Ativistas da organização de direitos humanos “Falun Dafa” se manifestam enquanto o então ditador chinês Hu Jintao visitava a Cidade do México, no dia 11 de setembro de 2005.| Foto: EFE/Jorge Núñez
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Médicos americanos fazem um grande esforço para manter os mais altos padrões éticos enquanto trabalham para salvar milhares de pacientes doentes que esperam por doação de órgãos. É o que ressaltam relatórios recentes de experimentos inovadores de transplante usando corações de porco geneticamente modificados. Por outro lado, o setor de transplantes da China, livre de regras éticas rigorosas, encontrou uma outra solução: uma próspera indústria de transplantes, a segunda maior do mundo, baseada em um suprimento de órgãos colhidos à força de prisioneiros executados — provavelmente prisioneiros de consciência, aqueles que são detidos por sua ideologia ou crença.

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Embora a China tenha anunciado que proibiu essa prática hedionda em 2015, falta transparência. Evidências crescentes indicam que ela continua. No entanto, o setor de transplantes americano, embora aderindo à ética médica dentro do país, apoia abertamente os médicos e a indústria de transplantes da China.

Em 2006, surgiram relatos chocantes de que a China extraía à força órgãos de adeptos da prática espiritual de meditação chinesa Falun Gong que estavam detidos. De acordo com esses relatórios, depois que o Falun Gong foi alvo de “eliminação” pelo presidente da China em 1999, milhares de praticantes foram jogados em campos de concentração e prisões e submetidos a triagem de órgãos, mortes inexplicáveis ​​e desaparecimentos.

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Segundo representantes do grupo religioso, muitos foram mortos para essa retirada de órgãos, que foram vendidos para o setor de transplantes da China, criando uma indústria de bilhões de dólares. Declarações confiáveis ​​de ex-detentos, parentes, pacientes e cirurgiões defendem essa tese.

Foi durante esse período que dezenas de cirurgiões chineses publicaram artigos descrevendo abertamente procedimentos em prisioneiros que “estavam vivos e respirando enquanto os cirurgiões cortavam seus corações”, conforme documentado em um artigo de 2022 no respeitado American Journal of Transplantation, escrito por Matthew Robertson, membro da Fundação Vítimas do Comunismo, e o israelense Dr. Jacob Lavee.

No ano passado, 12 especialistas independentes da ONU declararam estar “extremamente alarmados” com “informações confiáveis” de que a extração forçada de órgãos continuava e, além disso, visava várias minorias religiosas da China. Fontes relatam evidências de que a atrocidade se espalhou para a enorme rede de campos de detenção de Xinjiang, que foram construídos após 2015, e que tanto republicanos quanto democratas reconheceram como o local do genocídio em andamento contra os muçulmanos uigures da China.

Nury Turkel, que preside a Comissão de Liberdade Religiosa Internacional dos EUA, documentou amostras de sangue forçadas e triagem de órgãos de prisioneiros uigures. Um deles era um cristão, Ovalbek Turdakun, já entrevistado pela nossa equipe.

Conforme observado em uma resolução do Parlamento Europeu de maio de 2022, um hospital de Pequim anunciou descaradamente o uso de “‘órgãos halal’ de uigures e minorias muçulmanas”. Na Cúpula Internacional de Liberdade Religiosa, realizada em Washington em junho, Ethan Gutmann, o principal pesquisador de campo sobre a extração forçada de órgãos na China, estimou que 25 a 50 mil uigures são mortos anualmente por seus órgãos. A pesquisa de Gutmann envolve um antigo hospital em Aksu, Xinjiang, com acesso rápido a um aeroporto que distribui órgãos para hospitais em todo o país.

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Há apenas um milhão de doadores voluntários registrados na China, em comparação com os 145 milhões nos EUA em 2019. Não existe explicação sobre como os pacientes chineses podem agendar consultas para cirurgias de transplante em dias ou semanas — em vez de meses ou anos, segundo relatam pacientes e pesquisadores. Além disso, Robertson, Lavee e o estatístico australiano Raymond Hinde concluíram que as curvas de crescimento das listas de doadores voluntários da China para três tipos de órgãos formavam equações irreais.

Um artigo de revista de ética médica de 2019 apontou que o banco de dados de doadores da China foi “falsificado” como resultado de ser “fabricado e manipulado a partir dos níveis centrais da burocracia médica chinesa”. Além disso, o número relatado de transplantes anuais da China, de cinco a seis mil, parece subestimado. Documentando hospitais, leitos e cirurgiões de transplantes chineses, Gutmann e os especialistas canadenses em direitos humanos David Mattas e David Kilgour estimaram que de 60 a 100 mil transplantes de órgãos estão ocorrendo anualmente na China, sendo oito mil por ano em um único hospital.

Apesar de chocante, a falta de ética médica da China não é totalmente surpreendente, considerando que o país comete o genocídio étnico-religioso. Mas, dadas as graves questões sobre o fornecimento de órgãos levantadas nesses relatórios e a falta de transparência da China, é inconcebível que as principais universidades e hospitais americanos apoiem o setor de transplantes do país asiático. Conforme divulgado em seus sites, Harvard, Stanford, Universidade de Pittsburgh e muitas outras oferecem à China bolsas de estudo, intercâmbios acadêmicos, conferências e projetos conjuntos de pesquisa. As instituições americanas treinaram 344 médicos de transplantes da China.

Parte da comunidade médica americana aparentemente colabora na esperança de persuadir seus parceiros chineses a garantir que a doação de órgãos seja realmente voluntária. Essas instituições dos EUA aceitam a palavra da China, mesmo quando impedidas de solicitar mudanças, e até elogiam o trabalho dos chineses.

Mas elas não compram as mentiras da China sozinhas. A revista de ética médica citada acima observou: “A Organização Mundial da Saúde, a Sociedade de Transplantes, o Protocolo de Istambul e a Pontifícia Academia de Ciências forneceram contribuições com base no que parecem ser dados contaminados”.

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A força-tarefa de transplante de órgãos da OMS, por exemplo, foi proposta em 2017 pelo Dr. Huang Jiefu, que dirigiu o registro de doadores de transplantes da China, serviu por muito tempo no Comitê Central do Partido Comunista Chinês e, embora longe de ser independente, foi nomeado para a própria força-tarefa. Sob a presidência do Dr. Francis Delmonico, de Harvard, que visitou os hospitais da China como convidado de Huang e o chamou de “líder corajoso” em depoimento ao Congresso, a força-tarefa foi encarregada de sinalizar crises no campo de transplantes. No entanto, Gutmann, Robertson e Mattas dizem que esse grupo deixou a pesquisa fora de controle.

Até o momento, nenhum governo dos EUA levou a sério as acusações de extração de órgãos em andamento na China. Em 2018, o Departamento de Estado tentou encerrar o assunto, declarando categoricamente que o governo da China “encerrou oficialmente a prática de longa data de colheita involuntária de órgãos de prisioneiros executados para uso em transplantes em janeiro de 2015”.

Os Estados Unidos também não conseguiram realizar uma verificação independente. A gestão de Biden deveria reexaminar todas as evidências de extração forçada de órgãos e fazer sua própria declaração. O Congresso deveria aprovar o ato de 2021 que prevê fiscalizar e impedir a retirada ilegal de órgãos.

O ex-cirurgião militar chinês Dr. Enver Tohti, testemunhando perante a Comissão de Direitos Humanos, comentou recentemente sobre a indiferença ocidental a essa questão. A extração forçada de órgãos parecia “muito ruim para ser verdade”, disse ele. Mas a evidência é muito convincente para persistir nessa crença ingênua. Até que seja verificado o cumprimento das normas éticas internacionais, o setor de transplantes americano deve interromper toda colaboração com a China.

Nina Shea é membro sênior do Hudson Institute, onde dirige o Centro de Liberdade Religiosa. Ela é ex-vice-presidente da Comissão de Liberdade Religiosa Internacional dos EUA, para a qual foi nomeada pelos republicanos da Câmara.

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Katrina Lantos Swett é presidente da Fundação Lantos para Direitos Humanos e Justiça. Ela é professora de direitos humanos na Universidade Tufts e ex-presidente da Comissão dos EUA para a Liberdade Religiosa Internacional, para a qual foi nomeada pelos democratas do Senado.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
©2022 RealClearPolitics. Publicado com permissão. Original em inglês.