População em rua de Porto Príncipe, capital do Haiti| Foto: Pixabay

Os números podem nos deixar otimistas: menos de 10% da população mundial - o equivalente a 9,6% - vive em situação de extrema pobreza. Desde 1820, esse número nunca foi tão baixo. A expectativa de especialistas é que esse índice se mantenha ou até continue diminuindo ao longo dos próximos anos.

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“Em 1820, a maioria das pessoas viviam em situação de pobreza extrema e apenas uma elite pequena aproveitava um padrão de vida mais elevado. O crescimento da economia nos últimos 200 anos transformou completamente nosso mundo, com a pobreza caindo continuamente nos últimos dois séculos. Isso é ainda mais impressionante se considerarmos que a população cresceu sete vezes nesse mesmo período”, afirmam os pesquisadores Max Roser e Esteban Ortiz-Ospina, em um texto sobre pobreza extrema publicado no Our World in Data, página criada por um grupo da Universidade de Oxford e que agrega dados de fontes diversas – pesquisas da ONU, institutos internacionais de pesquisas, governos e outros – para dar um panorama numérico do mundo de hoje.

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Países como China e Índia, por exemplo, marcaram essa mudança, de acordo com o professor do Departamento da Economia da UFPR, Junior Ruiz Garcia. Ainda assim, o economista defende que é importante não ser otimista demais. 

“Apesar dessa importante redução na proporção da população mundial em situação de pobreza e de extrema pobreza, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura [FAO, na sigla em inglês] estima que mais de 870 milhões de pessoas no mundo sofrem de fome crônica e 170 milhões de crianças com menos de cinco anos de idade sofrem de desnutrição crônica no mundo. Desse modo, a redução é uma boa notícia, mas não significa que o problema da pobreza esteja equacionado no mundo”, relata Garcia.  

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Um dos diagnósticos feitos por Roser e Ortiz-Ospina é que essa redução da pobreza extrema é menor em países que começaram a desenvolver a indústria mais cedo. Já países ricos como o Japão, a Itália e os Estados Unidos diminuíram radicalmente a extrema pobreza no último século, uma mudança que ocorreu em poucas gerações. 

“O progresso foi feito rapidamente - e, em alguns casos, de forma constante. Nós definitivamente podemos acabar com a extrema pobreza em países em desenvolvimento, e podemos fazer isso logo. Outros países já fizeram isso”, concluem os pesquisadores. 

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Para Garcia, os próximos anos podem ter um cenário positivo. “Apesar da redução do ritmo do crescimento da economia mundial, a tendência de redução pode ser mantida. Paralelo ao crescimento da economia está a redução no ritmo de crescimento demográfico, o que também contribui para aumentar a renda das pessoas”, afirma. 

Ainda assim, o professor questiona até que ponto a medida não deveria ser alterada: “cabe destacar que a manutenção da linha de pobreza em US$ 1,90/dia também tem contribuído para essa redução ‘estatística’ na parcela da população em situação de pobreza e de extrema pobreza no mundo, inclusive no Brasil”, explica. 

“É importante ressaltar que a Linha Internacional da Pobreza é extremamente baixa. Focar na extrema pobreza é importante porque identifica as pessoas em necessidade extrema. Mas devemos considerar que condições de vida pouco acima dessa linha ainda podem ser caracterizadas por pobreza e dificuldade”, explicam Roser e Ortiz-Ospina. 

Definição e medida 

Uma das grandes dificuldades de se falar sobre pobreza extrema é como defini-la e medi-la. Atualmente existem várias formas de se medir esse índice.

Pode-se considerar, por exemplo, o número de calorias ingeridas por dia ou a capacidade aquisitiva. A principal fonte desse dado atualmente é o Banco Mundial, que determina a Linha Internacional da Pobreza, fixada em 2015 em $1,90 (dólar internacional). O cálculo desse valor é adaptado de acordo com o poder aquisitivo de cada país - esse ajuste se chama Paridade do Poder de Compra.

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Além disso, os dados anteriores a 1981 são apenas estimativas, feitas por pesquisadores e economistas com base em dados históricos disponíveis.  

Brasil 

Segundo Garcia, a diminuição da pobreza no Brasil no século 21 foi alavancada por programas como o Bolsa Família. Ainda assim, esse número deve mudar com os efeitos da crise econômica recente - em 2016, 11,2% da população do país estava em situação de pobreza, representando pouco mais de 20 milhões de pessoas, segundo uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas. Em 2014, esse número era de 16 milhões. 

Além disso, uma nova métrica apresentada em outubro de 2017 pelo Banco Mundial muda a situação do Brasil. O novo parâmetro leva em consideração no cálculo o nível de desenvolvimento do país. Considerado um país de renda média alta, o nível de pobreza no Brasil passa a ser avaliado em $5,50 - fazendo com que 22% da população viva em situação de pobreza (segundo dados de 2015). 

Ainda assim, o Banco Mundial continua considerando $1,90 como a linha de corte da extrema pobreza - 4,3% da população brasileira estava nessa situação em 2015. A meta é que esse número seja erradicado mundialmente até 2030.

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