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Tentar ditar quais palavras usamos é uma maneira de exercer poder sobre nossos pensamentos
Tentar ditar quais palavras usamos é uma maneira de exercer poder sobre nossos pensamentos| Foto: BigStock

Recentemente eu encontrei uma matéria no jornal Philadelphia Inquirer que expõe quatro palavras e frases racistas que deveriam ser banidas do idioma inglês. Começa assim:

"Nota do editor: lembre-se de que os termos ofensivos são repetidos aqui apenas com o objetivo de identificá-los e analisá-los honestamente. Esses termos podem incomodar alguns leitores."

Se prepare, corajoso leitor, aqui estão eles:

  • Peanut gallery (Nota do Tradutor: em tradução literal seria “Galeria do amendoim”, mas o significado mais aproximado é de "turma do amendoim", as pessoas que ficam nos lugares mais baratos do cinema ou - no Brasil - a turma que produz apupos durante o espetáculo)
  • Eenie meenie miney moe (Nota do Tradutor: uma cantiga infantil americana)
  • Gyp (Nota do Tradutor: enganar alguém)
  • No can do (Nota do Tradutor: uma maneira coloquial de se recusar a fazer algo)

O mesmo gramático autor do artigo já havia criticado a “conotação profundamente racista” da palavra “thug (baderneiro, em tradução aproximada)”, observando que o presidente Donald Trump “não teve nem um pouco de receio” ao chamar os manifestantes de Minneapolis de “baderneiros” em um tuíte, apesar da palavra ter um histórico óbvio de intolerância.

Em 2015, o presidente Barack Obama se referiu aos manifestantes de Baltimore como "baderneiros" também. Ele provavelmente fez isso porque "baderneiro" -- cuja definição é "pessoa violenta, especialmente um criminoso" -- é uma boa maneira de descrever os manifestantes. É verdade que nem todos em um tumulto se envolvem em ações criminosas e violentas. Alguns manifestantes são meramente “saqueadores” - “pessoas que roubam mercadorias durante um tumulto”. Essa palavra também está supostamente imbuída de racismo, de acordo com o editor executivo do Los Angeles Times.

Tentar ditar quais palavras podemos usar é uma maneira de exercer poder sobre como pensamos. Poucas pessoas, com razão, teriam problemas em se referir aos nazistas de Charlottesville como "baderneiros" ou “criminosos”. Somente o "manifestante" que derruba uma estátua de Ulysses S. Grant ou participa de um tumulto antifa é poupado da indignidade de ser rotulado adequadamente.

Os recentes ataques à língua inglesa consistem na maior parte em eufemismos e jargões pseudocientíficos destinados a esconder verdades objetivas -- "cisgênero", "heteronormatividade" e assim por diante. Agora estamos no estágio da revolução, em que palavras completamente inofensivas e úteis são classificadas como problemáticas.

A CNN fez recentemente sua própria lista de palavras e frases com conotações racistas que ajudaram a fortalecer o racismo sistêmico nos EUA. Cidadãos desavisados, explica o artigo, podem nem estar cientes de que estão praticando tais crimes linguísticos, porque a maioria das palavras tem um uso "tão arraigado que os americanos nem pensam duas vezes em utilizá-las. Mas alguns desses termos estão diretamente relacionados com a escravidão. Outros evocam noções racistas sobre os negros.” Ou, dizendo de outra maneira, o significado dessas frases e palavras é tão obscuro que uma pessoa comum nem saberia se sentir ofendida se não fosse pela CNN.

O termo “turma do amendoim” -- como em “por favor, nenhum comentário da turma do amendoim” -- é racista porque remonta aos dias em que americanos pobres e negros foram relegados às seções mais baratas dos cinemas. Agora, eu odeio ser pedante, mas a "turma do amendoim" não está "diretamente relacionada" na história do país com a escravidão. Como a própria CNN aponta, a expressão não foi usada até depois da Guerra Civil. Aliás, poucas das palavras e frases que a CNN alega serem problemáticas estão relacionadas, mesmo no sentido mais tênue, ao comércio transatlântico de escravos.

Nem mesmo a palavra "escravidão", que é um conceito tão antigo quanto a humanidade, é de alguma maneira exclusivamente americana. No entanto, na semana passada, o Twitter anunciou que estava retirando as palavras "master (mestre)" e "slave (escravo)" de sua codificação, para criar uma "linguagem de programação mais inclusiva". Somente nesse ambiente intelectual sufocante eliminar palavras usadas com frequência é algo considerado “inclusivo”. Outras empresas de tecnologia estão agora "confrontando" o uso dessas palavras inócuas para expiar seus crimes imaginários.

Sinto culpa zero usando a palavra "mestre". Até a CNN admite que "embora não esteja claro se o termo está relacionado com a escravidão americana, mesmo assim ela evoca essa história".

Está mais do que claro. A etimologia da palavra "mestre" é do inglês antigo e vem do latim "magister", que significa "chefe, diretor, professor, comandante". Os mestrados foram concedidos pela primeira vez a professores universitários no século XIV na Europa.

Até alguns meses atrás, o “quarto master” evocava visões de quartos bem grandes, e o Torneio Masters evocava imagens de lendas do golfe como Tiger Woods, vencedor de quatro títulos. Simplesmente porque os nazistas usaram a palavra "mestre" em suas teorias raciais pseudocientíficas -- não na década de 1840, mas na década de 1940 -- não significa que estou ofendido pelo mestre de obras. Somos adultos aqui e podemos compreender o contexto.

Ou pelo menos costumávamos ser. Os intelectuais obcecados por raça agora dominam o discurso americano. Como um professor disse à CNN, embora muitas frases ofensivas "não tenham se originado em tempos de escravidão", o uso de palavras como "preto" para descrever basicamente qualquer coisa "é uma retórica subconscientemente racializada".

Você pode apontar que o termo “blackballing (N.d.T: que significa em linhas gerais rejeitar alguém)” se originou no final do século XVIII da prática de colocar uma bola de cor preta em uma urna para votar “não” e não tinha absolutamente nada a ver com escravidão, mas seu subconsciente racista conta uma história diferente. Ou você pode apontar que a expressão "marca negra" apareceu pela primeira vez no romance “Sybil” de Benjamin Disraeli, de 1842 -- "Não haverá uma marca negra contra você?" -- que trata da classe trabalhadora inglesa e não tem nada a ver com a escravidão.

Sinceramente, estou desapontado por a CNN não ter usado "blackmail (chantagem)" -- palavra que aparece em 439 reportagens em seu site. A frase foi usada pela primeira vez para descrever o dinheiro de proteção coletado por mafiosos escoceses de meados do século XVI. Talvez sejam os escoceses que devessem ficar ofendidos.

Privar os americanos de "eenie meenie miney moe" - uma frase com uma história confusa e complicada -- não vai machucar ninguém. Por outro lado, permitir que os queixosos ideológicos decidam que palavras podemos usar. . . bem, “no can do (não posso deixar)”.

"Se os pensamentos podem corromper a linguagem, a linguagem também pode corromper os pensamentos", escreveu Orwell. Toda vez que surgir uma nova linguagem politicamente correta, a CNN e toda a mídia tentarão nos intimidar até sermos subservientes. Especialistas progressistas vão rir das nossas preocupações com a linguagem orwelliana. E todos eles imediatamente darão início à próxima rodada de pensamento de grupo e degradarão ainda mais a linguagem e o pensamento. Se permitirmos que as tentativas aparentemente inócuas de controlar palavras e pensamentos sejam aceitas sem contestação, este nefasto controle será muito mais fácil no futuro.

© 2020 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês
Conteúdo editado por:Jones Rossi
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