Chappelle, em aparição pública logo após a polêmica, disse: “Se é assim que é ser cancelado, eu adoro. … F*d*-se o Twitter. F*d*-se a NBC News, a ABC News, todas essas redes estúpidas. Eu não estou falando com eles. Estou falando com você. Isto é vida real.”| Foto: Divulgação/Netflix
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Muitos conservadores elogiaram a Netflix por "se levantar contra a cultura do cancelamento", ao defender a decisão de apresentar o especial de comédia de Dave Chappelle, "The Closer - Encerramento".

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Os críticos da comunidade LGBTQ o acusam de misoginia e de agredir pessoas trans. Entre os comentários que geraram polêmica, Chappelle disse: “O gênero é um fato. Cada ser humano nesta sala, cada ser humano na Terra, teve que passar pelas pernas de uma mulher para estar na Terra. Isso é um fato. ”

De acordo com a Forbes, Chappelle foi “duramente criticado por grupos de defesa, incluindo GLAAD, a Campanha de Direitos Humanos e a Coalizão Nacional de Justiça Negra”. A National Black Justice Coalition divulgou um comunicado: “Com 2021 a caminho de ser o ano mais letal já registrado para pessoas trans nos Estados Unidos — a maioria dos quais são transgêneros negros — a Netflix deveria estar consciente.”

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Uma manchete da Newsweek dizia: “A defesa da Netflix de Dave Chappelle agita a esperança pelo fim da 'Era do cancelamento'”. E o crítico de cinema do New York Post Kyle Smith escreveu: “A Netflix esta semana forneceu ao resto da cultura um exemplo simples sobre o que fazer quando a multidão militante vier exigindo sacrifício humano e humilhação eletrônica ritualizada: Basta dizer, 'Tô nem aí'”.

A Netflix inicialmente apoiou Chappelle e supostamente suspendeu três funcionários descontentes por se intrometerem, sem serem convidados, em uma reunião virtual onde os executivos discutiam como responder às críticas.

Na época, o co-CEO da Netflix, Ted Sarandos, disse: “Embora alguns funcionários discordem, temos uma forte convicção de que o conteúdo na tela não se traduz diretamente em danos no mundo real. (…) Os adultos podem assistir à violência, agressões e abusos — ou desfrutar de comédia stand-up chocante — sem que isso os faça prejudicar os outros. ”

E o outro co-CEO da Netflix, Reed Hastings, disse: "Eu acredito que nosso compromisso com a expressão artística e agradar nossos membros é a escolha certa de longo prazo para a Netflix." E Hastings também destacou que o especial recebeu uma pontuação alta de seu público no site de classificação Rotten Tomatoes.

Mas nunca elogie antes do final.

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Quanto à defesa de Hastings do especial de Chappelle devido ao alto índice de audiência, considere o seguinte. “Uncle Tom”, o filme que eu produzi e que foi dirigido por Justin Malone, teve exatamente o mesmo índice de aprovação do Rotten Tomatoes, 96%, que “The Closer - Encerramento”. Mas, apesar de nossos melhores esforços, a Netflix se recusou a exibi-lo. Amazon Prime e iTunes concordaram em disponibilizar o documentário para seus usuários, mas não a Netflix.

Além disso, a Netflix investiu pesadamente no extraordinariamente popular Chappelle. A empresa de entretenimento o contratou para um acordo milionário de longo prazo. Queria proteger seu investimento.

Mais importante, embora tenha demorado alguns dias, a Netflix retrocedeu em sua defesa retumbante da liberdade artística. Em uma entrevista poucos dias depois de seu e-mail defendendo Chappelle, Sarandos disse que “estragou tudo”: “O que eu deveria ter enfatizado nesses e-mails era a humanidade. Eu deveria ter reconhecido o fato de que um grupo de nossos funcionários estava realmente sofrendo. (…) Para ser claro, certas histórias têm um impacto no mundo real… às vezes bastante negativo. ”

Sarandos não pretende tirar do ar o especial de comédia: “Nós dissemos aos nossos funcionários que haverá coisas de que você não gosta. (…) Haverá coisas que você pode achar que são prejudiciais. Mas estamos tentando entreter um mundo com diferentes gostos e sensibilidades e várias crenças, e acho que este especial foi consistente com isso. ”

Os conservadores deveriam aplaudir uma plataforma de entretenimento que se recusou a veicular um documentário “conservador” com a mesma alta classificação de “The Closer - Encerramento”? Se a Netflix tivesse adivinhado as críticas negativas da esquerda dirigidas ao especial de Chappelle, será que teria ido ao ar como está?

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Chappelle, em aparição pública logo após a polêmica, disse: “Se é assim que é ser cancelado, eu adoro. … F*d*-se o Twitter. F*d*-se a NBC News, a ABC News, todas essas redes estúpidas. Eu não estou falando com eles. Estou falando com você. Isto é vida real." A Netflix afirma que pretende manter o relacionamento com Chappelle. O tempo vai dizer. Este será um teste para Netflix e para Chappelle.

Mas quando os conservadores esperam que a Netflix se oponha à cultura do cancelamento, o vencedor é a cultura do cancelamento.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]