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Alguns gestos são emblemáticos e indicam claramente a formação, educação e cultura de um povo. Nos Estados Unidos, por exemplo, tão logo as projeções da apuração eleitoral indicam o vencedor, o candidato derrotado se apresenta aos jornalistas, reconhece a vitória do oponente e, elegantemente, cumprimenta o próximo presidente. Nem o anacrônico sistema de contagem de votos americano é colocado em dúvida.

Aqui, toda eleição se transforma em autêntica guerra do mais baixo nível tanto nas campanhas como nos debates. Rasteiramente os candidatos se digladiam e em raras ocasiões os derrotados demonstram comportamento ético e civilizado.

Na França, os opositores respeitam a majestade do ocupante da suprema magistratura da República. Não tem essa de tentar desmoralizar o presidente, como aconteceu por aqui durante os últimos governos democráticos. Não deram sossego para Collor, Fernando Henrique e mesmo Lula. Dilma começa a sentir o peso da pressão na medida em que se avolumam as denúncias de malfeitos no governo.

O problema do Brasil é o baixo nível cultural, ético e moral de diversas pessoas que ocupam cargos relevantes na administração pública. A impressão é de que tem muita gente despreparada e cabos eleitorais nomeados em posições estratégicas nos ministérios, nas estatais e nas agências reguladoras.

Outro equivoco é que em vez de defender o país, defendemos pessoas – lacerdistas, getulistas, janistas, neyistas, lulistas que se deixariam matar pelo seu ídolo; florianistas que, no final do século 19, acreditavam mais no Marechal de Ferro do que nos destinos da jovem República.

Será porque a República, aqui, é recente, de história atribulada permeada por golpes e ditaduras? Ou será porque a nossa realidade só dá pretexto para indignação? São aspectos contraditórios do caráter brasileiro, de uma personalidade nacional ainda não suficientemente amadurecida.

A contradição salta aos olhos: para a maioria o futebol é mais importante do que a vida pública. A paixão está nas ruas, só se fala de futebol, de Felipão, da rivalidade Atletiba, só que não conseguimos transpor esse ímpeto para as questões mais importantes. Todos reclamam das mazelas nacionais, mas comparece mais gente na parada Gay do que em um movimento para diminuir a violência e a criminalidade, ou para reduzir a abusiva taxa do pedágio.

No dia a dia, resmungamos contra tudo o que anda errado, como se não dependesse de nós mesmos remover os entulhos, os arcaísmos, construir um país melhor com a matéria-prima que nos foi generosamente concedida pela natureza.

Temos um longo caminho a percorrer em termos de nação e a camisa verde-amarela da seleção brasileira não deveria ser o único símbolo que une a população de quatro em quatro anos. Ainda somos, lamentavelmente, um produto cultural inacabado.

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