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Há cem anos, cientistas miraram seus telescópios para o Sol em São Tomé e Príncipe a fim de comprovar a Teoria da Relatividade Geral de Einstein.
Há cem anos, cientistas miraram seus telescópios para o Sol em São Tomé e Príncipe a fim de comprovar a Teoria da Relatividade Geral de Einstein.| Foto: Reprodução/ OAL - Observatório Astronómico de Lisboa

Na manhã desta quarta-feira (29), a Ilha do Príncipe, porção de terra de 156 km quadrados na África Ocidental, vai experimentar a maior festa de seus 448 anos de história.

As festividades vão se concentrar na Roça Sundy, uma pequena comunidade produtora de cacau ao norte da ilha de cerca de 70 mil habitantes que faz parte do país arquipélago de São Tomé e Príncipe.

Foi na Sundy que o astrónomo inglês Arthur Eddington, em 29 de maio de 1919 “bateu as chapas telescópicas” que ajudaram a provar a Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein.

Teoria da Relatividade

Publicada em sua versão final em 1916, a teoria afirmava, grosso modo, que a luz era a força mais rápida do Universo. Nenhum corpo com massa alcançava uma velocidade superior à da luz. Nem a gravidade.

Einstein imaginou que as três dimensões do espaço e a dimensão do tempo atuvam em conjunto. Como uma espécie de tecido que rodeia qualquer corpo com massa.

Este tecido é deformado pela presença dos corpos celestes massivos, como os planetas e estrelas. Seriam essas deformações o que todos nós sentimos como a força da gravidade.

Assim, a Terra e os outros planetas permanecem em órbita não porque o Sol os atrai, como afirmava Newton.

Para Einstein, isso acontece porque o Sol é uma estrela tão massiva que os outros corpos seguem a curvatura que ela gera no tal “tecido do espaço-tempo”.

Para confirmar a "curvatura da luz", seria preciso, portanto, um eclipse total do Sol - quando a lua fica entre o Sol e a Terra, projetando sua sombra em parte do planeta.

Com o eclipse, a luz solar ofuscante some e se pode ver o brilho das estrelas próximas.

Desde 1914, houve tentativas de organizar expedições científicas que foram frustradas pela Primeira Guerra Mundial e também pelo mau tempo.

Com o fim dos conflitos, em 1918, a comunidade científica internacional passou a trabalhar para conseguir testar a nova teoria revolucionária.

E tanto o sertão cearense quanto a pequena ilha no mar dos Camarões foram indicadas como os locais mais favoráveis para a observação do primeiro eclipse solar que aconteceria após o Armistício.

Os dois locais estavam na rota da sombra total causada pela ocultação do Sol pela lua. Uma expedição foi enviada para cada região. A Sobral, viajaram cientistas norte-americanos, brasileiros e ingleses do Observatório de Greenwich.

Para a Ilha do Príncipe foi o grupo liderado por Eddington, com apoio do Observatório Astronômico de Lisboa (OAL)

Na Ilha do Príncipe, o eclipse solar total durou apenas 302 segundos, ou cinco minutos e dois segundos. Os galos da roça cacuiera, todavia, cantaram como se fosse noite e houve tempo suficiente para que os cientistas tirassem a fotografia que se vê acima e mudassem a história da ciência.

Para o historiador e ensaísta inglês Paul Johnson, as duas fotografias foram o “marco zero do mundo moderno”.

Na abertura de seu livro mais importante, “Tempos Modernos, o Mundo dos Anos 20 Aos 80”, ele afirma que esta era começou “quando fotografias do eclipse solar, tiradas na Ilha do Príncipe, na África Ocidental, e em Sobral, no Brasil, confirmaram a verdade da nova teoria do Universo”.

A Teoria da Relatividade Geral permitiu explicar desde o nascimento do Universo até a órbita dos planetas e os buracos negros.

As certezas absolutas das teorias de Newton deram lugar ao relativismo de Einstein, uma ideia que se estendeu para a maioria das áreas do conhecimento, em especial as artes.

Centenário recoloca a ilha do cacau no mapa

Cem anos mais tarde, Sobral e a Roça Sundy são tomadas pela celebração daquele que foi um dos eventos científicos mais importantes da história. Uma ampla programação procura manter vivo o legado científico em ambas as comunidades.

Um ciclo de atividades e conferências internacionais vai mudar a rotina da Roça Sundy. Durante um dia, o mundo olha pela elnte do telescópio para a ilha que tem como principal atividade econômica a produção de cacau.

O maior produto de exportação, o chocolate Claudio Corallo, considerado o chocolate mais puro do mundo.

A ilha do Príncipe é a visão idealizada de um paraíso tropical: praias imaculadas, montanhas tomadas vegetação exuberante e povo receptivo e festivo. Há um resort de luxo na ilha, o que tem aumentado o interesse de turistas, sobretudo de portugueses, nos últimos 20 anos.

São Tomé e Príncipe está localizado no golfo da Guiné, no Oceano Atlântico, a 300 quilômetros dos países mais próximos: Gabão, Guiné Equatorial e República dos Camarões. A nação integra a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), aproximadamente 50% dos habitantes do país vivem abaixo da linha de pobreza, ou seja, com menos de 1,5 dólar por dia.

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