Em uma edição da National Geographic de 1960, uma legenda que acompanhava foto de dois aborígenes australianos os descrevia como "selvagens [que] estão entre os seres humanos de menor inteligência"| Foto: Pixabay

Em artigo de sua edição de abril, integralmente dedicada a discutir questões raciais, a revista americana National Geographic avaliou seu próprio passado e concluiu ter feito uma cobertura racista por décadas.

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Entre os erros identificados no texto, assinado pela editora-executiva da revista, Susan Goldberg, estão ter deixado de fora de suas páginas negros que moravam nos Estados Unidos até os anos 1970 e ignorado o apartheid na África do Sul em reportagem sobre o país de 1962.

Ela também apontou que foram usados clichês para descrever nativos de partes variadas do mundo, muitas vezes nus e acompanhados de adjetivos como "nobres" selvagens ou "felizes" caçadores. Essa distinção preconceituosa entre povos civilizados e exóticos não civilizados apareceu, por vezes, em imagens em que nativos se deslumbravam com artefatos tecnológicos.

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Mais do que isso. Goldberg afirmou que publicações encontradas no arquivo da revista são de deixar leitores de hoje sem fala. Por exemplo, legenda que acompanhava foto de dois aborígenes australianos em 1960 dizia: "Esses selvagens estão entre os seres humanos de menor inteligência".

Goldberg escreveu que, quando a redação decidiu tratar de questões raciais nas páginas da revista, percebeu ser necessário avaliar o próprio racismo antes de apontar os erros dos outros.

A pesquisa foi feita por John Edwin Mason, professor da universidade da Virginia e especialista em história da África e da fotografia.

Ele disse que, ao contrário de outras publicações, a National Geographic pouco fez para incentivar seus leitores a ir além de estereótipos sobre outros povos arraigados na cultura branca americana.

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Mudanças

A revista aponta as transformações pelas quais passou ao longo do tempo e que permitiram uma cobertura melhor de temas raciais.

Em texto de 2015, por exemplo, convidou haitianos para documentar a realidade de seu país, algo que seria impensável em décadas anteriores, diz Mason.

Para o especialista, apesar das ressalvas feitas ao passado da revista, especialmente até os anos 1960, a publicação teve grande importância ao mostrar para americanos locais distantes que eles não conheceriam de outro modo. "É possível que uma revista abra os olhos dos leitores ao mesmo tempo que os fecha."

Goldberg afirma querer que os editores da revista no futuro possam olhar para trás e ter orgulho da cobertura feita pela publicação e também pelo grupo diverso de editores, repórteres e fotógrafos responsáveis pelo trabalho. Ela é a primeira mulher a dirigir a redação da revista em 130 anos de sua história.

A edição de abril marca o aniversário de 50 anos do assassinato de Martin Luther King Junior. Goldberg diz que, além da edição especial, outras discussões a respeito da questão racial aparecerão nas páginas da revista durante o ano.

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A National Geographic pertence à organização sem fins lucrativos National Geographic Societye e ao estúdio 21st Century Fox.

Em dezembro, a Fox foi comprada pela Disney em transação avaliada em US$ 66,1 bilhões (cerca de R$ 215 bilhões).

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