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A rede de farmácia Walgreens fechou 22 lojas nos últimos cinco anos devido à "epidemia de furtos" em São Francisco.
A rede de farmácia Walgreens fechou 22 lojas nos últimos cinco anos devido à “epidemia de furtos” em São Francisco.| Foto: Wikimedia Commons

Thomas Baltimore Jr., presidente e CEO da rede Park Hotels and Resorts, anunciou no início deste mês que sua empresa deixará de pagar um empréstimo de US$ 725 milhões em dois dos maiores hotéis de São Francisco, o Hilton San Francisco Union Square e o Parc 55. Baltimore citou a baixa demanda e "preocupações com as condições das ruas" como razões para interromper os pagamentos dos imóveis, que serão devolvidos aos credores.

A decisão é mais um golpe para o centro de São Francisco e a Califórnia, que têm enfrentado uma saída massiva de pessoas e empresas. Na verdade, a lista de empresas que deixaram o estado é longa demais para ser enumerada em um único artigo —  inclui grandes companhias da Fortune 500, como Hewlett-Packard, Chevron e Pabst Brewing, além de outras em rápido crescimento, como Snowflake, Palantir e Tesla.

São vários os motivos para as empresas estarem abandonando a Califórnia em massa. As políticas rigorosas de lockdown durante a pandemia provavelmente não ajudaram, e o clima fiscal e regulatório do estado também desempenhou um papel significativo. E há ainda o problema da criminalidade, que a Park Hotels, discretamente, evitou mencionar.

Poucos negariam que a criminalidade é uma preocupação crescente no “estado dourado”, especialmente nas grandes cidades. Em 2021, o jornalista do New York Times Thomas Fuller foi a uma loja da rede Walgreens em São Francisco para comprar uma escova de dentes e viu um homem entrar na loja, pegar um monte de alimentos e sair. "Sou novo na cidade", disse Fuller ao atendente. "É opcional pagar pelas coisas aqui?"

Fuller se referia ao que chamou de "epidemia de furtos", que ele atribuiu às mudanças na lei da Califórnia que reclassificaram roubos como contravenções caso os bens roubados totalizem menos de US$ 950. Vídeos nas redes sociais mostram pessoas entrando em lojas, carregando produtos e saindo sem pagar.

Essa cultura fez com que empresas como a Walgreens, que fechou 22 unidades apenas em São Francisco ao longo de cinco anos, deixassem de fazer negócios em muitas dessas localidades. Muitos acusaram a rede de farmácias de exagerar em sua justificativa, e os legisladores californianos recentemente deixaram claro que não levam o assunto a sério.

No início deste mês, o senado da Califórnia aprovou o Projeto de Lei 553, que desencoraja os empregados de lojas de varejo a confrontar ladrões. A legislação, aprovada semanas após um segurança da Home Depot ser baleado e morto durante um roubo em Pleasanton, busca proteger os funcionários, proibindo os empregadores de instruírem suas equipes a enfrentar os criminosos.

"O que estamos dizendo no projeto de lei é que não é aceitável para os empregadores dizerem para um trabalhador comum: 'Ei, se houver um intruso, você terá de intervir'", disse o senador Dave Cortese a uma emissora de notícias local.

Mesmo aceitando o argumento de Cortese de que a legislação não impede os funcionários de intervirem em casos de furto — e apenas torna ilegal que os empregadores façam esse tipo de pedido —, o resultado seria desastroso.

Uma lei que proíbe os patrões de dizer aos empregados que os clientes não podem pegar o que quiserem sem pagar certamente incentivaria o furto. Isso promoveria ainda mais a cultura descrita por Fuller, em que pagar pelas coisas é "opcional".

Essa é o contexto que está levando as empresas a deixarem a Califórnia. Não se trata apenas de crime, altos impostos ou circunstâncias pandêmicas. É uma cultura que demonstra desdém pelos direitos de propriedade, que são a fonte de todas as garantias humanas e um pilar da civilização.

"No momento em que a sociedade admite a ideia de que a propriedade não é tão sagrada quanto as leis de Deus e não há uma força da lei e da justiça para protegê-la, a anarquia e a tirania começam", escreveu John Adams em 1787. "Se 'Não cobiçarás' e 'Não roubarás' não fossem mandamentos divinos, ainda assim eles deveriam ser preceitos invioláveis em toda a sociedade, para que ela possa ser civilizada ou livre".

Há anos os legisladores californianos têm mostrado um completo desprezo pelos direitos de propriedade. Tornar ilegal que os empregadores instruam os funcionários a impedir que os clientes roubem é apenas o exemplo mais recente.

Enquanto não mudar essa cultura e demonstrar que respeita os direitos de propriedade das pessoas e empresas, a Califórnia continuará a decair e perder belos hotéis como o Hilton San Francisco Union Square e o Parc 55.

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