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Cena do quadro Church Lady, do programa humorístico americano Saturday Night Live
Cena do quadro Church Lady, do programa humorístico americano Saturday Night Live| Foto: Reprodução

"Medievais que vão ao Starbucks" é como o linguista John McWhorter descreve os devotos da nova religião woke, que repetem dogmas, expulsam hereges e rejeitam a razão, uma religião que está se tornando imposta pelo estado, universidades e corporações do Ocidente, apesar de ser rejeitada pela maioria dos cidadãos. O credo muitas vezes se autodenomina “antirracismo”, embora pratique o racismo de forma livre e franca quando propõe, por exemplo, que seguir os mesmos padrões de outros grupos não é viável para os negros.

Para descrever os fiéis, McWhorter rejeita o termo “wokester” [de tradução quase impossível, mas algo como "militante"] como sendo muito carregado (embora eu ressalte que tanto “woke” quanto “politicamente correto” começaram como termos usados ​​pelo grupo, não por estranhos hostis) e, em vez disso, refere-se a os praticantes da nova religião como “os eleitos” em seu astuto e pungente livro "Woke Racism: How a New Religion Has Betrayed Black America" (Racismo militante: Como uma nova religião traiu a América Negra).

McWhorter enfatiza que a nova obsessão com as queixas raciais como a fons et origo [fonte e origem, em latim] de todas as doenças sociais não é como uma religião; é uma religião, ponto final. É inútil discutir com seus adeptos porque suas visões dogmáticas são fundamentais para sua autoimagem. Essa religião não é propriamente definida como “política” ou como um “movimento de justiça social”. A solene reverência dos fiéis – o crítico do New York Times A. O. Scott chamou o livro de Ta-Nehisi Coates de “essencial, como a água ou o ar” – está ao nosso redor.

Aqueles que discordam que, por exemplo, privilégio/supremacia branca é o principal problema nos Estados Unidos em 2022 são simplesmente denunciados – “SATANÁS?!” – da maneira que a personagem carola de Dana Carvey costumava descrever todos os fenômenos suspeitos no quadro "The Church Lady" no Saturday Night Live [se você souber inglês, vale buscar no YouTube. Os quadros são hilários]. Quando seguidores dessa religião consideram algo “problemático”, você deve entender que eles estão dizendo que é uma blasfêmia. “Essa ideologia estipula que o principal dever moral de alguém é combater o racismo e o racista”, escreve McWhorter.

É por isso que pessoas legais, normais e altamente inteligentes podem ser encontradas nas mídias sociais exigindo a destruição do meio de vida de um total estranho por esta ou aquela observação passageira: a heresia deve ser implacavelmente exterminada em nome de uma religião que professa a tolerância. “O progresso do antirracismo... saiu do ativismo político concreto de Martin Luther King [Jr.] aos compromissos baseados na fé de um Martinho Lutero.” Essa doeu. “Progresso” pode ser muito parecido com retroceder o calendário em 500 anos.

A nova religião tem um mito de origem: a afirmação absurda do projeto de 1619 do New York Times de que a Revolução Americana foi travada para preservar a escravidão. Tem uma Bíblia de três testamentos: "Entre o mundo e eu", de Coates [livro lançado no Brasil pela Editora Objetiva], "White Fragility" (Fragilidade Branca, sem edição no Brasil), de Robin DiAngelo, e "Como ser antirracista" [lançado no Brasil pela Ed. Alta Cult], de Ibram X. Kendi. Pratica vigorosamente o julgamento de hereges no Twitter.

Curiosamente, porque aqueles de nós à direita não estão ao alcance da nova igreja em primeiro lugar, dificilmente podemos ser exilados da maneira que um editor do New York Times ou colunista da New York Magazine pode ser. Somos malditos pagãos de qualquer maneira, então não contamos. (Razão suficiente para se juntar à nossa causa, eu digo.) McWhorter observa que a nova religião está até mesmo corrompendo e, em alguns casos, engolindo a antiga religião. Em 2020, ele escreve: “O cristianismo americano em muitos lugares começou uma transição lenta para uma nova versão 'woke' de si mesmo”, com o privilégio branco sendo posicionado como um pecado de apodrecimento da alma.

Lançando um olhar raivoso sobre a teoria crítica da raça, McWhorter a descarta como “uma ideologia frágil e performática, que... rejeita o raciocínio linear, a teorização jurídica tradicional e até mesmo o racionalismo iluminista. Devemos favorecer a ideia de que a “história” de uma raça oprimida constitui a verdade absoluta...”. Quão cansativo, quão limitado é reduzir toda a experiência negra à possibilidade de que alguém pode acabar como George Floyd. “Quando a ‘identidade’ é pensada como central para o significado intelectual, estético e moral, o leque de interesses inevitavelmente se estreita”, escreve ele. “Como tal, a religião woke desencoraja a curiosidade genuína.”

Tratar a nova religião como inofensiva porque ela supostamente pelo menos tenta promover a posição dos negros é uma falácia. Essa ideologia causa graves danos aos negros: "nos ensina que somos as primeiras pessoas na história da espécie para quem é uma forma de heroísmo abraçar o slogan 'Sim, não podemos!'"

Mais concretamente, a religião woke ignora completamente o dano causado aos cidadãos negros por criminosos negros quando exige que o financiamento da polícia seja cortado, ou o dano causado aos estudantes negros quando ignora taxas mais altas de mau comportamento e crime por meninos negros na escola para produzir uma narrativa mais estatisticamente compatível.

No ensino superior, a ação afirmativa cria um descompasso perpétuo entre estudantes negros e suas escolas que leva muitos deles à frustração e ao fracasso; um estudante negro que poderia se sair perfeitamente bem em uma faculdade de direito de segunda linha se vê incapaz de acompanhar o ritmo ultrarrápido de uma instituição de elite e acaba desistindo. “Os danos aos negros são tão variados e desenfreados que qualquer pessoa comprometida com essa religião e ainda por cima a chama de antirracista anda com certa vergonha”, escreve McWhorter.

'Woke Racism' é, como praticamente tudo que McWhorter escreve, notável por sua coragem; ele sabe que a cabeça fria e a aplicação metódica da lógica são tão bem-vindas na discussão do racismo quanto uma onda de calor em uma pista de esqui. Calmamente, ele aconselha os leitores a simplesmente aceitarem que serão considerados racistas (ou, se forem negros, traidores que odeiam a si mesmos) por se oporem a essa religião. No entanto, devemos recuar. Em vez de se encolher e prometer reconhecer o pecado, você deve pensar em si mesmo como “Galileu sendo instruído a não fazer sentido porque a Bíblia não gosta disso”. Da coragem derivam as outras virtudes. 'Woke Racism' não é tão importante quanto a água ou o ar, mas é leitura essencial da mesma forma.

©2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês
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