Participantes do II Congresso Nacional da Nova Resistência, realizado em outubro de 2021 na cidade paulista de Cruzeiro.| Foto: Reprodução / Site da Nova Resistência
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“Extrema direita disfarçada de nacionalista”. “Híbrido entre neonazismo e stalinismo”. “Facção neofascista infiltrada no PDT”. “Seguidores de uma ideologia inspirada no nazismo e no satanismo”. “Ameaça terrorista”. “Disseminadores de fake news pró-Rússia”. “Os antissemitas do PDT”.

Estas são apenas algumas das definições utilizadas pela imprensa e a academia para se referir à Nova Resistência (NR) – um movimento político com pouco mais de 300 afiliados, mas que recentemente entrou no radar da opinião pública e até do governo norte-americano.

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Fundada no Rio Janeiro há oito anos, em meio aos efeitos das Jornadas de Junho de 2013, a organização segue a cartilha da Quarta Teoria Política, criada e divulgada pelo filósofo russo Alexander Dugin, considerado um dos principais conselheiros de Vladimir Putin em seus projetos expansionistas.

Trata-se de uma intrincada teia ideológica que, resumindo vulgarmente, conecta ideias extremistas tanto de direita quando de esquerda. E foi batizada de “quarta” porque propõe uma alternativa, ou a superação, das três ideologias dominantes no século XX: o liberalismo, o comunismo e o fascismo.

A rejeição às pautas identitárias, ao chamado globalismo e à hegemonia geopolítica dos Estados Unidos é a cola conceitual que une a NR, formada por militantes egressos dos mais diversos grupos – de olavistas a comunistas, passando por fascistas, nazistas, nacionalistas, trabalhistas, separatistas, MBListas e integralistas.

Para os “novos resistentes”, o mundo carece de multipolaridade, ou seja, da participação de mais países como polos de poder. E essas nações são, quase sempre, ditaduras, autocracias ou democracias questionáveis do ponto de vista da ordem política ocidental (como China, Síria, Irã, Coreia do Norte, Venezuela e, é claro, a Rússia).

Com relação ao atual conflito no Oriente Médio, por exemplo, eles se opõem a Israel (responsável, segundo o site da organização, por “crimes contra a humanidade” em Gaza).

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Em seus primeiros anos de atividade, a NR praticamente só era percebida pelo círculo politizado das redes sociais. Mas, em outubro de 2021, um relatório de avaliação de risco publicado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras do Governo Federal, o Coaf, ligou o alerta de mais gente com relação aos duginistas locais.

Produzido pelo Grupo de Trabalho de Avaliação Nacional de Riscos de Lavagem de Dinheiro, Financiamento do Terrorismo e Financiamento da Proliferação de Armas de Destruição em Massa, o documento inclui a Nova Resistência na categoria dos “grupos extremistas violentos não islâmicos”.

Diz o texto: “Os grupos extremistas violentos não islâmicos compreendem os grupos ecoterroristas; os anarquistas insurrecionais; os movimentos anticivilização, ultranacionalistas e neonazistas; os grupos radicais por motivação étnico-racial; adeptos da ideologia da Quarta Teoria Política, do grupo Nova Resistência, do novo integralismo; grupos que pregam a intolerância religiosa; e aqueles motivados pela radicalização virtual em fóruns”.

Em 2022, durante a campanha eleitoral, a NR voltou a furar a bolha tuiteira – e, dessa vez, apareceu em praticamente todos os jornais e portais de notícias. O motivo foi uma suposta “infiltração” de afiliados da organização nas fileiras do PDT.

Pelo menos dois candidatos do partido em São Paulo participaram de eventos ou debates no YouTube promovidos pela Nova Resistência: Aldo Rebelo (ex-ministro dos governos Lula e Dilma e ex-membro do PCdoB, em busca de uma vaga no Senado) e Robinson Farinazzo (comandante da reserva da Marinha, que pleiteava o cargo de deputado estadual).

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Nenhum dos dois foi eleito, porém seu envolvimento com os duginistas acabou respingando (de leve) no candidato da legenda à presidência da República, Ciro Gomes. Sabatinado no programa Roda Viva, da TV Cultura, o político foi questionado por um jornalista sobre a “presença de um grupo de extrema direita nos quadros do PDT”, formado por “negacionistas do Holocausto e das vacinas e gente que critica a militância LGBT e o movimento negro”.

Ciro apenas respondeu, rapidamente: “Qualquer neonazista, neofascista, racista, ou seja lá que diabo for, não vai estar no PDT”.

Na ocasião, o então presidente do partido, Carlos Lupi (hoje ministro da Previdência Social), divulgou uma nota oficial sobre a controvérsia. “O PDT afirma que não possui qualquer tipo de vínculo com o movimento Nova Resistência e seus membros. No Brasil, são mais de um milhão de filiados ao partido e todos que assumirem a dupla militância serão excluídos. O único caso registrado foi em 2020, com o devido cancelamento da filiação. Já Robinson Farinazzo, oficial da reserva da Marinha, nega a defesa da pauta do NR.”

Há duas semanas, no entanto, o site Congresso em Foco noticiou a expulsão de 50 pedetistas ligados ao grupo duginista. A lista de desfiliados inclui uma das principais lideranças da Nova Resistência, Amaryllis Rezende, que participava da ala do partido dedicada às mulheres.

Grupo também é monitorado pelo governo dos Estados Unidos 

Ainda em 2022, no mês de dezembro, a Nova Resistência foi citada em outro relatório de circulação pública. Com o título de “O extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às escolas e alternativas para a ação governamental” e hospedado no site da ONG Campanha Nacional Pelo Direito à Educação, o documento é assinado por 13 autoras ligadas ao ativismo de esquerda (entre psicólogas, educadoras, pesquisadoras acadêmicas e jornalistas).

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Segundo o levantamento, a NR faz parte de uma lista de grupos que “buscam a promoção de uma agenda política moralmente regressiva, especialmente (mas não apenas) orientada a conter ou anular avanços e transformações em relação a gênero, sexo e sexualidade, além de reafirmar disposições tradicionalistas, pontos doutrinais dogmáticos e princípios religiosos ‘não negociáveis’.”

E se faltava algum acontecimento para colocar de vez os duginistas no mapa político brasileiro, ele veio à tona no último dia 19 de outubro – quando mais um relatório, divulgado pelo governo dos EUA, ganhou repercussão nacional.

Intitulado “Exportando desinformação em favor do Kremlin: o caso da Nova Resistência no Brasil”, o documento de 28 páginas foi elaborado pelo Global Engagement Center, uma agência do Departamento de Estado norte-americano criada para “reconhecer, compreender, expor e combater” iniciativas estrangeiras de propaganda e desinformação que possam prejudicar os EUA e seus aliados.

De acordo com o material, o movimento integra uma rede utilizada pelo governo da Rússia para “manipular informações e disseminar ideologias antidemocráticas e autoritárias ao redor do mundo”. “A Nova Resistência apoia ativamente regimes autoritários tanto à esquerda como à direita em nível global e promove os objetivos geopolíticos do Kremlin de desestabilizar as democracias e minar o sistema internacional baseado em regras”, diz o texto, que também classifica a organização como “neofascista” e “quase paramilitar”.

O estudo ainda menciona que o grupo promove ações do Grupo Wagner (milícia criada por ex-oficiais do exército da Rússia), recruta brasileiros para lutar na Guerra da Ucrânia pelo lado russo e tenta se infiltrar em um partido político cujo nome não é mencionado – e isso explica a onda de expulsões do PDT, noticiada após a publicação do relatório americano.

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O levantamento, no entanto, traz algumas inconsistências e omissões. Como a ausência completa de informações sobre um vereador filiado à organização (Ivanzinho de Joventino, eleito pelo Cidadania na cidade paraibana de Cuité) e a conclusão de que não há evidências concretas do controle do grupo por parte dos serviços de inteligência russos.

Em seu site oficial, a NR afirma não receber qualquer tipo de recurso de governos estrangeiros. E atribui o monitoramento de suas atividades por parte dos EUA ao fato de que o país “simplesmente não consegue conceber qualquer projeto geopolítico que não os contemple no posto de hegemonia mundial”.

“O conteúdo da organização não é nada além da tradição nacionalista e trabalhista brasileira adaptada para o século XXI pelo prisma filosófico fornecido pela Quarta Teoria Política de Alexander Dugin”, diz a nota.

Para pesquisadores, é equivocado associar o duginismo apenas à direita 

Para quem acompanha as movimentações da NR, e critica sua atuação, as bases conceituais do grupo vão muito além do nacionalismo e do trabalhismo. E tampouco podem ser somente associadas às ideias da extrema direita, como a imprensa e a academia querem impor ao público – vide o termo “infiltração”, usado para mascarar as afinidades ideológicas do grupo com o PDT.

“É um equívoco classificá-los apenas como sendo de direita. O dugnismo é um extremismo híbrido, composto, que percorre com facilidade conceitos da direita e da esquerda radicais. Um buffet em que a pessoa escolhe o que gosta e coloca no pratinho dela. E é essa fluidez que torna a Quarta Teoria Política tão atrativa para certos segmentos”, diz Michele Prado, pesquisadora de movimentos políticos extremistas e autora dos livros ‘Tempestade Ideológica’ e ‘Red Pill: Radicalização e Extremismo’.

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Segundo Michele, as ideias de Dugin são “o puro suco do fascismo” – uma receita que combina desde o nacional socialismo até o extremismo islâmico, passando por nacional bolchevismo, perenialismo, tradicionalismo, evolianismo, guenonismo, Nouvelle Droite (a “nova direita” francesa surgida no final dos anos 1960), fascismo gnóstico, neonazismo, ocultismo nazista e iliberalismo, entre outras correntes.

Jornalista, escritor e colunista do site do Instituto Estudos Nacionais, Cristian Derosa conheceu as ideias de Alexander Dugin em 2011, quando o russo travou um debate público com o filósofo brasileiro Olavo de Carvalho sobre a nova ordem mundial. Ele lembra que a conferência, hoje histórica e registrada em livro, teve um caráter mais cultural do que político, e aconteceu muito antes dos dois serem considerados “gurus” de Vladmir Putin e Jair Bolsonaro.

Discípulo assumido de Carvalho, Derosa monitora a Nova Resistência praticamente desde seu surgimento, e expressa uma preocupação com o crescimento da organização – cujos seguidores, segundo ele, são orientados pessoalmente por Dugin (que já esteve duas vezes no Brasil, antes da criação da NR).

“O desejo de oposição ao globalismo e ao identitarismo são tentáculos que vem puxando pessoas de direita para o grupo, inclusive ex-alunos do professor Olavo. Vai ser muito difícil dissociar a NR da direita no futuro. Esse risco é muito grande”, diz o jornalista.

A professora de Filosofia Bruna Torlay, diretora da revista Esmeril, faz uma observação semelhante. “Há uma direita católica e, infelizmente, sem cultura que não tem a capacidade de compreender que o duginismo é, no fundo, uma recusa ao amor e uma defesa da destruição. É o oposto do que propôs o Olavo de Carvalho”, afirma.

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E completa: “Para mim, o simples fato de o Dugin ser tributário do [filósofo alemão Martin] Heidegger, um queridinho dos esquerdistas, já aproxima ele muito mais da esquerda do que da direita”.

Registro do I Congresso Regional Sul-Sudeste da NR, promovido na capital paulista em novembro de 2022, com o líder Raphael Machado à frente do grupo. (Crédito: Reprodução/Site da Nova Resistência)

Líder admite ter participado de fóruns fascistas no início dos anos 2000 

Difícil mesmo é separar a imagem da Nova Resistência da figura de Raphael Machado, seu líder, fundador e um influencer bastante ativo nas redes sociais. Além de ter 21 mil seguidores no Twitter/X, o advogado de 35 anos é acompanhado de perto por vários militantes de esquerda, que costumam “printar” e expor suas mensagens mais polêmicas. Muitas delas datam do início dos anos 2000, quando Machado fazia parte de fóruns de discussão voltados ao fascismo, ainda nos tempos do Orkut.

Citado nominalmente em diversos trechos do relatório do governo americano, ele é acusado de “promover abertamente narrativas antissemitas” e de ter um “papel fundamental” no recrutamento do brasileiro Rafael Lusvarghi como voluntário de tropas russas nos conflitos pela independência das regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, em 2014 (antes da fundação da NR). Capturado e condenado por terrorismo pelas autoridades da Ucrânia, Lusvarghi foi libertado e voltou a ser preso novamente em 2021, no Brasil, por esconder munições e traficar drogas.

“Eu fui fascista, sim. E o Dugin também foi, nos anos 1980. Não somos mais, mas parece que a esquerda quer que eu faça uma genuflexão em praça pública para pedir perdão”, afirma Raphael Machado, em entrevista por telefone à reportagem da Gazeta.

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Ele ainda admite sua participação na frente de brasileiros que intermediou a ida de Luvarsghi para a Ucrânia e reconhece ter feito piadas inadequadas sobre judeus na internet, porém alega que muitos desses prints são montagens falsas produzidas para incriminá-lo.

Um desses registros, que ficou famoso no Twitter/X e Machado assume ser de sua autoria, trata do livro ‘O Diário de Anne Frank’ (centrado no relato de uma adolescente vítima do Holocausto). “‘O Diário de Anne Frank’ não passa de uma obra de ficção. E uma obra de ficção medíocre, para piorar”, diz a postagem.

Na semana passada, outra liderança da Nova Resistência, o jornalista Lucas Leiroz, causou indignação nas redes ao afirmar que Israel, e não o Hamas, matou a DJ alemã Shani Louk, de 23 anos – cujo corpo, violentado e mutilado, foi exibido em uma caminhonete pela milícia palestina, em um vídeo que chocou o mundo.

“Julgaram que Shani havia sido estuprada e morta pelo Hamas por estar seminua e aparentemente sem vida no tal vídeo. Mas depois foi confirmado que, na verdade, ela havia sido ferida no fogo-cruzado e no momento do vídeo estava sendo resgatada pelos palestinos. Além disso, ela já estava seminua na festa rave que ficou no meio dos confrontos entre o Hamas e as IDF (Forças de Defesa de Israel), não tendo sido despida para ser estuprada”, afirma Leiroz em um trecho do texto, desmentido pelo recurso “Notas da Comunidade” do Twitter/X e posteriormente apagado.

Para os “novos resistentes”, o eleitor brasileiro quer “Bolsa Família e Rota na rua” 

O líder da Nova Resistência conta que a organização surgiu a partir do encontro de cinco amigos no dia 31 de janeiro de 2015, na capital fluminense. Nessa época, Machado já se interessava pela Quarta Teoria Política e o conceito de multipolaridade – e concluiu que o Brasil teria mais espaço no cenário internacional se atualizasse o nacionalismo e o trabalhismo de Getúlio Vargas, João Goulart, Leonel Brizola e Darcy Ribeiro (daí vem a aproximação com o PDT, e não “infiltração”, como ele faz questão de corrigir).

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Em seus primeiros posicionamentos, o movimento era crítico à gestão de Dilma Rousseff, por sua aproximação com o progressismo cultural e um falso discurso desenvolvimentista. “Era uma retórica simbólica, pois na prática o governo praticava uma subserviência voluntária aos EUA”, diz Raphael Machado.

Ao mesmo tempo, o grupo se mostrava contrário ao “empoderamento desmedido” que a Operação Lava Jato proporcionou ao Judiciário e alertava para o “precedente perigoso” que poderia ser aberto com o impeachment da presidente.

Aliás, a nova Resistência nunca fez uma oposição frontal a Bolsonaro ou Lula (nas eleições passadas, seus membros foram liberados para apoiar os presidenciáveis de sua preferência). “Só tecemos críticas construtivas sobre os dois governos. Acreditamos que eles representam patriotas e pessoas de bem, que são conservadoras nos costumes, mas acreditam que o Estado deve participar, com investimentos, da saúde, educação, segurança”, diz o líder da organização.

Dentro dessa lógica, chama a atenção o meme “Bolsa Família e Rota [o batalhão de choque da polícia de São Paulo] na rua”, citado por Machado durante a entrevista.

Hoje vivendo na cidade gaúcha de Caxias do Sul, ele não atua mais na advocacia. Afirma que se dedica às atividades da Nova Resistência, comanda uma editora voltada para publicações sobre política e filosofia (incluindo, claro, obras escritas por Alexander Dugin) e presta consultoria para uma empresa russa do ramo de fertilizantes.

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Sobre as consequências do documento produzido pelo Departamento de Estado dos EUA, Machado não esconde: a polêmica só ajudou o grupo. “Apenas nos cinco ou seis dias depois da divulgação, recebemos cerca de 250 solicitações de filiação em nosso site”, diz.

Dissidentes da Nova Resistência hoje formam uma nova frente e rejeitam Dugin 

Apesar de contar com poucos membros e ser relativamente recente, a NR já tem uma dissidência. É a Frente Sol da Pátria, fundada no ano passado por ex-integrantes do movimento que atualmente seguem uma linha, segundo seu site oficial, mais tradicionalista e trabalhista. O novo grupo inclusive rejeita a Quarta Teoria Política, considerada incompatível com o nacionalismo que defendem.

Questionado acerca da guinada anti-Dugin de seus ex-companheiros, Raphael Machado diz se tratar apenas de uma “estratégia de marketing”, pois o nicho duginista no Brasil já está ocupado pela Nova Resistência. De qualquer forma, tanto ele quanto o presidente de honra da Sol da Pátria, o historiador André Luiz dos Reis, declaram que o racha se deu, acima de tudo, por “questões administrativas”.

“Nossa saída não foi planejada. Ela aconteceu por causa de conflitos na reformulação dos mecanismos decisórios da organização”, afirma dos Reis, que deixou a NR com outros 25 membros.

As discordâncias com o duginismo, no entanto, sempre o acompanharam – mas, segundo ele, não eram externadas em nome da unidade da organização. “Venho de uma família de brizolistas, sou mais ligado ao trabalhismo, ao varguismo. Entrei para a Nova Resistência com a proposta de recolocar esses conceitos no debate público, mas o grupo acabou ficando muito dependente da opinião do Dugin”, diz.

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Para o historiador, o russo é um “teórico interessante”, porém acabou se perdendo ao assumir o posto de garoto-propaganda de Vladimir Putin e mudar de discurso de acordo com as decisões tomadas pelo Kremlin.

André Luiz dos Reis ainda faz uma revelação curiosa: segundo ele, a Nova Resistência foi completamente pega de surpresa pela notícia da invasão russa à Ucrânia, em fevereiro do ano passado – apenas poucos dias depois do desligamento voluntário da ala dissidente.

“Nós, da NR, fazíamos uma leitura totalmente diferente dos acontecimentos. Achávamos que a Rússia manteria a situação de ‘molho’, ajudando as repúblicas autônomas, deixando o [presidente ucraniano Volodymyr] Zelensky se enfraquecer politicamente e aguardando os ventos mudarem. Realmente não esperávamos tudo o que acabou acontecendo”, afirma.

A reportagem da Gazeta do Povo procurou Aldo Rebelo, Robinson Farinazzo, Ciro Gomes, Ivanzinho de Joventino e o presidente interino do PDT, o deputado federal André Figueiredo (CE), para comentar os assuntos tratados neste texto, mas não obteve retorno até a conclusão do material.

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