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Nick Vujicic

“Se Deus usa alguém sem braços e pernas para ser Suas mãos e pés, Deus pode usar qualquer pessoa”

Nick Vujicic: evangelista realiza palestras sobre fé em vários países (Foto: EFE/Daniel Irungu)

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O australiano Nick Vijicic nasceu sem as pernas nem os braços, devido à síndrome de tetra-amelia, que impede o crescimento dos membros. Além dos questionamentos “por que eu, por que nasci assim”?, vieram o bullying, a depressão e a tentativa de suicídio aos dez anos de idade (veja como procurar ajuda no fim da reportagem). Mas um encontro com Deus mudou a sua vida para sempre – e a de bilhões de outras pessoas.

Nick superou suas limitações, firmou-se na fé, escreve livros, casou-se, tem quatro filhos e está à frente da NickV Ministries, ministério que organiza seu trabalho de levar mensagens de fé e esperança por todo mundo.

O ponto de virada, segundo ele, foi quando aceitou a sua singularidade e o seu propósito, de que poderia deixar a sua marca na vida das pessoas justamente por sua diferença física.

“Se Deus usa um homem sem braços e pernas para ser Suas mãos e pés, Deus pode usar qualquer pessoa”.

Nick hoje tem outra missão: alerta a igreja, principalmente dos EUA a respeito do seu papel na sociedade. “A resposta é que se realmente conhecemos Jesus, isso nos transforma”.

Ainda este ano, o pregador lançará um documentário sobre sua história de vida. E até este dia 20, domingo, visita algumas cidades no Brasil, com apoio da Christianitatis, organização cristã sem fins lucrativos.

Em passagem por São Paulo, ele concedeu entrevista para a Gazeta do Povo:

GAZETA DO POVOComo será o documentário que está produzindo sobre sua história de vida?

NICK VUJICIC — Chama-se "Sem Membros, Sem Limites". Será lançado nos Estados Unidos (EUA) em outubro deste ano em todos os principais cinemas. Ainda estamos tentando descobrir como faremos a distribuição fora dos EUA.

Estamos muito animados em inspirar as pessoas a saberem que, se Deus usa um homem sem braços e pernas para ser Suas mãos e pés, Deus pode usar qualquer pessoa e que há um propósito que podemos ter em Cristo, uma esperança e uma cura no coração.

Como você atravessou o período de bullying, depressão e pensamentos suicidas na infância?

A primeira coisa é viver um dia de cada vez e ser grato pelo que você tem. Meus pais sempre me incentivaram a escrever diariamente dez coisas pelas quais sou grato. Em segundo, orar. Você pode orar pelos seus agressores, mas isso não significa que o bullying vai parar.

Você pode contar aos professores, pode contar aos seus pais, mas no final é uma jornada que você quem tem que percorrer. O ponto principal é que você precisa se encorajar, pois a maneira como você se vê também vai refletir na maneira como eles te veem.

Por exemplo, se eu estiver deprimido e pensar ‘coitado de mim’, ou me fazer de vítima por ser deficiente, achar que não for bom o suficiente, isso vai transparecer. Mas se eu não me deixar levar pelas minhas deficiências, pelo que o mundo diz sobre mim ou com o que eu posso ou não fazer, verei que sou único e que há um propósito para isso.

Somos todos diferentes e está tudo bem. Quando você se aceita, o mundo começa a ver essa confiança e autoaceitação. Quando fiz isso, tudo ao meu redor mudou e a vida também.

O que mudou, além de sair da depressão?

Por ter sido vítima de bullying, encontrei um grande propósito e paz no meu coração, que é poder ouvir as pessoas e perceber que não sou o único a sentir dor. As pessoas são diferentes, mas a maioria de nós consegue esconder a dor muito bem.

Pessoas com braços e pernas conseguem esconder a dor muito bem, e eu não vejo nenhuma deficiência externamente. Eu não conseguia esconder a minha deficiência, mas conseguia esconder muito bem a minha dor muito bem.

Então, a questão principal para os adolescentes é: o que teria que acontecer na sua vida para você acreditar que vale a pena viver? E se você pudesse realmente fazer a diferença na vida de uma pessoa? Por que esperar para sair da escola para realmente fazer a diferença? Porque um em cada cinco alunos já pensou em suicídio nesse momento.

Falando de uma mentalidade diferente, de que a escola é apenas uma escola, posso plantar uma semente de esperança, amor e mudança na vida de alguém, cujo resultado talvez eu não veja, mas esse é o propósito maior que todos nós podemos viver. Não importa a idade em que estejamos, não importa o ambiente que tenhamos ou influenciemos, todos nós podemos fazer a diferença.

O bullying acontece só nas escolas?

Está em todo lugar. Há ideias preconcebidas e enquadramentos de diferentes grupos de pessoas. E, obviamente, existe uma natureza humana em que julgamos todos pela aparência, pelo trabalho que fazem ou se você é casado ou não. E é da natureza humana querer ser aceito e valorizado.

Então, quando você vai à escola é muito difícil. Minha grande pergunta era ‘por que eu nasci assim?’ e ‘por que valentões que me perturbam têm braços e pernas?’ Eles não merecem braços e pernas, pensava.

Infelizmente, existem algumas pessoas que acham que deveriam e poderiam intimidar as outras só para torná-las mais fortes. Isso não é saudável, nem mesmo em nome da comédia. Sou muito cuidadoso com o que permito que meus filhos assistam e ouçam.

E temos que ficar atento às amizades também. É como o ditado “diga-me com quem andas, que eu te direi quem és". As pessoas com as quais você escolhe se associar te influenciam mais do que você pensa.

O que você acha do ensino domiciliar (homeschooling)?

Eu recomendo totalmente. Nós, nos Estados Unidos, não estamos satisfeitos com os sistemas de ensino público. Vimos muitas coisas políticas que foram impostas, dependendo de quem era o presidente. Não há como proteger os filhos de tudo e não deve protegê-los de tudo.

Mas o que fazemos é um programa híbrido no Texas, no qual nossos filhos participam dois dias na escola e, no restante da semana, minha esposa os educa em casa.

O que você falaria para os pais e adolescentes?

Aos filhos, não finja que sabe tudo. Isso é típico do adolescente, mas você sempre pode aprender com os seus pais. Não quer dizer que eles sejam os melhores, mas ouça-os o máximo que puder.

Aos pais, não deem tudo o que seus filhos querem, quando querem e como querem. Se fizerem isso, eles vão se sentir no direito de tudo, serão mimados e menos gratos.

E, pais, ouçam seus filhos. Se vocês querem que seus filhos os ouçam, precisam mostrar a eles o que é integridade, amor, respeito. Precisam parar de ter um caso extraconjugal. Precisa parar com seu vício em pornografia. As suas ações influenciam e ensinam mais do que as palavras.

Se você não pudesse falar mais nada para seus filhos, que aprendizados eles guardariam de você? Isso é o reflexo das suas ações.

O que você sugere ensinar?

Sente-se com sua família e aprenda a incrível história do Brasil. Aprenda coisas interessantes em família, em vez de apenas perder tempo assistindo a coisas idiotas ou desenhos animados que não ensinam nada.

Ensine educação financeira. Há essa linha tênue entre a opressão sistemática e opressiva nos Estados Unidos, no Brasil e no mundo, com a falta de educação financeira e a falta de ética de trabalho, onde eu recebo tudo de graça e serei feliz. Isso se chama socialismo.

Não estou entrando em política. Só estou dizendo que todos nós temos essa inclinação em países onde não ensinamos aos jovens que trabalhar é bom e como economizar dinheiro.

Você fala em metas de vida. Que metas são estas?

A segunda coisa importante para ensinar aos filhos é definir metas de curto, médio e longo prazo em seis áreas da vida: fé, família, amigos, finanças, condicionamento físico e diversão. Se você sente que não está progredindo, então você não vai progredir. E se você progride, mas não percebe que progride, isso é depressão.

Sair da depressão e manter uma atitude de gratidão realmente tem a ver com você mesmo, com o acompanhamento das suas próprias metas que você definiu e pelas quais precisa assumir a responsabilidade.

Qual é a importância da religião nesse contexto?

Fé é tudo. Sem a minha fé em Jesus Cristo, minha alma não seria salva, meu coração não seria curado e minha mente não seria renovada. Então, Jesus foi o único que disse que era Deus, que era santo, que também morreu pelos meus pecados, que não é uma pessoa ou uma história, uma religião, uma tradição ou uma cultura, uma identidade qualquer. Ele é uma pessoa real.

Eu não posso simplesmente ir à igreja duas vezes por ano, encontrar-me com o padre, confessar todos os meus pecados, acender algumas velas e pronto, permanecer em pecado e não querer, de fato, me esforçar para ter responsabilidade em ser melhor.

Eu tenho um relacionamento pessoal com Jesus Cristo, de modo que as mesmas três perguntas que faço à minha esposa, faço a Jesus: ‘o que estou fazendo que preciso parar de fazer? O que não estou fazendo e preciso começar a fazer? E o que estou fazendo bem que preciso continuar fazendo?’. Essas são as três perguntas que, quando você faz a Jesus diariamente, você realmente cresce em amor e cresce na fé nele.

Devemos ler a Bíblia. Muitas pessoas vão à igreja e nunca leram a Bíblia. Os padres não leem a Bíblia. Nós lemos sobre os santos, fazemos festivais, peregrinação e muitas outras coisas só porque foi dito que é tradição, mas algumas sequer estão na Bíblia.

Como você vê o Brasil neste contexto?

Acho que o Brasil está numa encruzilhada muito interessante agora. Honestamente, estou com muito medo por vocês como país. Acho que não é sobre quem é presidente agora, isso é secundário. O ponto principal é sobre o que a igreja faz.

Nos EUA, temos 500 mil igrejas e, nos últimos 25 anos, tivemos meio milhão de crianças esperando por um lar. Cerca de 85% de todas as pessoas presas lá saíram do sistema de assistência social americano. Não me importa quem é o presidente, quais projetos foram aprovados. É a igreja estendendo a mão com amor, para levar esperança e encontrá-los onde eles estão.

Se realmente conhecemos Jesus, Ele nos transforma. Queremos mudar o mundo e é por isso que alerto o Brasil: devemos nos arrepender e voltar para Jesus. Não como algo superficial na nossa vida, mas como nossa fonte central do que pensamos, do que dizemos, do que planejamos, do que fazemos.

E os Estados Unidos?

Estou com muito medo pelos EUA. Muito, muito mesmo, porque nos deram muito, mas nos fizeram pouco. É absolutamente repugnante. Eu disse em uma chamada online de pastores, em 2023: ‘Vocês falam sobre tráfico humano. Isso é lindo. Podem insistir o quanto quiserem. Mas sabem onde começa o tráfico humano? Com ​​o vício em pornografia em suas igrejas. Gostariam de fazer um estudo bíblico que realmente abordasse o vício em pornografia em suas igrejas?’. Um deles disse não. Sabe por quê? Porque teria que começar por ele e pela liderança.

Há 15 anos no governo. Dissemos oficialmente: ‘Não somos mais uma nação cristã. Estamos nos afastando completamente de onde viemos.’ Não quero dizer que os Estados Unidos eram grandes antes disso, mas agora expulsar Deus da escola tem consequências. Uma em cada três meninas e um a cada cinco meninos já foi estuprado aos 17 anos nos EUA. E 67% de todos os adolescentes americanos hoje estão fazendo imagens pornográficas para seus namorados ao telefone. Você acha que os Estados Unidos são grandes? Nós não somos.

Como mudar isso?

Precisamos nos arrepender e isso começa na igreja. Se você se considera cristão deve amar as pessoas. Se você intimida as pessoas, está fazendo sexo com sua namorada e falando palavrões, não está salvo. Você vai para o inferno.

Não por causa do julgamento de suas ações hoje, mas porque se Jesus não for o filtro do seu cérebro, ele não está em você. Ninguém está corrigindo a igreja nos Estados Unidos. E isso está prestes a vir à tona.

Você pediu a Deus por braços e pernas. Por que algumas pessoas são curadas e outras não?

Eu tenho um par de sapatos no meu armário, para o caso de Deus me dar braços e pernas. E eu tenho orado por braços e pernas porque um bilhão de pessoas na China e outro bilhão na Índia sabem quem eu não tenho membros. E cerca de mais 817 milhões de pessoas ouviram o evangelho de Jesus Cristo nos últimos 20 anos por nosso ministério, o Nick V Ministries.

Deus cura e às vezes Deus nos leva para casa. Cristãos morrem. Não é falta de fé. Não é falta de generosidade. Não é falta de retidão. Não é falta dos dons do Espírito Santo ou o que quer que isso signifique para as pessoas. Mas às vezes a maior cura de todas acontece quando você volta para casa e vive para sempre. Quer dizer, não é esse o nosso tesouro?

Por que Deus não me cura? Por que Deus não nos cura o tempo todo? Não sabemos. Mas a maior cura de todas aconteceu. Minha alma está salva. Meu coração está curado. E minha mente está renovada. O que motivação, inspiração, boas ações e dinheiro jamais poderão lhe trazer.

ONDE PROCURAR AJUDA

CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde)
UPA 24H, SAMU 192, Pronto Socorro; Hospitais

CVV - Centro de Valorização da Vida
Site: http://www.cvv.org.br
Email: atendimento@cvv.org.br / Telefone: 188

Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio
Site: https://vitaalere.com.br/
Email: contato@vitaalere.com.br / WhatsApp: (11) 97647-0989 (De segunda à sexta: de 8h às 17h)

Associação Brasileira de Estudos e Prevenção de Suicídio - ABEPS
Site: https://www.abeps.org.br/
Email: faleconosco@abeps.org.br

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