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Engenharia genética de vírus
Vírus da família do causador da pandemia de Covid-19 têm seu material genético modificado em laboratório há mais de duas décadas.| Foto: Bigstock / vchal

Um novo estudo afirma ter encontrado uma assinatura molecular que denunciaria uma origem laboratorial para o SARS-CoV-2, o vírus causador da pandemia de Covid-19. Os autores primeiro descobriram que tipo de marca um vírus da família dos coronavirídeos teria em seu material genético ao ser manipulado em laboratório. Depois, descobriram que o novo coronavírus da pandemia tem a marca e concluíram disso que ele “é uma anomalia, mais provavelmente um produto de montagem de genoma sintético em vez de evolução natural”.

O material genético dos vírus, como o nosso, é uma molécula longa (chamada DNA ou RNA) que armazena informações na sequência de seus blocos construtores chamados nucleotídeos. Para mudar a informação genética, como a que leva o vírus a ser mais ou menos infeccioso em humanos, é necessário mudar a ordem da sequência desses blocos, que são de quatro tipos. Há anos, uma das técnicas mais usadas para fazer esse tipo de engenharia genética em vírus é baseada em enzimas, que são moléculas menores capazes de iniciar ou acelerar reações químicas. Especificamente, são usadas enzimas de restrição, com origem em bactérias.

As enzimas de restrição são como tesouras que cortam o material genético, mas somente em lugares específicos chamados sítios de restrição, curtas sequências de nucleotídeos em palíndromo (um palíndromo é uma palavra ou frase lida da mesma forma ao contrário, como “ovo” e “a grama é amarga” — os nucleotídeos são representados com as letras ATCG). Em suma, sítios de restrição são pontos de corte. Com os cortes, os cientistas podem remover ou inserir sequências de nucleotídeos para alterar o vírus.

A pista molecular

Há mais de 20 anos virologistas usam as enzimas de restrição, junto a outras técnicas, para montar o genoma (material genético completo) de coronavirídeos. No caso desses vírus, o material genético tem cerca de 30 mil nucleotídeos encadeados. Ele é partido com as enzimas em cinco a oito pedaços, cada um com menos de 8 mil desses blocos. Para a montagem, os cientistas modificam os sítios de restrição, que ficam diferentes dos encontrados normalmente nos coronavírus selvagens. Além de modificar, podem inserir ou remover sítios. Esta é a marca de manipulação laboratorial que os autores encontraram no novo coronavírus da Covid-19.

Os autores do estudo calcularam quais distribuições ao acaso de pontos de corte existem em vírus não modificados em laboratório, e o tamanho dos fragmentos de material genético que deixariam caso tratados com tipos específicos de enzima de restrição. Observaram também como são os cortes e o tamanho dos pedaços em vírus já manipulados em laboratório e aparentados ao vírus da pandemia, como um vírus causador da síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS) modificado segundo os critérios descritos em um artigo de 2013.

Os sítios modificados pelos cientistas ocorrem a intervalos mais regulares que os selvagens, para facilitar o trabalho de montagem. Esses intervalos de corte delimitam fragmentos que são mais curtos que os esperados na natureza. O vírus da Covid tem como maior fragmento após tratamento enzimático um trecho com 25% da extensão total de seu genoma. Sob o mesmo tratamento, os vírus selvagens tipicamente têm como maior fragmento o equivalente a 43% de seu genoma. A probabilidade de achar um coronavírus selvagem com esse mesmo padrão do SARS-CoV-2 é de apenas 1%.  Levando em conta outros tipos de enzimas e seus pontos de corte, essa probabilidade é reduzida para 0,07%.

Além de ter esses padrões, o SARS-CoV-2 não tem pontos de corte “inconvenientes” para a pesquisa nos mesmos lugares que seus parentes mais próximos têm, um sinal de que foram removidos. Na análise de mutações (mudanças nos nucleotídeos) envolvendo os dois vírus mais aparentados conhecidos, um dos quais só existe em banco de dados do Instituto de Virologia de Wuhan, os autores mostram que o novo coronavírus tem um padrão também muito improvável de ter emergido de forma puramente natural. O instituto alega que esse vírus aparentado foi extraído de fezes de morcego e que a amostra se esgotou.

Não é a única pista molecular

Como a Gazeta do Povo noticiou de forma pioneira (e ainda solitária no Brasil) em novembro de 2020, há outro sinal de modificação laboratorial do SARS-CoV-2: a presença suspeita de uma estrutura molecular chamada “sítio de clivagem da furina”, cuja inserção artificial em vírus é conhecida na literatura científica, e que está ausente nos parentes mais próximos do vírus encontrados na natureza, como o mencionado acima (além do parente extraído de fezes), encontrado no Laos.

Uma ONG atuou como intermediária de verbas de pesquisa entre o governo americano e o Instituto de Virologia de Wuhan, localizado na cidade chinesa em que ocorreu o primeiro surto de Covid-19. Documentos revelaram que o presidente dessa ONG pediu dinheiro da Darpa, agência de fomento de pesquisa ligada à defesa, para inserir sítio de clivagem da furina em coronavírus de laboratório. A verba foi negada.

O novo estudo depende de pistas indiretas que ainda não foram sujeitadas à revisão por pares. Os autores são Valentin Bruttel, da Universidade de Clínicas de Würzburg, Alemanha; Alex Washburne, da empresa americana de biotecnologia Selva Analytics; e Antonius VanDongen, da Universidade Duke, nos Estados Unidos.

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