Hikikomori: termo japonês que define pessoas que se isolam voluntariamente por longos períodos para evitar todo contato com seus semelhantes| Foto: Bigstock
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Geralmente são pessoas jovens, saudáveis fisicamente. Poderiam continuar se educando para aspirar a um bom cargo em uma empresa ou continuar consolidando suas carreiras. Mas eles estão enclausurados. Não estão enclausurados por outros, não: eles se enclausuraram voluntariamente. E são milhões.

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Eles são os hikikomori, um termo japonês que define pessoas que se isolam voluntariamente por longos períodos para evitar todo contato com seus semelhantes. O fenômeno foi notado primeiramente — como sugere a fonética da palavra — no país do sol nascente (atualmente, como será visto, também é um sério problema na Coreia do Sul). Hoje, 1,5 milhão de japoneses estão nessa situação, que não afeta apenas eles pessoalmente, mas também uma sociedade que já apresenta índices muito baixos de natalidade e que menos precisa é que seus jovens se isolem e virem as costas para o resto.

Segundo o The Japan Times, o número mencionado constitui 2% da população compreendida entre 15 e 64 anos. Os dados são provenientes de uma pesquisa realizada pelo gabinete do primeiro-ministro e publicada em abril, indicando que 2,05% das pessoas entre 15 e 39 anos não haviam saído de seus quartos (ou de suas casas) nem uma vez em seis meses; e entre 40 e 64 anos, três décimos a menos.

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Por que eles adotaram esse estilo de vida? Os do grupo mais jovem citaram as dificuldades para estabelecer e desenvolver relacionamentos pessoais, seguidas pelo impacto da pandemia (o confinamento convenceu alguns de que, afinal, é possível viver sem sair de casa). Em relação aos mais velhos, 44,5% deles estavam fartos de seus empregos e 20,6% também mencionaram o golpe que o coronavírus lhes infligiu.

A pergunta de muitos especialistas é se, além desses contratempos, existe algum fator cultural que os leve a se trancar em suas conchas e se isolar. Alguns citam o peso do sekentei, a aparência aos olhos dos outros. Na sociedade japonesa, a família e o resto da comunidade exercem pressão sobre o indivíduo para alcançar determinados padrões que lhe proporcionem prestígio e "possibilidades". Quando não atingem esses padrões, a vergonha convence o "fracassado" a desaparecer do mapa, e é para isso que existe o quarto próprio, que não seria tal, aliás, se em grande parte dos casos não houvesse uma mãe ou um pai em algum lugar da casa para bater na porta e garantir ao isolado a devida refeição.

Dadas as tradições familiares no Japão, onde os homens levam muito mais tempo do que as mulheres para deixar a casa dos pais — se é que algum dia saem, pois muitos permanecem lá mesmo depois de se casar —, isso não é problema algum.

O estigma do fracasso

O termo hikikomori não é, em todo caso, um rótulo que se aplique à primeira pessoa que passa uma semana em casa chorando um desapontamento.

O pesquisador japonês Takahiro Kato propõe vários critérios para identificar uma pessoa nessa situação: um deles é estar isolado mesmo dentro de sua própria casa — contato mínimo ou nulo com os demais conviventes; outro é que o confinamento dure pelo menos seis meses; e, por último, que venha acompanhado de uma sensação de estresse contínuo.

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"À medida que o isolamento social se prolonga, a maioria dos pacientes começa a experimentar angústia e sentimentos de solidão", afirma Kato. Segundo ele, é comum que, juntamente com a condição de isolamento, ocorram outros transtornos psiquiátricos (angústia social, depressão, autismo, esquizofrenia, etc.). Embora não apareça registrado nos manuais clássicos desses tipos de doenças, muitos especialistas o veem como um transtorno.

Por outro lado, o pesquisador aponta que, em muitos casos, a idade em que ocorre a "estreia" como hikikomori é a adolescência e a juventude, e aqui ele aponta um fator de influência: o familiar, que se traduz, por exemplo, em assumir certos estilos de criação. Aqueles em que a figura paterna se desinteressa em exigir responsabilidades e permite que façam o que quiserem, ou o da proteção excessiva da mãe, poderiam predispor ao isolamento voluntário.

Podem ocorrer casos extremos, como o de uma mãe que contou à BBC que seu filho de 17 anos chegou em casa depois da escola um dia, trancou-se na cozinha e nunca mais saiu: em vez de entrar e tirá-lo de lá, a família decidiu… construir outra cozinha.

Mas Kato também alude ao fator sociocultural, mencionado anteriormente. Isso influencia no Japão, mas também a oeste das rochosas costas japonesas. Atualmente, na Coreia do Sul, cerca de 340.000 pessoas entre 19 e 39 anos (3% desse grupo etário) estão em situação de isolamento voluntário, e o fator da vergonha por não atender às expectativas que a sociedade demanda do indivíduo volta a aparecer aqui.

Também nesse país, é muito importante "manter as aparências", e Greg Scarlatoiu, diretor do Comitê para os Direitos Humanos na Coreia do Norte, percebeu isso durante os 20 anos em que viveu em Seul. "A Coreia pode ser implacável", afirmou em 2021 ao New York Post. "Este é um país que experimentou um crescimento e mudanças espetaculares em um tempo relativamente curto, e muitas pessoas ficaram para trás. Muitas se endividaram devido à incrível pressão para se manterem atualizadas, para serem as melhores e comprarem o melhor. E não veem uma saída".

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"Nos Estados Unidos — acrescenta — o fracasso é a mãe do sucesso. Você pode se declarar falido e ninguém pensa mal disso. Olhe para Trump. Mas na Coreia do Sul é muito difícil se recuperar do fracasso".

O argumento é validado na BBC por Kim Soo Jin, líder da ONG Seed:s, que busca tirar os hikikomori sul-coreanos do isolamento e levá-los a ver a luz do sol. "Quando não podem cumprir essas expectativas, pensam: 'Falhei', 'já é tarde'. Esse tipo de ambiente deprime a autoestima deles e pode eventualmente isolá-los da sociedade", afirma.

Sim, também no Ocidente

Com menos constrangimento talvez e sem tanta desilusão por não alcançar as metas socialmente estabelecidas — se é que ainda resta alguma em um mundo onde a ideia de ser tikToker ou youtuber é mais atraente do que a de ser engenheiro —, também no Ocidente algumas pessoas adotaram essa forma de alienação em relação ao mundo.

O fenômeno se espalhou e tem suas variantes em outras regiões. Há uma década, uma equipe de pesquisadores de várias universidades japonesas enviou um questionário a psiquiatras de diversos países (Austrália, Bangladesh, Índia, Irã, Japão, Coreia, Taiwan, Tailândia e Estados Unidos) com possíveis situações a partir das quais identificar casos de hikikomori.

No estudo elaborado a partir das respostas, os autores relataram que, dos 247 entrevistados, 239 disseram ter visto casos desse tipo em seus países, "especialmente em áreas urbanas", e ter identificado "fatores biopsicossociais, culturais e ambientais" entre as causas prováveis ​​do transtorno. "As diferenças entre os países não foram significativas", observaram os pesquisadores, embora talvez uma notável tenha sido o tratamento terapêutico dado aos hikikomori: enquanto no Japão os psiquiatras optavam por tratamentos ambulatoriais (ou simplesmente descartavam todo tratamento), em outros países optavam pela hospitalização.

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Outros textos de pesquisa ou artigos jornalísticos mais recentes refletem a presença do problema em países ocidentais e fornecem algumas estatísticas. Na Espanha, o psiquiatra David Córcoles, do Hospital del Mar de Barcelona, informou em 2021 ao La Razón sobre a presença de pelo menos 190 hikikomori apenas na capital catalã e, como o Dr. Kato, destacou a concorrência do síndrome com outros transtornos mentais. Anteriormente, em 2014, uma equipe de especialistas espanhóis em neuropsiquiatria havia examinado os casos de 200 pessoas voluntariamente isoladas e constatado que 164 reuniam as características próprias do fenômeno.

Por sua vez, em um estudo publicado em 2020 no Journal of Pediatrics, pesquisadores de várias instituições médicas europeias revelaram que, na Itália, os hikikomori tinham uma prevalência de 1,2% entre a população com menos de 18 anos, e que na Espanha e na França eles representavam 12% das pessoas afetadas pelo isolamento social.

Algumas iniciativas de reinserção

Assim como pode ser difícil tirar alguns crustáceos de seu refúgio — eles têm garras e as usam — a tarefa de ir atrás dos hikikomori para trazê-los de volta à rua, à escola, ao trabalho ou ao clube pode envolver lidar com o mau humor dos isolados, que às vezes mostram atitudes violentas, especialmente contra seus familiares; ou com um enfático "não estou disponível para ninguém".

Mas há quem tente, e com bons resultados. No Japão, na cidade de Chiba, perto de Tóquio, trabalha há 25 anos a ONG New Start, que conseguiu reconectar socialmente 1.600 pessoas (80% daqueles com quem trataram). Existem várias modalidades: em uma delas, um voluntário visita semanalmente o hikikomori, almoça com ele, sai para passear, conversa… e em outra, favorece-se a convivência com pessoas na mesma situação: eles têm uma casa com quartos privados e trabalham em conjunto pela manhã. Mais de 95% dos que passaram por essa experiência se reintegram ao mundo do trabalho.

Há também, é claro, o empenho do governo. O da Coreia do Sul, por exemplo, considerou a reinserção dos reclusos como uma urgência e, em abril passado, aprovou um pacote de ajuda para os jovens que se encontram nessa situação. Há auxílios monetários, como a entrega de 650.000 won (pouco menos de 460 euros) por mês, se decidirem sair para estudar ou trabalhar, mas também apoiam "em espécie", com roupas, alimentos, material de estudo, taxas de exames, etc., e arcam com todos os gastos médicos de quem precisar de cirurgias ou internações.

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Como isca, não está nada mal. Resta apenas desejar que, dada a generosidade da ajuda prometida, isso não acabe incentivando outros a se isolar.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
©2023 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol: Hikikomori: “No estoy para nadie”