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Montanhistas caminham próximo a um acampamento no Monte Everest, enquanto escalam pelo lado nepalense da montanha | PHUNJO LAMAAFP
Montanhistas caminham próximo a um acampamento no Monte Everest, enquanto escalam pelo lado nepalense da montanha| Foto: PHUNJO LAMAAFP

A primeira vez que Xia Boyu tentou escalar o Monte Everest, ele perdeu seus pés. Era 1975 e Boyu estava a caminho do topo da montanha com o time nacional chinês de montanhismo. Eles já tinham alcançado 8.600 metros quando uma tempestade de neve os alcançou. Durante dois dias e três noites, o time enfrentou temperaturas negativas – situação que foi ainda pior para Boyu, que tinha emprestado seu saco de dormir para outro montanhista que estava doente.

Até o final da experiência, seus pés estavam dormentes e severamente congelados, fazendo com que precisassem ser amputados. 

Vinte anos mais tarde, suas duas pernas também foram amputadas por causa de um linfoma, uma forma rara de câncer de sangue. 

Mas nada disso impediu que Boyu tentasse novamente escalar o Monte Everest. Finalmente, na manhã do dia 7 de maio, ele alcançou o topo da montanha – cuja altura é de 8.848 metros em relação ao nível do mar. Foi sua quinta tentativa. 

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Boyu, que tem 69 ou 70 anos, se tornou pelo menos a terceira pessoa com membros amputados a escalar a montanha e a primeira a fazer isso pelo lado nepalense, segundo o Ministério da Cultura e do Turismo do Nepal confirmou para o jornal Kathmandu Post. 

Dawa Futi, sherpa da empresa Imagine Trek and Expedition, que organizou a subida e acompanhou Boyu durante o processo, disse ao The Washington Post que Boyu terminou a subida com vários membros da equipe. 

Para Boyu, chegar ao topo "representa um desafio pessoal, um desafio do destino", ele disse para o jornal Japan Times em abril. "Subir o Everest é meu sonho", ele disse na época. "Eu preciso realizar isso". 

Mas ele quase não conseguiu ir. 

Proibição

Em dezembro, o governo do Nepal proibiu que pessoas com membros amputados ou cegos subissem as montanhas, numa tentativa de reduzir o número de acidentes. As novas regras foram criticadas imediatamente por organizações dos direitos de pessoas com deficiência, que disseram que a medida era discriminatória. A regra não afetou somente Boyu, mas também o ex-soldado nepalense, Hari Budha Magar, que perdeu as duas pernas no Afeganistão e também planejava escalar o Everest. 

Boyu já lidava com muito azar quando a proibição entrou em vigência. Nos três anos anteriores ele tinha tentado chegar ao topo do Everest sem sucesso, principalmente por causa de desastres naturais. 

Em 2014, ele tinha treinado para a escalada e ido para a montanha pela primeira vez desde 1975, mas a subida foi cancelada devido a uma avalanche que matou 16 alpinistas. Em 2015, ele se preparou novamente, e sua subida foi cancelada por conta de um terremoto que devastou o Nepal. Em 2016 ele quase conseguiu. Mas nos últimos 200 metros uma forte nevasca fez com que ele tivesse que retornar, segundo o Japan Times. 

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Então quando o governo do Nepal declarou a proibição em dezembro, Boyu afirmou ter entrado em pânico para o jornal japonês, com medo de ter perdido a chance de completar a escalada para sempre. Três meses depois, porém, a corte suprema do Nepal mudou a decisão e permitiu que pessoas sem membros ou cegas subissem a montanha, argumentando que a lei discriminava pessoas alguma deficiência. 

Em poucas semanas, Boyu já tinha pedido a permissão para subir. 

Boyu se junta a Mark Inglis, da Nova Zelândia, como a segunda pessoa a escalar a montanha mais alta do mundo sem os membros inferiores. Inglis completou a escalada em 2006, sendo a primeira pessoa nessa condição a chegar ao topo pelo lado chinês. Sudarshan Gautam, um canadense nascido em Nepal, foi a primeira pessoa a escalar o Monte Everest sem os membros superiores em 2013.

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