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Um homem usando máscara passa pelo National Covid Memorial Wall, uma homenagem àqueles que morreram por Covid-19, em Londres, Grã-Bretanha
Um homem usando máscara passa pelo National Covid Memorial Wall, uma homenagem àqueles que morreram por Covid-19, em Londres, Grã-Bretanha, 26 de novembro de 2021.| Foto: EFE / EPA / VICKIE FLORES

No começo da pandemia as autoridades de saúde titubearam a respeito das máscaras. A Organização Mundial da Saúde, por exemplo, chegou a recomendar até junho de 2020 que não-infectados não as usassem, com o argumento de que elas serviam apenas para que os infectados não espalhassem o vírus: evitar a saída, não a entrada.

Hoje, as máscaras seguem obrigatórias na maior parte do país, independentemente do status de infecção. Apesar da plausibilidade física — bolas de tênis podem passar pelos buracos de uma rede de futebol, mas passam menos do que se não houvesse rede — pairavam ainda muitas dúvidas no começo da pandemia a respeito da real eficácia das máscaras. Alguns temiam que elas dessem uma falsa sensação de segurança, motivando as pessoas a adotarem outros comportamentos de risco. Essas dúvidas finalmente começaram a ser sanadas por estudos mais rigorosos.

A revista Science publicou no começo do mês um estudo do professor de Economia de Yale Jason Abaluck, e parceiros, envolvendo 572 vilas rurais de Bangladesh, um total de mais de 330 mil pessoas. O estudo durou dois meses, entre 2020 e 2021, durante os quais as infecções no país atingiram 15 mil casos por dia. Os cientistas incentivaram o uso universal das máscaras, em vez de apenas entre os sintomáticos, com diferentes campanhas educativas em uma parte das vilas escolhidas ao acaso, e testaram também a diferença entre máscaras de tecido (100 vilas) e máscaras cirúrgicas (200 vilas).

Os participantes que apresentaram sintomas foram chamados para testes para confirmar Covid-19 pelo método da seroprevalência, baseado em anticorpos. O estudo concluiu que as máscaras reduziram em quase 12% a prevalência de sintomas de suspeita da doença, o que se reflete em 9,5% de redução na infecção confirmada pelo teste de sangue. As máscaras cirúrgicas deram resultados similares na população em geral, mais promissores nas faixas etárias maiores: 23% de redução de infecções entre pessoas na faixa dos 50 anos, 35% entre maiores de 60.

As campanhas dos pesquisadores funcionaram: nas vilas em que incentivaram máscaras, 42% das pessoas as usaram, em comparação a apenas 13% nas vilas em que somente o governo de Bangladesh tentava (sem sucesso) impor o uso delas. Ao menos neste país, a persuasão, especialmente quando feita presencialmente, funcionou melhor que a imposição. Houve também um efeito menor de aumento do distanciamento social com as campanhas, especialmente nos mercados, mas não nas mesquitas, em que as normas islâmicas estabelecem preces ombro a ombro.

Redução da carga viral

Como a adesão às máscaras no estudo foi uma questão de diferença, não chegando a ser realmente universal, os cientistas apostam que a proteção conferida pelas máscaras é bem maior que os cerca de 10% de redução de sintomáticos e infectados observados. A proteção conferida não é somente uma questão de evitar que o vírus chegue às vias aéreas: também existe uma proteção que vem com a redução de quantas partículas virais são aspiradas ou engolidas na infecção inicial.

Os pesquisadores não encontraram o efeito de engajamento em mais comportamento de risco por uma sensação falsa de segurança. É importante lembrar que esses resultados dizem respeito principalmente a ambientes fechados. O vírus da pandemia não é duradouro em espaços abertos, onde o uso da máscara faz menos sentido.

Mais estudos

A Cochrane, respeitada organização de revisão rigorosa de estudos médicos, publicou em novembro, antes do estudo discutido acima, uma nova revisão a respeito de intervenções não-medicamentosas, como as máscaras, para conter a Covid-19. Os autores examinaram 67 estudos a respeito, envolvendo outras infecções respiratórias além da pandêmica.

Concluíram que o uso de máscaras médicas ou cirúrgicas confere pouca ou nenhuma diferença na quantidade de pessoas que se infectam com doenças similares à gripe. As conclusões a respeito de máscaras melhores como N95 e P2 foram as mesmas. A publicação diz que “não tem certeza se usar máscaras ajuda a ralentar a disseminação de vírus respiratórios”, mas recomenda cautela a respeito dessas conclusões. É menos pessimista a respeito de outros hábitos como lavar as mãos.

Devido à transmissibilidade do SARS-CoV-2 e suas variantes, é melhor que pensemos nas máscaras não como escudos, mas como instrumentos para retardar quando nos infectamos e quantos de nós se infectam por unidade de tempo. Dessa maneira, a sua importância está mais em tornar a pandemia manejável do que em contê-la. A imunidade, seja ela resultado de infecções prévias ou de inoculação com as vacinas, e os tratamentos medicamentosos, precoces ou tardios, são a real linha de frente de combate que nos ajudará a transicionar de pandemia para endemia, o curso natural que a Covid-19 deve seguir.

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