A ex-presidente da Coreia do Sul, Park Geun-hye, em seus tempos de glória, indo à França se encontrar com François Hollande em junho de 2016. Agora ela vive em uma prisão.| Foto: STEPHANE DE SAKUTINAFP

Os dilemas do ex-presidente Lula diante da Operação Lava Jato são uma novidade na história brasileira, mas estão longe de ser um caso único no mundo. Na América Latina e em outros lugares, muitos antigos governantes tiveram de prestar contas diante dos tribunais – e, não raro, foram parar na prisão. 

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Situações mais comuns são de ex-ditadores que acabaram condenados por violações de direitos humanos, mas não faltam exemplos de líderes eleitos democraticamente que também terminaram atrás das grades, por crimes como corrupção, lavagem de dinheiro ou tráfico de influência. Nos últimos anos, vários desses casos ganharam destaque na imprensa internacional. Conheça alguns deles. 

Park Geun-hye (Coreia do Sul, presa em 2017) 

Primeira mulher eleita democraticamente para presidir um país no extremo Oriente, Park Geun-hye teve uma queda tão estrondosa quanto bizarra na Coreia do Sul. Filha do ex-ditador militar Park Chung-hee, que governou o país de 1961 até seu assassinato, em 1979, ela fez sua carreira política já no período democrático, dentro do partido conservador Saenuri. Após catorze anos como deputada, Park Geun-hye chegou à presidência em 2012 como uma das políticas mais populares do país, com uma plataforma que previa o corte de impostos e a desregulamentação. 

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Nos anos seguintes, o governo Park conquistou ainda mais popularidade, chegando a 63% de aprovação em meados de 2013, quando a revista Forbes a escolheu como a mulher mais influente do Oriente — e a 11ª do mundo. Três anos mais tarde, porém, os índices tinham despencado para 4%. Entre um momento e outro, o declínio da presidente: escândalos de corrupção e abuso de poder, que chegaram a ser ofuscados pela surpreendente revelação de que Park Geun-hye compartilhava segredos de Estado com sua amiga e colaboradora Choi Soon-sil, filha de um líder xamanista, que recebeu o apelido de “Rasputina” — em referência ao conselheiro da família do czar Nicolau II, na Rússia do início do século XX. 

Acusada de abuso de poder, coerção, suborno e vazamento de segredos governamentais, Park sofreu impeachment no final de 2016, e aguarda julgamento na prisão desde 31 de março deste ano. Nesta terça-feira (9), a Coreia do Sul realizou eleições para decidir seu substituto, com a vitória do candidato da centro-esquerda, Moon Jae-In. 

Otto Pérez Molina (Guatemala, preso em 2015) 

Após perder as eleições de 2007, Otto Pérez Molina tentou novamente quatro anos mais tarde, quando chegou à presidência da Guatemala. Seu Partido Patriótico, de viés conservador, embarcou no sucesso do candidato e ocupou, sozinho, mais de um terço das cadeiras do congresso guatemalteco. Tudo isso iria por terra no próximo ciclo eleitoral, quando Molina e seus correligionários já estavam profundamente envolvidos em um escândalo de corrupção conhecido como “La Línea”.  

O “La Línea” consistia em uma série de fraudes ligadas ao contrabando, com a cobrança de suborno a empresários em troca da isenção de impostos aduaneiras. O caso levou à renúncia de Molina em agosto de 2015, e sua subsequente prisão preventiva em 3 de setembro daquele ano. Ainda encarcerado, o ex-presidente nega responsabilidade pessoal nos casos denunciados: “houve corrupção em meu governo, mas eu não cometi nenhum delito”, disse ao jornal espanhol El Mundo. 

Molina não foi o único ex-presidente guatemalteco a passar pela prisão recentemente: Alfonso Portillo, que governou entre 2000 e 2004, foi inocentado em seu próprio país, mas acabou julgado e condenado nos Estados Unidos pela lavagem de mais de 70 milhões de dólares utilizando bancos norte-americanos. Após menos de um ano na cadeia, em Denver, Portillo foi liberado em fevereiro de 2015 e retornou à Guatemala. 

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Carlos Menem (Argentina, preso em 2001) 

Em um país com tradição de condenar seus ex-ditadores militares à prisão (o mais famoso deles, Jorge Videla, morreu no cárcere em 2013), Carlos Menem governou a Argentina entre 1989 e 1999, favorecido por uma reforma constitucional que o permitiu concorrer à reeleição e cumprir dois mandatos consecutivos. 

Menem foi o presidente de uma geração política que colocou as economias sul-americanas no caminho do neoliberalismo, e seu governo experimentou um período de relativa prosperidade econômica que entraria em colapso em 2001, pouco tempo após sua saída do cargo. 

Ele entrou em prisão domiciliar preventiva em junho de 2001, mas sem relação com as dificuldades econômicas que ainda viriam para o país. O ex-presidente argentino começou a ser investigado por contrabando de armas para Croácia e Equador durante o seu governo, violando, respectivamente, o embargo imposto aos croatas pela ONU, e um acordo de paz firmado com os equatorianos em 1942. Mais tarde, Menem também seria investigado por suspeita de ligação com a explosão da fábrica de munições de Río Tercero, em 1995, que matou sete pessoas e teria ocorrido por sabotagem, com o objetivo de acobertar a falta dos itens traficados para os outros países.  

Liberado da prisão domiciliar ainda em 2001, no mês de novembro, Menem não se afastou da vida pública nem dos problemas judiciais: Senador da República desde 2005, ele foi condenado a sete anos de prisão em 2013, pelo escândalo das armas, e a mais quatro anos e seis meses em 2015, por peculato. Aos 86 anos e com mandato no Senado até o final deste ano, ele segue em liberdade apesar das condenações por conta do foro privilegiado, que lhe permite só cumprir a pena após ter seu caso apreciado pela Suprema Corte da Argentina. 

Alberto Fujimori (Peru, preso em 2009) 

Acusações não faltaram contra Alberto Fujimori. Presidente do Peru entre 1990 e 2000, Fujimori foi eleito democraticamente duas vezes, mas é considerado por muitos críticos um ditador, após ter dissolvido o Congresso com o auxílio das Forças Armadas, no chamado “autogolpe de 1992”. 

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Envolvido em escândalos de corrupção e violação de direitos humanos, Fujimori, descendente de japoneses, fugiu para o país oriental em 2000 para não enfrentar a Justiça peruana. Desde seu exílio autoimposto, o ainda presidente enviou uma carta de renúncia que não foi aceita pelos parlamentares de seu país, que decidiram afastá-lo do poder através de um processo formal de impeachment. 

Fujimori acabaria enfrentando as cortes peruanas após ser preso em 2005, durante uma visita ao Chile, que o extraditou em seguida. O ex-presidente enfrentou numerosas acusações por seu envolvimento nos assassinatos e sequestros promovidos pelo esquadrão da morte conhecido como Grupo Colina, durante os enfrentamentos com grupos guerrilheiros nos anos 90. Por violação de direitos humanos, ele foi condenado a 25 anos de prisão, recebendo penas adicionais de sete anos por ordenar operações ilegais de busca e apreensão, outros sete anos e meio por apropriação indébita de 15 milhões de dólares, e mais seis anos após admitir culpa em uma acusação de suborno. 

Apesar do acúmulo de condenações, a lei peruana exige que as penas sejam cumpridas em simultâneo e não ultrapassem o total de 25 anos. Fujimori, atualmente com 78 anos, segue na prisão. Apesar do histórico do pai, sua filha Keiko Fujimori é uma personalidade ativa na política do Peru, tendo concorrido duas vezes à presidência do país e chegado muito próxima do cargo: em 2016, teve a preferência de 49,9% dos eleitores no segundo turno, sendo derrotada por Pedro Pablo Kuczynski por uma diferença de apenas 41 mil votos.

José Sócrates (Portugal, preso em 2014) 

Primeiro-ministro de Portugal entre 2005 e 2011, o socialista José Sócrates estava no cargo quando a crise econômica pegou o país em cheio e abreviou seu governo. Após ter suas medidas de ajuste rejeitadas pela Assembleia, Sócrates apresentou sua carta de demissão e se afastou da vida pública, mas nem por isso deixou de frequentar o noticiário: agora, por conta das denúncias das quais era alvo. 

Ele foi preso preventivamente em 2014, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, em quantias estimadas em cerca de 20 milhões de euros. O caso do ex-premiê causou ainda mais ultraje em Portugal pelo fato de Sócrates ter, segundo a procuradoria, retirado o dinheiro do país fazendo uso da legislação fiscal que ele próprio lutou para aprovar. Sócrates passou para prisão domiciliar em setembro de 2015 e, no mês seguinte, já estava livre da tornozeleira eletrônica. 

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O caso do ex-premiê ainda tramita na justiça portuguesa e, embora em liberdade, José está proibido de sair do país e de contatar outros investigados no escândalo. As investigações também levantaram a suspeita de que, após seu mandato, Sócrates teria usado sua influência junto ao ex-presidente Lula para que o governo Dilma Rousseff concedesse vantagens à empresa farmacêutica Octapharma, para a qual o ex-premiê trabalhou após deixar o governo.