No livro “Uma Nova África”, Magatte Wade propõe que a saída da pobreza não está na caridade ou na reescrita do passado, mas na construção de ambientes de negócios livres e dinâmicos| Foto: Imagem criada utilizando ChatGPT/Gazeta do Povo
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Da pobreza rural ao Vale do Silício, a empreendedora senegalesa Magatte Wade carrega na bagagem a experiência de quem superou dezenas de entraves — da burocracia estatal à falta de infraestrutura — para criar negócios prósperos na África e nos Estados Unidos.

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Diretora da principal organização de think tanks africanos de abertura econômica, Wade foi reconhecida pela revista Forbes como uma das “20 Mulheres Jovens Mais Poderosas” daquele continente e despertou a admiração de pensadores como Jordan Peterson, que a convidou para seu podcast e elogiou sua crença inabalável no capitalismo e no livre mercado.

No livro “Uma Nova África: Como Impulsionar o Crescimento em Economias Frágeis Superando a Narrativa de Inferioridade” (selo Avis Rara), ela propõe que a verdadeira saída da pobreza não está na caridade ou na reescrita do passado, mas na construção de ambientes de negócios livres e dinâmicos. Para Wade, empresas são ferramentas de transformação: geram empregos, renda e, sobretudo, expectativas de futuro.

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No trecho a seguir, a autora explica por que a “facilidade de empreender” é hoje o principal desafio e a maior esperança para o continente.

Por que a África ainda é pobre? É uma pergunta que me fazem com frequência e que me assombra há anos. E me assombra porque a resposta é simples, mas nem todo mundo a entende.

Talvez você acredite que é devido à colonização. Sem dúvida, a colonização foi terrivelmente cruel muitas vezes e deixou muitas cicatrizes. Mas (e sei que isto vai irritar muita gente) eu não acredito que a colonização seja a raiz da pobreza na África hoje, mais de 60 anos depois.

Muitos países foram colonizados e, mesmo assim, saíram da pobreza. Singapura, por exemplo, e Dubai. Ou Coreia do Sul e China, inclusive. Esses países foram pobres, até que, um dia, deixaram de ser.

As Ilhas Maurício, que em 1960 não tinham quase nenhuma atividade econômica, estão agora no terço superior global. Botsuana é um país de renda média alta, e Ruanda tem apresentado um crescimento acelerado nos últimos anos.

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Então, qual é a resposta? Por que tantas nações africanas ainda são pobres, ao passo que algumas estão crescendo? É a corrupção? A geografia? A educação? Habilidades? Desnutrição?

Para quem não é um empreendedor, a resposta é invisível. Provavelmente você não a veja porque provém de um país que lhe permitiu nunca ter que pensar nisso.

A resposta é: o ambiente dos negócios na África é o pior do mundo. É por causa de nossas leis que os empresários africanos vivem acorrentados, e essas correntes nos impedem de criar riqueza e administrar empresas prósperas.

O futuro é africano

Em Singapura, na Dinamarca, na Nova Zelândia ou nos Estados Unidos é bem simples abrir uma empresa. Em contrapartida, na maioria das nações africanas é muito difícil.

As leis que possibilitam fazer negócios na África estão entre as piores do mundo, e isso não é força de expressão. Pesquise. Dos 20 países com a classificação mais baixa do mundo em termos de facilidade para abrir uma empresa, 13 estão na África. Isso dá quase 70%!

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Só há uma maneira de a África se tornar próspera, e não é por meio da caridade, ajuda ou educação. É por meio de empresas. Empresas geram empregos. Empregos permitem que as pessoas ganhem dinheiro. E quando os africanos tiverem dinheiro, deixarão de ser pobres.

É uma equação simples, certo? Infelizmente, não. Ficaremos presos em um ciclo interminável de pobreza enquanto essas correntes não forem finalmente quebradas e nossos mercados não forem livres.

Talvez você se pergunte o que tem a ver com isso. Talvez você não seja africano e sua vida esteja ótima. Portanto, por que deveria se importar?

Porque, até 2050, 25% da população mundial será africana. Isso mesmo: uma a cada quatro pessoas na face da Terra será africana.

E você sabe qual é a média de idade na África? Dezenove anos! Na América do Norte e na Europa, esse número é de 38 anos e 42 anos, respectivamente.

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O futuro é africano. Seu destino, e o de todo o mundo, está ligado ao nosso.

Burocracia avassaladora

Como empreendedora africana que sou, sofri na pele as dificuldades de fazer negócios na África. A infraestrutura é uma bagunça; as regulamentações são absurdas, e a burocracia é avassaladora. É quase impossível abrir empresas formais/legais, contratar funcionários e crescer.

Mas há esperança. Existe um caminho a seguir. O caminho para a prosperidade na África passa pelas Startup Cities, que são cidades com leis e governo próprios projetadas para fornecer um ambiente amigável e propício para que as empresas se estabeleçam e prosperem, criando empregos e oportunidades para todos.

Isso não é uma fantasia; é uma estratégia de validade comprovada. No mundo todo, países seguiram modelos similares que empoderaram empreendedores e permitiram a inovação. E o resultado foi sempre o mesmo: riqueza e prosperidade para os cidadãos desses países.

As Startup Cities têm o poder de quebrar as correntes da pobreza na África. A criação de ambientes de negócios de alto nível é o caminho comprovado para nosso futuro próspero.

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Seja você africano ou não, viva na África ou não, seja um ativista, investidor, doador ou um empreendedor, posso lhe prometer que esta não é uma historinha bonitinha sobre caridade e ajuda. É uma história sobre a realidade de fazer negócios na África e os desafios únicos que os empreendedores enfrentam nesta região.

É uma história sobre as razões pelas quais todas as tentativas externas de “salvar a pobre África” fracassaram e continuarão fracassando. Mas, acima de tudo, é uma história sobre o potencial africano de ser um farol de esperança para o mundo.

Não menospreze os africanos

Sendo uma mulher africana que nasceu no Senegal, cresceu na França, construiu uma carreira de sucesso no Vale do Silício e depois criou empresas lucrativas na África e nos Estados Unidos, sou especialmente qualificada para orientá-lo nessa jornada.

Quando eu tinha 30 anos, fundei uma empresa de bebidas de inspiração africana chamada Adina, com mais de US$ 30 milhões em capital e distribuição nacional nos Estados Unidos. Atualmente, administro outra empresa na África chamada SkinIsSkin, que fabrica produtos para cuidados da pele com receitas senegalesas.

Também tive a bênção de falar sobre este tema no mundo todo: nas Nações Unidas, nas palestras TED, no Aspen Institute, em Harvard, Yale, MIT, Stanford e na Clinton Global Initiative, além de conferências na França, no Reino Unido, em Dubai, na Guatemala, Nigéria, Arábia Saudita, em Ruanda, no Gabão, no Senegal, na Tanzânia, Mauritânia e muitos outros lugares. E talvez você tenha me ouvido falar no podcast de Jordan Peterson ou no de Lex Fridman.

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Uma de minhas paixões é compartilhar meu conhecimento e experiência com os outros, e a missão de minha vida é criar prosperidade em minha amada África. Para que suas crenças sobre como ajudar a África passem de “redução da pobreza” a construção de prosperidade.

É hora de parar de menosprezar os africanos. É hora de interromper o ciclo interminável de caridade e ajuda que só leva a mais pobreza.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]