• Carregando...
As personagens Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg), na novela “Babilônia”
As personagens Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg), na novela “Babilônia”| Foto: Alex Carvalho/Globo

Há quase seis anos, o horário nobre da Rede Globo de televisão se despedia de uma de suas empreitadas mais catastróficas. Escrita por Gilberto Braga e Ricardo Linhares - dupla que já rendeu vários títulos de sucesso para a casa -, a novela “Babilônia” estreou sob grandes expectativas em janeiro de 2015, mas foi marcada por baixos índices de audiência e mudanças drásticas no enredo que surtiram pouco efeito junto ao público.

“Babilônia” acabou no hall de “novelas-problema” da emissora, das quais pouca gente se lembra, exceto por uma cena que foi ao ar logo no primeiro capítulo: um beijo lésbico entre as personagens de Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg. Embora haja quem credite o fracasso da trama à suposta aversão do público à cena (o que não impediu que o beijo entre as duas atrizes se repetisse nos últimos capítulos), a novela sequer foi reconhecida pelo seu teor político no Brasil.

Ocorre que na ilha comunista onde a trama é reprisada sob o título de “Mujeres ambiciosas”, a recepção do enredo foi um pouco diferente. Em Cuba, não foi só o beijo lésbico da estreia que nunca aconteceu: uma discussão entre os personagens de Fernanda Montenegro e Marcos Palmeira, que passou despercebida pelo público brasileiro, saltou aos olhos dos censores do Instituto Cubano de Rádio y Televisón (ICRT) e desapareceu das telas. O assunto era democracia.

"Você manipula o medo de seus eleitores. Você tem a obrigação de ouvir vozes dissidentes, em vez de fazer política contra uma parte da população" diz Teresa, a personagem de Fernanda, ao político corrupto vivido por Palmeira, que responde que só deve ouvir “a maioria”. "A maioria que não respeita a minoria é uma ditadura, não é uma democracia. Aprenda: a democracia respeita o direito de todos. Todos", responde Teresa.

Cubanos que conhecem a versão original da novela protestaram nas redes sociais. “Esse pedaço eu não vi no capítulo de ontem. Quem não deve não teme!”, escreveu um internauta. “Típico das ditaduras comunistas. Na Alemanha Oriental também havia uma equipe dedicada exclusivamente a revisar o material do filme e cortar o que não era permitido antes de lançar o filme ao público, há documentários sobre isso”, disse o rapper cubano Michael Marichal, opositor da ditadura. À Gazeta do Povo, o artista comentou que a censura aos artistas em Cuba é “o pão de cada dia”.

Recentemente, o filme “Com amor, Simon”, produzido pela Netflix, que conta a história de dois adolescentes gays, também teve uma cena censurada na ilha. Diante dos protestos, o ICTR pediu desculpas e divulgou a versão na íntegra. O órgão ainda não se posicionou sobre a cena de “Babilônia”. Para o roteirista Paulo Cursino (“De Pernas Para o Ar”, “O Candidato Honesto”), o corte às cenas não surpreende. “"A perseguição a homossexuais em Cuba é histórica. Não é novidade que isso aconteça. O que é estranho é ver os progressistas brasileiros apaixonados por Che Guevara não comentarem nada”.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]