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Flávio Dino
Flávio Dino, ministro da Justiça, em março de 2023.| Foto: EFE/ Isaac Fontana

O ministro da Justiça, Flávio Dino, em defesa à declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo o qual “a sociedade não tem que saber como é que vota o ministro da Suprema Corte”, alegou na terça-feira (5) que a corte constitucional americana “delibera exatamente assim”. Uma mínima atenção às decisões dos ministros americanos, contudo, é suficiente para saber que isso é falso. Os dois políticos brasileiros continuam com os planos de longo prazo para tornar sigilosos os votos individuais dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A principal motivação parecem ser os votos do ministro Cristiano Zanin, que têm desagradado a base da militância governista.

Na Suprema Corte dos Estados Unidos, conhecida pela sigla SCOTUS (de Supreme Court Of The United States), os cidadãos são informados dos placares das decisões e têm acesso tanto a votos individuais quanto ao voto síntese da opinião da maioria — o voto síntese não é usado no STF. É possível que um ministro dispense a publicação de um voto individual detalhado quando concorda com a maioria, mas não é possível que mantenha em sigilo como votou. Mesmo os que votam com a maioria com frequência publicam votos “concorrentes” quando desejam acompanhar na conclusão, mas divergir quanto à fundamentação, ou esclarecer seus motivos. Os que discordam da maioria publicam votos divergentes.

Transparência sem estrelismo

O acesso do cidadão americano aos votos é por texto. Diferente do STF, que desde 2002 transmite os votos dos ministros pela televisão, a SCOTUS disponibiliza apenas o áudio das sessões em que as partes em cada processo defendem suas causas. Os juízes americanos interagem com os advogados, fazendo perguntas e, às vezes, até provocando.

Prova de que há acesso aos votos individuais foi o uso das opiniões dos dois ministros negros, Clarence Thomas e Ketanji Brown Jackson, como um debate público a respeito da decisão que derrubou as cotas raciais como critério de entrada nas universidades americanas em junho. “Essa visão de responder ao racismo social com racismo imposto pelo governo é contraproducente”, opinou Thomas, conservador. “A maioria parece pensar que ser cego diante de raça resolve o problema da desvantagem baseada em raça”, retrucou Jackson, progressista. Tudo isso está publicamente disponível no site da Suprema Corte (o link é para os textos originais em inglês).

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