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Camiseta com os dizeres “Bata em mais nazistas”: resposta errada | THE WASHINGTON POST/The Washington Post
Camiseta com os dizeres “Bata em mais nazistas”: resposta errada| Foto: THE WASHINGTON POST/The Washington Post

“Bata em mais nazistas”. É o que diz em uma camiseta orgulhosamente feita e vestida, conforme reportado no Washington Post, por um participante da conferência Netroots Nation em que a senadora Elizabeth Warren apresentou seu posicionamento político. Para alguns, esta parece uma resposta necessária para a ascensão violenta dos crescentes movimentos supremacistas. Esta é a resposta errada. Nós precisamos restaurar um compromisso de não violência abrangente e compartilhado e claramente repudiar violência política de qualquer tipo.

A morte de Heather Heyer em Charlottesville, gás lacrimogênio nas ruas de Phoenix, a agora rotineira presença de indivíduos armados em manifestações políticas. Nós precisamos de mais sinais de que nosso país necessita uma desintensificação? Certamente não. 

Líderes políticos de visão clara e honestos na esquerda, sendo eles democratas, progressistas ou independentes de esquerda, devem confrontar não apenas o crescimento do anarquismo e de grupos antifascistas, mas também o que parece ser uma lenta aceitação, dentro do vasto e diverso mundo de seus aliados políticos, de um compromisso de violência menor como uma ferramenta política. 

Líderes políticos de visão clara e honestos na direita, sendo eles políticos em exercício, NeverTrumpers ou independentes de direita, devem confrontar não apenas o crescimento da supremacia branca e sua violência presente, mas também a aceitação crescente dentro de suas posições de uma abordagem militar para a política. Armas em manifestações e protestos expressam uma ameaça, apesar de alegações de que são para proteger. 

Compromisso com os princípios de não-violência

Qualquer que seja sua orientação política, líderes na sociedade civil – sejam do clérigo, chefes de associações ou diretores de escolas e universidades – devem apresentar-se da mesma forma para advogar uma reiteração do compromisso com os princípios de não-violência. Isso não é uma questão de partidos políticos, mas de preservar as fundações básicas de uma sociedade estável e pacífica. 

A supremacia branca, o antissemitismo e o racismo são falsos deuses, são ideologias a serem repudiadas. Eles devem ser contestados e combatidos. Nós devemos separar a violência que flui dessas ideologias das ideias que as trazem à vida. Diferentes ferramentas estão disponíveis para lutar contra cada uma delas. 

Nós precisamos contestar a violência extremista não com socos, mas com as ferramentas da lei e da justiça. Onde crimes de ódio e atos domésticos de terrorismo são cometidos, nossas instituições judiciais devem responder. Nós como cidadãos devemos assegurar que as instituições façam seu trabalho, não planejar tomar a lei em nossas próprias mãos. 

Quando a legitimação de instituições legais e judiciárias foi colocada em questão – como tem ocorrido por conta de tiroteios efetuados pela polícia e encarceramentos em massa – nós devemos avançar vigorosamente o projeto de reformar essas instituições para atingir sua legitimação completa. Mas colocar a lei nas mãos de alguém é apenas prejudicar ainda mais as instituições legais e judiciárias. Isso não fornece base para uma reforma. 

Quanto às ideologias extremistas, essas nós precisamos combater com princípios de não-violência e com uma visão de um país em que ninguém se sente em perigo por conta de sua identidade social. Esta é uma visão, com um conjunto de políticas de apoio, para uma democracia multiétnica onde a igualdade política, social e econômica que empodera a todos foi atingida. Não se pode lutar por essas ideias, pela alma de uma sociedade, com seus punhos. Nós lutamos por esta visão nas urnas de todos os níveis da sociedade – conselho municipal, governo do condado, governo do estado, governo federal. 

Por que a não-violência? Por que um processo político?

O propósito de construir estados, sistemas legais e democracias é de minimizar o uso da força para resolver conflitos e para que, em condições de paz, o bem-estar social possa emergir. 

Escolher não minimizar mas aumentar as políticas de violência é escolher caminhar para longe da única invenção humana – um processo político legitimamente pacífico – que sempre carregou o prospecto de trazer segurança e felicidade a todos. Escolher políticas de violência é escolher desmontar as bases de uma sociedade justa, estável e pacífica. 

Algumas pessoas pensam que os fins justificam os meios, mas isto é falso. Acreditar nisso é colocar uma pessoa na posição de um cão perseguindo seu próprio rabo. Não se pode chegar lá a partir desse ponto – jamais se alcança justiça se voltando para a injustiça. Ainda pior, aceitar ou falhar em repudiar políticas de violência, supostamente em busca de justiça, é como tentar escalar uma montanha caminhando continuamente para baixo. Uma vez que as políticas de violência estão ativas, acabar com elas é excepcionalmente difícil. 

Por que alguém deveria acreditar que pessoas que se comprometeram com políticas de violência mudarão de ideia e se comprometerão com formas pacíficas de lidar com conflitos? Esse tipo de desconfiança corrói as bases de estáveis instituições políticas. O caminho para a justiça sempre se constrói através da justiça, incluindo a básica ideia moral de que legítima defesa imediata é a única justificativa para o uso da força. Nós precisamos de clareza moral nesse quesito. 

Para qualquer um que possui uma posição de liderança: é hora de não apenas repudiar ideologias de supremacia branca, mas também dar um passo à frente e argumentar para uma luta justa dentro dos limites do processo político, deixando armas e punhos em casa e repudiar políticas de violência de qualquer tipo.

*Danielle Allen é uma teórica política da Harvard University e colunista contribuinte do Washington Post.

Tradução de Maíra Santos
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