa­­que da multa e repassado a parte da L.A. (R$ 736 mil). Uma comissão interna foi criada para investigar o que foi feito com o restante do dinheiro (leia mais nesta página). "Para quem não tinha almoço, era necessário o dinheiro. Acabou sendo orientação do Conselho Diretor [fazer o saque e não repassar à Systema], mas acabou sendo desastroso", reconheceu Miranda.

Procurado, Correia foi breve: "Tudo que eu tinha de falar foi falado na época".

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