Para psicólogos e educadores, o conteúdo que os menores veem não contém apenas sexo explícito: também é machista e violento.| Foto: Nicolas Herrera/Unsplash
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Projetos como Fight the New Drug ['Lute Contra a Nova Droga'] nos Estados Unidos, The Light Project ['O Projeto Luz'] na Nova Zelândia ou Dale una Vuelta [expressão que também pode significar 'Pense Sobre Isso'] na Espanha lançam luz sobre a dimensão do problema do consumo de pornografia entre menores (e adultos) e quais são suas consequências na vida afetiva e sexual.

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As três iniciativas estão empenhadas em repensar a forma como concebemos o sexo na sociedade moderna.

Os dados sobre o acesso à pornografia por menores estão agora em toda parte. Estudos situam a primeira idade de contato antes dos 13 anos, embora quase um em cada dez o acesse antes dos 10 anos, de acordo com um relatório da [organização voltada para o direito das crianças] Save the Children.

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O conteúdo que os menores veem não é apenas sexualmente explícito, mas também machista, violento e coloca os adolescentes em verdadeiros buracos negros onde o nível de agressividade só aumenta.

Tudo isso é distribuído massivamente entre os canais em que eles estão presentes, como redes sociais, chats de mensagens ou uma simples pesquisa na internet.

Jorge Gutiérrez Berlinches, diretor e promotor do Dale Una Vuelta, explica: "Antes o futebol era gratuito e a pornografia, codificada. Agora a pornografia é gratuita e o futebol, codificado".

Todos concordam que é necessário educar melhor os jovens da "geração pornográfica". Contudo, o consenso termina aqui, porque tudo o que vai além (em que deve consistir essa educação, quem vai ensiná-la e como será transmitida) é um campo minado que polariza e divide.

Segundo a psicóloga Carola López Moya, um adolescente que consome pornografia "pensará que o sexo só responde ao seu próprio prazer, desumanizará a outra pessoa e será incitado ao consumo compulsivo".

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Além disso, o sucesso da pornografia reside no fato de prometer sempre uma experiência nova. Para manter o usuário preso e empolgado, o conteúdo aumenta de intensidade.

Isso causa muita confusão e desconforto nos adolescentes, que ficam excitados com algumas imagens moralmente ruins, como observam estudos divulgados pelo grupo The Light Project.

A Save the Children também aponta esse fenômeno em seu relatório. "O desejo sexual da população adolescente baseia-se, em grande medida, no consumo de pornografia. Os profissionais de pesquisa concordam que a normalização de certas práticas 'atenua a moralidade ou a ética' e torna mais fácil que comportamentos violentos e humilhantes se tornem parte do desejo sexual na adolescência."

Para Jorge Gutiérrez Berlinches, a desorientação sobre as próprias preferências sexuais é uma das consequências mais preocupantes da pornografia.

Toda esta hipersexualização é promovida pelo entretenimento mainstream e chega aos adolescentes por meio do cinema e da televisão, que oferecem imagens explícitas que antes eram reservadas à pornografia.

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"Os adolescentes acostumam o cérebro com todo esse conteúdo, e é muito fácil pular para uma página pornográfica", afirma a psicopedagoga e educadora Blanca Elía.

A Save the Children concorda com o diagnóstico. "O acesso a conteúdos sexualmente explícitos através de produtos culturais normalizados condiciona e incentiva pesquisas futuras. A intensidade do conteúdo pornográfico aumenta quando é ativamente pesquisado após um primeiro contato com imagens sexuais por meio de filmes ou séries de televisão", diz um de seus documentos sobre o tema.

Impacto da pornografia é diferente para meninos e meninas

A pornografia afeta negativamente mulheres e homens, mas tem um impacto mais direto na objetificação e hipersexualização de meninas e adolescentes, afirma a jornalista Nuria Coronado, que pesquisa o assunto.

Na verdade, "enquanto os rapazes consomem conteúdos concebidos para eles, através dos quais satisfazem as 'necessidades instintivas', as meninas mergulham na pornografia como um método para 'aprender' o que se espera delas", diz a organização Save the Children.

Dados do The Light Project, por sua vez, mostram que a pornografia também está associada a uma percepção negativa do próprio corpo nas meninas e a um sentimento de inferioridade nos meninos, que acreditam não estar à altura do que vêem na tela.

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"Os meninos estão começando a pensar que precisam se comportar de acordo com o que veem nesses vídeos. E o que veem são maus-tratos às mulheres, degradação e tratamento com violência. Até acham que é disso que uma menina vai gostar", afirma Blanca Elía.

Já as meninas "normalizam que seu namorado as insulte e maltrate com frequência".

"A afetividade e as emoções são os assuntos pendentes na educação, mas a sua ausência é especialmente notável quando se tenta abranger a sexualidade", diz o relatório da Save the Children.

Uma relação sexual saudável deve ser baseada no respeito. E por isso é preciso conceber o prazer como um meio de conhecer o outro, e não como um fim em si mesmo que faz do outro um instrumento. "O prazer faz parte da relação afetiva", afirma a psicóloga Carola López Moya

"Na sociedade de hoje, nossos jovens separaram totalmente o sexo do amor e do compromisso", diz Blanca Elía.

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Ela defende uma abordagem integral que eduque crianças e adolescentes no manejo da frustração e das emoções, no lazer saudável e no valor da amizade. "A educação afetiva vai muito além das questões sexuais", afirma.

O dilema de pais, especialistas e professores: quem deve ensinar isso?

Quando se trata de definir quem deve ministrar essse tipo de educação, o papel das escolas é altamente questionado.

Enquanto alguns defendem que a educação sexual afetiva faça parte do currículo, outros consideram que é uma área reservada ao ambiente familiar e na qual as instituções não devem interferir.

“Oss colégios apresentam mensagens que, longe de educar e explicar a sexualidade saudável, vão ter consequências na saúde mental dos nossos jovens e no aumento da desigualdade”, afirma Nuria Coronado.

O documento da Save the Children também lamenta que a educação tenha sido limitada "exclusivamente a noções anatômicas e à prevenção de DSTs e gravidezes indesejadas".

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Contudo, os especialistas concordam que é necessário encontrar uma fórmula que concilie o papel dos pais na educação dos seus filhos com a realidade de que as crianças passam mais horas por dia na escola do que em qualquer outro lugar.

Além disso, a adolescência é a fase que se caracteriza pelo distanciamento dos pais e pela busca de outras referências.

E, claro, não podemos ignorar a triste realidade de que a maioria dos abusos sexuais de menores ocorre no ambiente familiar. A educação sexual afetiva oferecida nas escolas pode servir para prevenir casos de abuso e identificar as vítimas.

Por fim, o relatório da Save the Children traz uma conclusão inegável: "Aqueles que têm mais informação consumiram menos pornografia. Isto destaca a formação como meio de prevenção contra o consumo de pornografia".

A Save the Children ainda destaca que, nos lares em que as famílias sabem para que os adolescentes usam a internet, certas diretrizes de uso dos dispositivos são seguidas e existe algum tipo de filtro no acesso, os menores têm mais chances de nunca terem visto pornografia.

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"As famílias devem assumir essa responsabilidade e, se não tiverem ferramentas suficientes, devem exigir isso do sistema educativo e de saúde", afirma Carola López Moya.

No entanto, também existem aspectos intangíveis que dão conta de como uma relação de confiança nas famílias e a manutenção de canais de comunicação abertos com as crianças podem ser mais importantes do que parecem.

De acordo com um dado fornecido pela Save the Children, 82,1% dos adolescentes que nunca jantam em família viram pornografia nos últimos 30 dias. Uma porcentagem muito superior aos do que costumam estar com os familiares à mesa.

A família deve assumir o seu papel e educar os menores em uma visão de relações sexuais mais saudáveis ​​e longe dos tentáculos da internet. Mas os educadores e especialistas também podem ser de grande valia nessa importante tarefa.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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©2024 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.