Agressão aos jornalistas ocorreu no momento em que tentavam entrevistar o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, no Itamaraty| Foto: EFE/ André Coelho.
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A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), que apoiou publicamente a candidatura de Lula nas últimas eleições, e outros importantes sindicatos da categoria não emitiram posicionamentos próprios em defesa dos jornalistas agredidos na noite de terça-feira (30), no Itamaraty, por seguranças de Nicolás Maduro e integrantes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) que atuavam na proteção do ditador venezuelano. Entre as vítimas da agressão está a jornalista Délis Ortiz, da TV Globo, que recebeu um soco no peito ao tentar entrevistar Maduro no fim da Cúpula de Presidentes Sul-Americanos. Até o início da tarde de quarta-feira (31), a Fenaj apenas havia publicado em seu site um texto em que “o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) lamenta os incidentes ocorridos”.

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Na nota, publicada originalmente na noite da terça no site do sindicato, o SJPDF “pede que o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) apurem eventuais abusos cometidos contra os profissionais da imprensa”, solidarizando-se “com os profissionais agredidos” e se colocando “à disposição para dar o suporte que venha a ser necessário”.

Ainda de acordo com o sindicato, “não havia estrutura adequada para o trabalho dos profissionais na área do saguão, como a disponibilização de um púlpito e uma prévia organização das posições. Com isso, houve tumulto, que se agravou durante a passagem do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que foi cercado por jornalistas e cinegrafistas quando parou para conceder uma entrevista. Na confusão, jornalistas foram agredidos por integrantes das equipes de segurança, que agiram com truculência”. Diante disso, o SJPDF afirma que “é fundamental que a organização preveja um planejamento mais compatível e adequado em eventos dessa natureza”.

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A nota pública, no entanto, não tem assinatura conjunta da Federação Nacional dos Jornalistas, diferentemente de outra publicada também nesta quarta, em que “SindJoRS e FENAJ lamentam que Câmara de Nova Santa Rita seja conivente com violência contra a imprensa”. No texto, a Fenaj e outros sindicatos e associações profissionais consideram “absurda e abominável a prática de violência contra a imprensa”, em referência a um vereador absolvido em processo de cassação em Porto Alegre (RS). De acordo com o texto, o parlamentar desferiu um soco contra um repórter cinematográfico que cobria manifestações contra o resultado das eleições, em janeiro.

Em outubro do ano passado, a Federação dos Jornalistas publicou uma “Carta aberta às/aos jornalistas e ao povo brasileiro”, defendendo “eleger Lula para resgatar a democracia e os direitos da classe trabalhadora”. "Defendemos, neste segundo turno das eleições presidenciais, o voto em Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a única candidatura que tem compromisso com os direitos e as conquistas civilizatórias. A esperança vai vencer o medo, a violência e o ódio. O Jornalismo vai vencer a desinformação e a mentira. A democracia vai vencer o autoritarismo”, dizia o documento, assinado também por outros 28 sindicatos da categoria.

A postura da Federação no caso Maduro também contrasta com posicionamentos da entidade durante o governo anterior. Em 29 de agosto, por exemplo, a Fenaj publicou uma nota conjunta com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) e a Comissão Nacional de Mulheres Jornalistas, com o título “Condenado pela Justiça, o assediador Bolsonaro ataca mais uma vez a nossa categoria”. O intuito da nota era expressar “a mais irrestrita solidariedade à jornalista Vera Magalhães, que realizava o seu trabalho quando foi atacada por Jair Bolsonaro durante o primeiro debate presidencial de 2022”.

O texto, publicado no dia seguinte ao debate, afirma que o SJSP se posicionou imediatamente “tão logo Bolsonaro desferiu suas agressões de cunho misógino contra a jornalista”, por meio do Twitter: “Jair Bolsonaro, condenado pela Justiça por assédio coletivo à nossa categoria, mais uma vez ataca uma jornalista em pleno debate. Como é de costume, ataques de caráter misógino. Toda nossa solidariedade à jornalista @veramagalhaes e o mais veemente repúdio a Jair Bolsonaro”. “Continuaremos na intransigente luta para que todas e todos os jornalistas realizem o seu trabalho sem sofrerem ameaças, ofensas e ataques. Defender nossa categoria é defender a democracia em nosso país”, conclui a nota no site da Fenaj.

Sindicatos 

A agressão aos jornalistas no Itamaraty, na noite desta terça, no entanto, não mereceu a mesma reação do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. A entidade não publicou nada sobre o assunto em seu site. Procurado pela reportagem, o sindicato informou que “acompanha o posicionamento público da Fenaj e do Sindicato dos Jornalistas do DF, que se manifestaram ontem, logo após a agressão ao jornalista”, reproduzindo a íntegra da nota do SJPDF.

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Em um dos textos mais recentes, publicado na última sexta-feira (26), o sindicato da categoria em São Paulo comemora a condenação de Bolsonaro em uma “ação por dano moral coletivo à categoria ajuizada pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo”. “A vitória é um grande passo de toda a categoria, que, durante todo o mandato de Jair Bolsonaro, sofreu recorrentes ataques”, diz.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro também não se posicionou publicamente sobre as agressões aos profissionais por agentes que faziam a segurança de Maduro. Procurada pela Gazeta do Povo, a entidade não retornou até o fechamento desta reportagem.

Já o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (Sindijor-PR) se manifestou por meio do Twitter, na manhã de quarta-feira. “O SindijorPR se solidariza com jornalistas agredidos em Brasília ao final da reunião entre presidente de países da América do Sul e repudia todo e qualquer ataque a profissionais de imprensa. A agressão fere os direitos dos jornalistas e a democracia”, afirmou.

Por e-mail, a Fenaj afirmou à Gazeta do Povo que "se soma ao Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal na cobrança pela identificação e punição dos agressores de jornalistas neste lamentável episódio". "Aproveitamos para nos solidarizar com todos os colegas agredidos", conclui a nota.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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