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Não só a Era das Luzes chegou ao fim. Na verdade, a ciência em si se politizou e está gravemente corrompida.
Não só a Era das Luzes chegou ao fim. Na verdade, a ciência em si se politizou e está gravemente corrompida.| Foto: Pixabay

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) publicaram recentemente um relatório intitulado “Queda nas Taxas de Hospitalização por Covid-19 Associada à Obrigatoriedade do Uso de Máscaras — 10 Estados, março a outubro de 2020”. O relatório se atém a 10 lugares incluídos na Rede de Observação das Hospitalizações Associadas à Covid-19.

Esse relatório apresenta uma queda nas taxas de hospitalização de até 5,6% em adultos (de 18 a 65 anos) e atribui isso ao uso de máscaras e/ou à obrigatoriedade do uso de máscaras em vários estados. Essas taxas foram comparadas às taxas de quatro semanas antes dos decretos que tornaram as máscaras obrigatórias. Assim, e por meio da regressão estatística, as taxas menores de hospitalização foram atribuídas aos decretos que obrigavam o uso de máscaras.

Antes de mais nada, a publicação inicial do CDC (5 de fevereiro a 21 de fevereiro de 2021) foi maculada por importantes imprecisões que posteriormente foram resolvidas numa errata(25 de fevereiro de 2021). É admirável que o CDC tenha feito o necessário para corrigir os erros. Os relatórios do CDC, considerado a principal agência de saúde pública dos Estados Unidos, devem ser sempre os melhores, ainda mais levando em conta que os conselhos dados pelo CDC são levados a sério no mundo todo.

A conclusão do CDC sobre a obrigatoriedade no uso de máscaras parece fazer sentido, a não ser que a pessoa conheça os dados científicos associados à ineficiência das máscaras na transmissão da Covid-19 (como exemplo, temos as referências 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15). Nestes casos, as descobertas na verdade contradizem boa parte do que hoje se sabe. A conclusão do CDC talvez fizesse mais sentido se as provas empíricas sobre a obrigatoriedade do uso de máscaras no mundo real não existissem (por exemplo, temos as referências 1, 2, 3, 4).

O CDC realmente acredita que as máscaras evitam que o mascarado pegue Covid-19 ou a transmita a outros? O CDC admite que as provas científicas são confusas, já que seu mais recente relatório se baseia em muitas questões científicas sem resposta. Mas mesmo que fique claro, cientificamente, que as máscaras, desde que usadas adequadamente, são capazes de reduzir a transmissão, outra coisa é concluir que um decreto governamental fará mais bem do que mal, ainda que como uma questão estritamente biológica e epidemiológica. A obrigatoriedade do uso de máscaras pode não ser obedecida; as máscaras obrigatoriamente usadas talvez não sejam usadas da forma mais adequada; algumas práticas, como o uso de máscaras duplas, podem trazer prejuízos, sobretudo para as crianças; e, mesmo que o uso obrigatório de máscaras consiga aumentar o número das pessoas que as usam adequadamente, a obrigatoriedade e a publicidade a ela associada podem reduzir a atenção do público para outras garantias mais eficientes, como as práticas de higiene.

Assim, não é de se surpreender que a conclusão recente do próprio CDC sobre o uso de medidas não-farmacêuticas como as máscaras faciais na pandemia de gripe, alertava para o fato científico de que “provas obtidas em 14 testes não demonstraram qualquer efeito substancial [das máscaras] na transmissão”. Além disso, no manual de 2019 da OMS sobre medidas não-farmacêuticas de saúde pública, lê-se sobre as máscaras que “não há provas de que elas sejam eficientes na redução da transmissão”. Da mesma forma, numa simulação duplo-cego recente sobre o uso de máscaras duplas, o CDC disse que “as descobertas dessas simulações quanto ao uso de máscaras não devem ser extrapoladas para sua eficiência (...) nem interpretadas como algo que represente a eficiência dessas máscaras quando usadas em ambientes reais”.

Vejamos os dados que vêm da Suécia, obtidos por Jonas F. Ludvigsson, sobre crianças com menos de 16 anos e que frequentaram pré-escolas e escolas sem o uso de máscaras e quando o distanciamento social era estimulado. O resultado foi zero (0) morte por Covid-19 em 1,95 milhão de crianças suecas ao longo do período estudado. A quantidade de infecções foi extremamente baixa, assim como as hospitalizações, e não houve mortes de crianças por Covid-19, apesar de elas não usarem máscaras, já que não havia a obrigatoriedade. Seria apenas um alerta superficial e de caráter jurídico o feito pelo CDC de que “os números podem variar?” Ou é mais como um fundo de gestão financeira dizendo que “o desempenho passado não garante resultados futuros”? O que o CDC está tentando dizer sobre as máscaras e por que tanta confusão?

Temos reservas quanto à metodologia empregada e as conclusões a que chegou o estudo do CDC sobre máscaras duplas e trataremos disso no momento apropriado, mas novamente o aviso que diz que “as descobertas dessas simulações quanto ao uso de máscaras não devem ser extrapoladas para sua eficiência (...) nem interpretadas como algo que represente a eficiência dessas máscaras quando usadas em ambientes reais” semeiam a dúvida em relação ao valor do relatório. Por que então o CDC se daria ao trabalho de divulgar as descobertas? Qual o impacto disso na saúde pública? Qual o benefício?

Além disso, no mesmo estudo sobre máscaras duplas, o CDC indicava que ele trazia prejuízos como a dificuldade de respirar. Na verdade, os prejuízos (referências 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10) são bem reais, mas são ignorados pelas autoridades médicas na imprensa e os burocratas.

Sobre isso, o dr. Anthony Fauci, conselheiro médico da Presidência, gerou confusão ao sugerir e estimular o uso de máscaras duplas. O dr. Fauci depois voltou atrás. Mas os conselhos do dr. Fauci se transformaram em falas dúbias que parecem aleatórias ou, pior, ditas apenas por capricho. Isso só distorce a necessidade desesperada por conselhos por parte do público; conselhos ruins podem ser prejudiciais em vários níveis. Essa forma aleatória de aconselhamento não se restringe a um caso. Por exemplo, ainda que as vacinas sejam a única forma de a sociedade voltar ao normal, o dr. Fauci agora diz que, mesmo com a vacinação, as pessoas ainda devem deixar de frequentar aglomerações públicas e restaurantes, e que essas restrições devem durar até o fim de 2021. Ainda que seja necessário mudar o discurso diante de novos dados, defendemos que isso não serve para as máscaras (ou a vacinação).

Abaixo estão os principais defeitos científicos ou ambiguidades analíticas no relatório mais recente do CDC sobre o uso obrigatório de máscaras:

  1. A principal prova do CDC, o estudo baseado em lugares determinados em dez estados onde o uso das máscaras foi tornado obrigatório de março a outubro de 2020, não incluía o período entre novembro de 2020 e fevereiro de 2021 (que poderia servir para analisar outros fatores, como a incidência de luz solar e a vitamina D) e parece não ter levado em conta os efeitos de fatores como o fechamento de escolas e mudanças nas práticas de distanciamento social. O período compreendido entre 22 de março e 12 de outubro de 2020 representa a primavera, o verão e o começo do outono, quando as atividades ao ar livre aumentam. Claro que isso leva a mais exposição à luz solar, com o consequente aumento de vitamina D, enquanto ao mesmo tempo há reduções notáveis no confinamento a espaços fechados, o que necessariamente reduz a oportunidade de transmissão da doença. Uma abordagem mais rigorosa da análise, incluindo todos os dados disponíveis (isto é, sem excluir quatro meses inteiros) talvez levasse os estudiosos à conclusão de que o uso obrigatório de máscaras não teve efeito sobre a doença ou sobre o número de casos. E, de acordo com os avisos mencionados acima, o CDC indicou em seu próprio relatório que as conclusões do estudo em favor do uso de máscaras eram, na melhor das hipóteses, apenas moderadamente confiáveis.
  2. O CDC analisou mudanças na taxa de hospitalização, sem comparar infecções, sintomas e taxas de mortalidade entre os estados com e sem decretos que tornavam as máscaras obrigatórias. Os dados disponíveis sobre isso sugerem que o curso da pandemia não foi afetado pelo uso obrigatório de máscaras.
  3. The CDC usou o Método dos Mínimos Quadrados (MMQ), usando “x” como “uso de máscaras” e tendo por variável “y” o número de casos de Covid-19) apesar de a regressão simples não ser a abordagem ideal para isso. Acreditamos que o método melhor seria a regressão ortogonal, que geraria resultados mais confiáveis.
  4. Com base no relatório, parece que a regressão feita pelo CDC se baseava em dados obtidos de lugares limitados dentro de um estado, e não do estado como um todo.
  5. O relatório do CDC não trata nem discute dados recentes baseados em análises controladas de alta qualidade, assim como o estudo dinamarquês publicado no Annals of Internal Medicine, que não descobriu nenhum impacto estatístico ou clínico no uso de máscaras para a taxa de infecção por Covid-19, nem uma publicação recente na qual pesquisadores estudaram a transmissão da Covid-19 entre fuzileiros navais em Parris Island (n=1.848) que, voluntariamente, se submeteram a uma quarentena de duas semanas em casa, seguida por mais duas semanas de quarentena numa universidade. A principal descoberta foi a de que, apesar da quarentena rígida, que incluía duas semanas de confinamento total e depois distanciamento social e o uso de máscaras de acordo com protocolos, a taxa de transmissão não foi reduzida e, na verdade, pareceu maior do que se esperava, apesar do plano experimental e do rigor associado ao estudo.
  6. O relatório do CDC não trata nem contextualiza a experiência do “mundo real” que mostra que decretos de uso obrigatório de máscara em lugares onde as máscaras já são usadas têm pouco efeito, e que o uso obrigatório de máscaras decorrente de decretos pode estar associado ao aumento de casos (referências 1, 2, 3, 4). Isso, obviamente, pode não ser uma relação de causa e efeito, mas a mesma crítica pode ser feita contra correlações ou regressões que vão na direção oposta.

Com base em nossa análise do relatório do CDC sobre máscaras, nos vemos incomodados com o método em si e, por extensão, com as conclusões. As provas empíricas no mundo real existem e indicam que, em vários países e estados norte-americanos, quando os decretos de obrigatoriedade no uso de máscaras foram obedecidos, houve um inexorável aumento no número de casos. Vimos que, em estados e países que já usam frequentemente máscaras, os decretos têm pouco efeito. Não houve qualquer benefício nos decretos de uso obrigatório de máscaras na Áustria, Alemanha, França, Espanha, Reino Unido, Bélgica, Irlanda, Portugal e Itália, e estados como Califórnia, Havaí e Texas. Mais importante, não vemos uma relação de causa e efeito entre a implementação dos decretos e o aumento nos casos, mas exigimos a mesma abordagem quando se trata de dizer que há uma relação causal entre os decretos e afirmações semelhantes, feitas pelo CDC, de que suas descobertas dão suporte à implementação desses decretos no país.

Acreditamos que a inclusão de indícios de que os decretos sobre o uso obrigatório de máscaras são ineficientes no mundo todo e nos estados norte-americanos ajudaria a compor um relatório mais equilibrado, amplo e esclarecido. Sobretudo quando consideramos as provas sobre o uso obrigatório de máscaras “em estados que emitiram decretos, houve 9.605.256 casos confirmados de Covid-19, numa média de 27 casos por 100.000 habitantes por dia. Em estados que não tornaram as máscaras obrigatórias — incluindo estados que nunca emitiram esse tipo de decreto e estados que passaram um tempo sem tornar o uso de máscaras obrigatório — houve 5.781.716 casos, uma média de 17 casos por 100.000 habitantes por dia. Em outras palavras, os decretos que obrigam o uso de máscaras de proteção tem um histórico de ineficiência quanto ao controle da pandemia. Estamos com decretos em vigor tiveram, em média, 10 casos por 100.000 habitantes por dia a mais do que estados sem decretos”.

A aceitação cega do dogma atual é tamanha que, se os casos aumentam, os especialistas que defendem o uso de máscaras chegam a dizer que isso é bom, sugerindo que as máscaras evitam mais casos ainda. Esse é um belo exemplo de tautologia e desafia a razão. Esse tipo de relatório e sugestão científica nos incomoda, já que eles se baseiam em hipóteses, suposições e especulações.

As máscaras para a população em geral, da forma como são usadas hoje (tanto máscaras cirúrgicas quanto máscaras de pano), são ineficientes (sobretudo quando usadas sem outras medidas) e o corpo probatório é claro. Um artigo recente publicado no Washington Post falava do uso de máscaras durante a Gripe Espanhola de 1918 e concluía que as máscaras eram inúteis. Concordamos totalmente com a dissidência de Klompas no New England Journal of Medicine, de que “está claro que o uso universal de máscaras apenas não é uma panaceia. Uma máscara não protegerá os profissionais que cuidam de um paciente com Covid-19 se isso não estiver acompanhado por uma meticulosa higiene das mãos, uso de luvas e avental. Uma máscara apenas não evitará que os profissionais de saúde com Covid-19 contaminem suas mãos e transmitam o vírus para pacientes e colegas. O foco no uso de máscaras pode, paradoxalmente, levar a mais transmissões de Covid-19 se desviar a atenção de medidas mais básicas de controle”. Ficamos assustados sobretudo com os prejuízos causados pelo uso de máscaras e a incapacidade das agências e dos líderes norte-americanos (assim como a imprensa) de discutirem esses problemas sempre que mencionam as máscaras.

Concluímos implorando para que o CDC leia as críticas com o mesmo espírito com que elas foram formuladas. Admiramos a análise científica contínua dos lockdowns, do fechamento das escolas e dos decretos que tornam as máscaras obrigatórias, medidas impostas pelo CDC e outros. Estamos totalmente dispostos a considerar qualquer indício que contradiga o que vimos, e que sugerem que lockdowns e escolas fechadas não são eficientes, e, como apresentamos aqui, sugerem que o uso obrigatório de máscaras não é eficiente. Mais importante, e para manter a validade da pesquisa científica como uma ferramenta, e a confiança do pública dessas pesquisas, os relatórios de tais pesquisas deveriam tratar de forma mais abrangente das ambiguidades e falhas existentes, assim como das conclusões a que os relatórios chegam.

Confiar na ciência significa confiar no método científico, e não apenas “seguir o líder”. Não se trata de confiar, sem comprovação, nas afirmações de seres humanos apenas porque eles detêm o conhecimento científico ou credenciais. Isso é importante sobretudo se as visões dessas pessoas se politizaram. O dr. Martin Kulldorff, de Harvard, recentemente falou das pesquisas atuais sobre a Covid-19, dizendo que “depois de 300 anos, a Era das Luzes acabou”.

Infelizmente temos de concordar que não só a Era das Luzes chegou ao fim. Na verdade, a ciência em si se politizou e está gravemente corrompida.

Paul E. Alexander é formado em epidemiologia pela McMaster University de Ontário, Canadá, mestre pela Oxford University e PhD pelo Departamento de Métodos de Pesquisa da McMaster University.

Contribuíram com o artigo:

Howard C. Tenenbaum DDS, Dip. Perio., PhD, FRCD(C) Centre for Advanced Dental Research and Care, Mount Sinai Hospital, Faculties of Medicine and Dentistry, University of Toronto, Toronto, ON, Canadá
Ramin Oskoui, MD, CEO, Foxhall Cardiology, PC, Washington, DC oskouimd@gmail.com
Dr. Parvez Dara, MD, MBA, daraparvez@gmail.com

© 2021 AIER. Publicado com permissão. Original em inglês
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