Kim Kataguiri ficou famoso na internet após campanha pelo impeachment de Dilma Rousseff| Foto: Ricardo Botelho/Brazil Photo Press/Folhapress

O convite do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) ao líder do Movimento Brasil Livre (MBL), Kim Kataguiri, para palestrar no evento “Segurança Pública como Direito Fundamental” está rendendo dor de cabeça à instituição. Depois divulgar o nome do jovem na programação e receber uma enxurrada de críticas de especialistas, movimentos sociais e imprensa, o MP fluminense tirou as informações do site e lançou, na sexta-feira (21), uma nota oficial se pronunciando sobre o caso. A instituição afirma que a iniciativa foi atacada em “manifestações reveladoras de inaceitável preconceito intelectual”. 

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“É merecedora de veemente repúdio toda e qualquer discriminação de pensamento, porque reduz à condição de inimigo quem ousa pensar de modo diverso”, argumenta o órgão fluminense. Também participarão do evento promotores, juízes e procuradores de Justiça.

Com 21 anos de idade, Kataguiri se tornou celebridade da internet em 2015, depois uma longa campanha pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Entre as críticas que a participação dele no evento do MP-RJ recebeu, estão a falta de saber notório, de tato para lidar com reveses e a divulgação de informações equivocadas sobre o regime semiaberto no país – aquele em que os presos podem sair da prisão durante o dia, para trabalhar, e retornam à noite para dormir.

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Fact-checking 

Segundo o rapaz, a taxa de reincidência entre os presos é de 70%, o que justificaria que criminosos nunca deixassem a cadeia. O percentual passa longe dos níveis com que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) trabalha, que não ultrapassam 30% de reincidência. 

A situação foi apurada e rebatida recentemente pela Agência Pública, que procurou o MBL para repercutir o fact-checking negativo. A resposta foi um post com acusações falsas e a imagem de um pênis, acompanhada da frase “Check this” (cheque isso, em inglês). 

Kataguiri chegou a ingressar no curso de Ciências Econômicas na Universidade Federal do ABC, mas deixou a graduação antes de terminar o primeiro ano. Além de ensino superior incompleto, o coordenador do MBL tampouco tem atuação na área de segurança pública ou de direitos humanos. Ele admite, entretanto, que quer garantir uma vaga na Câmara dos Deputados no ano que vem, embora também ainda não esteja filiado a nenhum partido. 

Nestas condições, a participação de Kataguiri no evento do MP-RJ abre precedente para que qualquer pessoa seja convidada a palestrar em um evento pago com dinheiro público, ainda que não tenha consistência acadêmica ou experiência na área para falar sobre o assunto em pauta. 

Pluralismo 

Na visão do MP, os expositores e espectadores do evento de setembro poderão “refletir sobre segurança a partir da ótica de vítimas, com enfoque para aflições cotidianas vivenciadas pela população em geral”. Representante da direita conservadora e da classe média, Kataguiri não dividirá espaço, contudo, com vozes da esquerda ou outras correntes políticas com pensamentos divergentes. 

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A programação, dessa forma, segue contrariando o que o próprio MP-RJ defende, em nota. “A democracia deve ser praticada diariamente e não apenas utilizada como recurso retórico”, diz a instituição.

O colunista da Gazeta do Povo, Alexandre Borges, diretor do Instituto Liberal, e o engenheiro e ativista Roberto Motta, presidente do diretório do Partido Novo no Rio de Janeiro, também foram convidados para participar do debate sobre segurança pública.