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Melhor jogador em campo, Oscar abriu o placar para o Brasil: “A gente vinha jogando bem e não ganhava. Tiramos isso das nossas costas” | Neco Varella/ EFE
Melhor jogador em campo, Oscar abriu o placar para o Brasil: “A gente vinha jogando bem e não ganhava. Tiramos isso das nossas costas”| Foto: Neco Varella/ EFE

Opinião

Vida longa à Geral

Leonardo Mendes Júnior, repórter

Esqueça por um momento de Felipão, Neymar, volantes, formação de time e esses assuntos que, de tão falados nas mesas redonda, são capazes de fazer até os ouvidos mais fanáticos por bola sangrar. Nada foi mais relevante no Brasil x França do que a reabertura da Geral do Grêmio. Prova de que é possível o velho jeito de torcer coexistir com as modernas arenas da Copa.

A Geral foi fechada no início do ano, depois que torcedores se feriram na avalanche do gol que levou o Grêmio à fase de grupos da Libertadores. Falou-se em cobrir o espaço de cadeiras, encher o fosso de tubarões e crocodilos e outras estratégias que proibissem os torcedores de futebol de... torcerem como torcedores de futebol.

Felizmente, o bom senso prevaleceu. Apenas foram colocadas grades que matam a avalanche, mas não o hábito de torcer em pé. Não há cadeiras e o preço de R$ 60 é razoável para o padrão do estádio. E quem estava ali apresentava um perfil totalmente diferente do restante do público. A começar pelo vestuário – predominância de camisas de times, mais do Grêmio, mas também do Inter, em contraste com o amarelo-Nike dos outros setores. E mais forte ainda no comportamento. Qualquer grito que não fosse "Sou brasileiro com muito orgulho e muito amor" brotava dali, bem como vaias aos colorados Luiz Gustavo e Oscar ou o aplauso ao tricolor Felipão.

Para quem acha que as arenas matam o jeito brasileiro de torcer, a Arena do Grêmio é uma resposta irretocável. Vida longa à Geral.

A vibração foi típica de título. Os jogadores passaram gritando pelo corredor que separa gramado e vestiário na Arena do Grêmio. Na porta, funcionários da CBF recebiam a todos com aplausos e mais gritos. "Aqui é Brasil", exclamou Marcelo, entre um palavrão e um tapa no vidro que protege um enorme painel onde estão pintadas imagens de heróis gremistas.

A melhor apresentação sob o comando de Luiz Felipe Scolari é o último cartão de visitas da seleção brasileira antes da Copa das Confederações. A vitória por 3 a 0 sobre a França, com gols de Oscar, Hernanes e Lucas, ontem, quebrou dois tabus e mostrou que, se ainda não é uma obra pronta, a evolução do time é notória. Mais do que isso, tirou um enorme peso das costas do grupo.

"A gente vinha jogando bem e não ganhava. Tiramos isso das nossas costas", disse o meia Oscar, melhor jogador em campo. "Mesmo jogando contra uma equipe forte como a França, nós conseguimos dar esse passo inicial para ter um time competitivo, bom. Tudo isso foi somado à vitória por 3 a 0. Com isso alguns jogadores se qualificam mais, têm mais confiança, mais personalidade", acrescentou o treinador.

Um time competitivo, bom e muito mais com a cara de Felipão que a do tradicional futebol brasileiro. A maior força ofensiva do Brasil é pelos lados do campo. Daniel Alves, Marcelo, Oscar e Hulk correm rente à linha lateral para lançar uma bola que Fred possa cabecear.

A dupla de volantes, enfim, começa a dar a segurança defensiva esperada por Felipão. Vaiado pela torcida por ter sido formado no Inter e ter tomado o lugar do gremista Fernando, Luiz Gustavo comandou a marcação no meio e, em vários momentos, juntou-se a Thiago Silva e David Luiz como um falso terceiro zagueiro. No lance do primeiro gol, foi agressivo – e faltoso – no desarme a Valbuena e lançou para Fred, que tocou para Oscar.

"Não foi bem uma vaia, mais um ruído. Procurei fazer o simples, até porque na minha função não pode errar. Foi o segundo jogo seguido que não corremos muito risco", analisou Luiz Gustavo – contra a Inglaterra, "sem risco", o Brasil tomou dois gols.

Com a vantagem no placar, Felipão repetiu testes do amistoso anterior. Experimentou o meio-campo com Paulinho mais avançado e Hernanes de segundo volante. O 2 a 0 veio em um contra-ataque puxado pelo corintiano e concluído pelo meio-campista da Lazio, enfim absolvido da expulsão contra a mesma França, em 2010, que tirou o seu espaço com Mano Menezes. "Meu sentimento era de quem pega um livro emprestado e não devolve. Agora já não devo mais nada", comparou.

Alguns pontos carecem de melhora. Os poucos momentos em que a França envolveu o Brasil foram quando conseguiu tocar a bola rapidamente, virtude do Japão, oponente da estreia na Copa das Confederações, em Brasília. Também levou perigo com o seu meia aberto pela esquerda, Payet. É onde joga Giovani dos Santos, destaque do México, rival do dia 19, em Fortaleza.

Neymar ainda parecia estar no Santos. Isolado, deve penar contra marcações mais fortes, como a italiana, adversária da terceira rodada. "Vamos devagar e a gente vai se adaptando", reconheceu Felipão, que acrescentou a quebra de dois tabus ao currículo.

Desde novembro de 2009, quando sob o comando de Dunga fez 1 a 0 na Inglaterra, o Brasil não vencia uma seleção top do futebol mundial. Eram dez jogos de jejum. Contra a França, o último triunfo havia sido em 1992, um 2 a 0 em Paris. Nesse caso, a série quebrada era de seis partidas. "Ainda é cedo para falar que a pressão acabou", alertou Júlio César, o mais experiente jogador da seleção atual.

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