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Protesto estudantil em janeiro, em Paris, contra a lei do presidente Emmanuel Macron, que elevou a idade da aposentadoria de 62 para 64 anos
Protesto estudantil em janeiro, em Paris, contra a lei do presidente Emmanuel Macron, que elevou a idade da aposentadoria de 62 para 64 anos| Foto: EFE/Rafa Cañas

A caminho de um passeio no cemitério parisiense de Père Lachaise, de onde conseguia ouvir o som de motins, sirenes e a descarga de latas de gás lacrimogêneo à distância, passei por um pequeno parque com um aviso em sua grade anunciando uma campanha municipal contra os ratos. Dentro do parque havia muitas caixas de plástico pretas com veneno de rato para atrair os roedores até sua morte. As caixas estão lá, mas muitas vezes não o veneno.

Fora das grades, o lixo estava se acumulando porque a equipe de limpeza estava em greve, protestando contra a lei do presidente Emmanuel Macron, que elevou a idade da aposentadoria de 62 para 64 anos. Os ratos tinham carta branca para fazer o que quisessem e não demorou muito para a população de ratos aumentar. Aparentemente, a população vinha aumentando de qualquer forma, mesmo sem este impulso malthusiano à reprodução.

Acontece que nem toda a população ou o conselho municipal se opõem inequivocamente aos ratos, de acordo com um texto do jornal Le Figaro. O problema dos ratos se tornou ideológico, como praticamente todos os outros. De uma forma mais ampla, este desenvolvimento pode estar indiretamente relacionado com a queda da União Soviética, depois da qual as pessoas mais ideológicas tiveram que se satisfazer com uma causa diferente do marxismo, e encontraram uma onde puderam.

A conselheira de Paris para questões animais, Douchka Marcovitch, do Parti animaliste (Partido animalista), argumenta que os ratos, longe de serem um incômodo, são auxiliares na eliminação de resíduos. "Estimamos que os ratos comem várias toneladas de resíduos por dia", disse ela. "Ao contrário das ideias preconcebidas, eles são ativos e não passivos na manutenção efetiva da limpeza das cidades. Devemos mudar o paradigma. Devemos nos perguntar sobre o modo de vida dos ratos, para que possamos encontrar maneiras eficazes e éticas de lidar com eles."

Alguns vão ainda mais longe. O grupo de interesse Paris animaux zoopolis (PAZ) colocou cartazes dizendo "Vamos reverter os clichês sobre os ratos"! Na escrita cor-de-rosa, os cartazes declaram: "Emoções, inteligência, altruísmo, sofrimento, vida social... compartilhamos com eles o essencial".

E como compartilhamos 70% de nosso DNA com ratos, sem dúvida os humanos são 70% ratos – ou será que 70% dos humanos são ratos?

De acordo com a PAZ, precisamos aprender "a compartilhar o espaço urbano com animais não humanos de forma pacífica… Hoje, em sua concepção atual, o espaço urbano é reservado exclusivamente aos seres humanos. Devemos acabar com esta ideia antropocêntrica. A política separatista conduzida pelo Conselho de Paris em relação aos ratos, entre os que estão nos parques e os que estão nos esgotos, é injusta. Com que direito privamos certos animais de todo acesso à luz do dia?".

A PAZ apresenta um ponto racional: a política de usar, quase exclusivamente, anticoagulantes como um meio de reduzir ou controlar a população de ratos levou, como que para confirmar a teoria da seleção natural, cerca de 40% da população de ratos a não ser mais suscetível a seus efeitos. Outros meios de controle menos dolorosos estão agora disponíveis: contraceptivos orais para ratos, por exemplo.

Nem todos são tão a favor dos ratos, é claro. Jacques d'Allemagne, um profissional qualificado de desratização (e, na minha experiência, essas são sempre pessoas interessantes para conversar), disse: "Às vezes há tantos [ratos] nos parques que os jardineiros se aposentam. Já vi moradias públicas nas quais os habitantes têm tanto medo [dos ratos] que não levam seu lixo para os caixotes, mas jogam para fora das janelas. Quando não se traz uma solução para as pessoas, elas fazem o que podem por si mesmas. Eles experimentam receitas que encontram na Internet: almôndegas com vidro moído, por exemplo, com todas as consequências que essas medidas podem ter para os animais domésticos".

A Academia Nacional de Medicina também emitiu um comunicado, no qual se lê: "Chamado de Rattus norvegicus, rato marrom ou rato norueguês [ou ratazanas], ele é a espécie comensal humana mais prejudicial devido a sua grande adaptabilidade, suas necessidades alimentares, sua intensa prolificidade e, especialmente, as zoonoses bacterianas, virais e parasitárias das quais ele pode ser o vetor…"

E continuam: "É importante lembrar que o rato permanece uma ameaça à saúde humana devido às muitas zoonoses transmitidas por seus exoparasitas, seus excrementos, suas picadas ou seus arranhões. A urina dos ratos pode contaminar o meio ambiente com leptospirose [dos quais houve 700 casos no ano passado na França, 70 dos quais fatais]".

Sem dúvida, o Parti animaliste diria que tais medos são exagerados. Afinal, o que são 0,01% de todas as mortes humanas contra a vida e o sofrimento de milhões de criaturas que, segundo a PAZ, até riem quando recebem cócegas?

Talvez o aspecto mais significativo desta história é que 61% dos parisienses se opõem ao uso de meios letais de controle do número de ratos, e que os jovens têm uma opinião mais favorável aos ratos do que os mais velhos, quem sabe por causa do filme Ratatouille.

© 2023 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês.

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