Pedro Pasqualini é considerado um dos melhores jogadores do mundo no Hearthstone.| Foto:
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O universitário Pedro Pasqualini tem apenas 25 anos e, mesmo sendo tão jovem, conseguiu feitos que muitos em sua faixa etária almejam: sair de Curitiba com frequência para viajar pelo mundo participando das competições de jogos virtuais. No caso dele, foi o Hearthstone, um jogo de cartas online, que o levou até o outro lado do globo, na China.

O jovem conta que desde criança costumava frequentar a Itiban Comic Shop. A loja, localizada no Centro de Curitiba, existe há mais de 30 anos e é uma das primeiras do Brasil especializada em histórias quadrinhos (HQs) e mangás, além de cards e boardgames artesanais. O local também é responsável por formar algumas gerações de leitores e criadores de quadrinhos que estão em atuação no Brasil e no exterior. Foi nesse cenário que Pasqualini descobriu não só as HQs, mas os jogos de carta e os RPGs.

Depois de ingressar na Universidade Tecnológica do Paraná (UTFPR), o acadêmico de Ciências da Computação teve seus primeiros contatos com o Hearthstone, em torneios que aconteciam de forma presencial. A pandemia impulsionou os campeonatos on-line e ele conta que começou a ter resultados muito bons em nível mundial. Tanto que hoje, no meio, ele é conhecido como “Pascoa Hearthstone”.

No mundo dos games, Pasqualini buscou evoluir ainda mais. Com muito treinamento e disputando diversos campeonatos, chegou ao nível de Grande Mestre, uma espécie de “expert mundial”.

A carreira do jogador já acumula participações expressivas na Copa América, em São Paulo, e no Americas Summer Championship, na Califórnia (EUA). Além de ter sido finalista e semifinalista de duas temporadas da PromoArena, um campeonato brasileiro de Hearthstone.

Em 2019, ele jogou a WESG na China e foi o único representante brasileiro. “Infelizmente não fui muito bem lá. Mas, em 2021, tive a quinta maior taxa de vitórias do mundo em Master Tours”, comenta, referindo-se aos maiores torneios internacionais, com a participação de centenas de jogadores e que renderam a ele o título de “Grande Mestre”. “Este ano, empatei com o terceiro melhor grande mestre das Américas e, com isso, me classifiquei pra um torneio que qualifica pro mundial e pra temporada global dos Grande Mestres”, explica o gamer, que leva com o orgulho o nome de Curitiba para todas as competições que participa.

DESENVOLVIMENTO DE GAMES CURITIBANOS

Edição do Global Game Jam em Curitiba é uma das dez mais concorridas do mundo. | Foto: Divulgação

O desenvolvedor de jogos digitais, Bruno Campagnolo de Paula, tem 42 anos, mas praticamente metade deles foram dedicados ao mundo dos games. Isso porque lá em meados dos anos 2000, quando a internet não era tão popular assim e o acesso era feito via telefone, com a “famosa” internet discada, ele já dava seus primeiros passos para entrar neste universo.

Depois disso, tornou-se um dos organizadores do evento Global Game Jam (GGJ) em Curitiba, um dos maiores eventos para desenvolvimento de jogos no mundo.

De Paula diz participar desde a primeira edição Global Game, que aconteceu em 2010. Ele explica que é um evento de imersão que recebe cerca de 600 pessoas a cada edição. Durante 48 horas, há um único objetivo comum: desenvolver novos jogos. “Aqui em Curitiba, a Global Game é considerada uma das dez maiores sedes do mundo”, afirma.

O desenvolvedor descreve o que hoje é uma realidade do cenário da capital paranaense, que já chegou a ter uma incubadora de jogos para acelerar o processo de expansão do seu potencial. Entre os exemplos a serem citados e que levam o nome da cidade mundo a fora está o Dungeon Drafters. Os desenvolvedores conseguiram um aporte de aproximadamente US$250 mil, depois de participar de um Kickstarter com bastante sucesso no Japão em 2021.

Já o Opala Studio pode ser considerado uma das empresas curitibanas com maior alcance mundial. Eles são responsáveis por aplicativos mobiles para quem quer fazer música. Em 2018, uma escola francesa utilizou o Super Pads, que simula uma pick-up de DJ, para facilitar o ensino de jovens músicos. Os criadores, inclusive, fazem questão de mostrar que são da capital paranaense e, no site oficial da empresa, destacam que vieram “de Curitiba/Brasil para o mundo”.

PROFISSÃO DO FUTURO

Marcia Alves, professora do curso de Jogos Digitais do UniCuritiba, destaca que a pandemia potencializou o mercado de games em todo o mundo pelo fato de as pessoas permanecerem mais tempo em casa e acessarem ainda mais a internet em busca de entretenimento. “Ainda este ano estamos tendo um crescimento na procura de profissionais por especialização nesta área, para angariar novos postos de trabalho que estão surgindo”, salienta.

As diversas tribos que presenteiam Curitiba em seus 329 anos.

A professora pontua que Curitiba é uma cidade que estimula esse segmento, com incentivos por toda a cidade e principalmente infraestrutura adequada, como acesso à internet de qualidade, para que os profissionais se destaquem mundialmente. “São desde jogos casuais, que a pessoa usa para se divertir em um curto espaço de tempo, como aqueles para o computador, com enredos mais profundos”, comenta a professora sobre os games mais comuns no mercado.

As projeções indicam um vasto campo de trabalho para quem quiser encarar este mercado. Na América Latina, o Brasil é o principal mercado de games e o 12° maior do mundo, segundo dados da Newzoo — empresa que faz análises sobre games e levantamentos referentes ao setor. Em 2021, esse segmento gerou uma receita de US$ 2,3 bilhões.