A satisfação estampa o rosto do curitibano Marcos Vinícius Pancini Borges, 32 anos, toda vez que os pupilos de sua academia de MMA, no Alto Boqueirão, entram em pauta durante a entrevista. No sétimo bairro mais violento de Curitiba segundo a Secretaria de Segurança Pública foram registrados 21 homicídios de janeiro a setembro deste ano , ele se orgulha por ajudar a diminuir as estatísticas do crime.
Contagiado por essa força extra, Vina, como é conhecido, vai para sua segunda apresentação no UFC, hoje à noite, em Las Vegas, nos EUA. O duelo contra o norte-americano Johnny Bedford, o sexto do TUF Finale, começa por volta das 22 horas.
Criado na favela do Parolin, o próprio lutador é exemplo de alguém que andou lado a lado com a criminalidade, mas não sucumbiu. Ex-motoboy que alcançou reconhecimento nacional ao participar do reality show The Ultimate Fighter Brasil, ele também luta fora dos ringues.
"A gente faz um trabalho de resgatar vidas. Além de receber na academia gente que só quer cuidar do corpo, malhar, tiramos muita gente das drogas, das ruas, da malandragem. E, para isso funcionar, nossa conduta é tudo", explica o mestre de 30 alunos. São cerca de 10 adultos e 20 crianças que treinam de graça diariamente, ganham vale-transporte e reforço na alimentação.
Mas para aprender o esporte é preciso andar na linha. Respeitar pai e mãe e tirar boas notas na escola são alguns dos mandamentos do Centro de Excelência em Artes Marciais Vinícius Vina. O mais importante deles, no entanto, é o primeiro a ser ensinado.
"É preciso aprender a respeitar o ambiente em que você está, seja ele qual for. Não tem essa de brigar na rua, tem de ter disciplina", prega o professor.
Uilian "Fuga" Alves, 25, e Luiz Henrique "Pelezinho" de Oliveira, 18, são algumas das "conquistas" do projeto. Ambos foram resgatados de um futuro incerto e hoje orgulham o mestre.
"Onde moro, no Parolin, a realidade não é boa. Ele praticamente me tirou da rua", agradece Pelezinho, que treina com o "paizão" Vina desde os 13 anos e até já estreou profissionalmente no MMA. "Tenho vários primos que morreram em consequência do crime. Foi por causa dele [Vina] que não escolhi esse caminho", completa o pupilo, segurando as lágrimas.
"A verdade é que aqui eu aprendi a ser atleta. Tem muita gente que pensa que é, mas sai na noite, bebe, briga na rua. Já fui meio encrenqueiro, mas endireitei. A vontade de estar aqui era maior", enaltece Fuga, outro que também se tornou lutador.
Mesmo sem patrocínios na empreitada, que é bancada pelo ex-motoboy e os dois sócios, no fim o esforço vale a pena. "A gente escuta muito não. Então, fazemos isso por nós mesmos. E como recompensa ganho essa energia deles. Daí fica fácil chegar lá e fazer meu trabalho", conclui.Vinícius Vina e seus pupilos
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