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Proibição do cigarro eletrônico em San Francisco mostra que a sinalização da virtude tem consequências no mundo real.
Proibição do cigarro eletrônico em San Francisco mostra que a sinalização da virtude tem consequências no mundo real.| Foto: Pixabay

São Francisco, conhecida por não ser uma cidade exatamente interessada na luta contra as drogas, acabou de aprovar uma lei proibindo a venda de cigarros eletrônicos para consumidores de qualquer idade – excluindo os cigarros tradicionais. O conselho municipal aprovou a lei na última terça-feira (2), com os defensores da medida mencionando o aumento da popularidade dos cigarros eletrônicos entre os adolescentes como motivo. Ainda que o aumento no uso do cigarro eletrônico entre os estudantes do ensino médio seja preocupante, essa proibição provavelmente terá efeito limitado na restrição ao cigarro eletrônico entre os jovens e ao mesmo tempo prejudicará aqueles (incluindo adolescentes) já viciados em nicotina.

De acordo com um relatório do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) de 2018, os cigarros eletrônicos e os cigarros normais praticamente trocaram de lugar entre os alunos do ensino médio. Enquanto a porcentagem de adolescentes que diziam ter fumado nos últimos trinta dias caiu de 16% para 8% em 2011, a porcentagem deles que disseram ter usado o cigarro eletrônico aumentou de 2% para 21%. Esse aumento se deve em parte à novidade dos cigarros eletrônicos; é improvável que os índices de uso de cigarros eletrônicos continuem a crescer tão rápido.

De certa forma, o aumento no uso do cigarro eletrônico é uma boa notícia. Embora não se saiba direito quão prejudicial eles sejam, o consenso é de que são muito menos perigosos do que os cigarros tradicionais. Eles não contêm alcatrão ou tabaco. Alguns cigarros eletrônicos são, contudo, mais viciantes, devido às altas concentrações de nicotina, e mais atraentes para os adolescentes por causa do sabor e da moda.

Aí é que entra o conselho municipal de São Francisco. O supervisor Shamann Walton, um dos defensores da proibição, retratou os cigarros eletrônicos como uma tecnologia nova e perigosa ao apresentar o projeto de lei: “Agora você tem esse negócio cheio de nicotina e produtos químicos que levam as pessoas ao vício. Precisamos impedir que isso chegue às mãos dos jovens”.

Primeiro, parece que os cigarros eletrônicos estão funcionando mais como substituto dos cigarros, e não como um vício novo e diferente; o aumento no uso dos cigarros eletrônicos, como mostrado acima, significa uma diminuição no uso de cigarros tradicionais. A taxa de uso de cigarros eletrônicos em 2018, contudo, superou a do uso dos cigarros tradicionais em 2011, provavelmente por causa da relativa segurança dos cigarros eletrônicos e do fato de ser um produto da moda. A Juul, a maior empresa de cigarros eletrônicos dos Estados Unidos, tem feito campanhas de marketing espertas, ao estilo startup, e tem gozado de popularidade nos campi das universidades.

Argumenta-se, pois, que o cigarro eletrônico serve como “droga de fuga” em relação a formas mais prejudiciais de se consumir a nicotina, como o tabaco mascado e os cigarros normais. Mas isso é improvável, já que o uso do cigarro tradicional tem caído muito nos últimos anos. É mais sensato supor que aqueles que usam os cigarros eletrônicos seriam aqueles que, há mais ou menos uma década, fumariam cigarros tradicionais.

Mas o argumento pela proibição faz ainda menos sentido se o cigarro eletrônico realmente funcionar como droga de fuga e viciar os jovens em nicotina. Assim como pessoas viciadas em analgésicos começaram a usar heroína depois da epidemia de opioides, os viciados em nicotina recorrerão aos cigarros normais se não tiverem alternativas mais seguras disponíveis. De qualquer modo, uma proibição teria sido uma política melhor há sete anos, quando o uso de cigarros normais estava em queda e os cigarros eletrônicos ainda eram relativamente incomuns.

Na situação atual, cada vez mais adolescentes estão usando um produto à base de nicotina mais seguro. Obrigá-los a abandonar o cigarro eletrônico será um presente para as fabricantes de cigarro tradicional. E a proibição aos cigarros eletrônicos ignora o fato de que a maioria dos usuários não é de menores, e muitas pessoas os estão usando como uma forma de abandonar o cigarro tradicional.

E, claro, nada disso afeta os argumentos que os progressistas de São Francisco usaram para apoiar a legalização da maconha. É contraditório proibir os cigarros eletrônicos e permitir a venda de álcool, tabaco e maconha. Uma proibição é algo extremamente difícil de se impor, dada a existência de tabacarias nas cidades próximas, identidades falsas e, sinceramente, a determinação dos adolescentes.

A proibição é mais estética do que qualquer outra coisa. Os moradores de São Francisco geralmente não se importam ou se acostumaram à presença da maconha; os cigarros foram regulamentados e excluídos das praças públicas. As a relação dos cigarros eletrônicos com a indústria do tabaco (a Altria detém 35% da Juul) torna o produto “comercial” demais aos olhos do conselho, ao contrário da maconha. Os cigarros eletrônicos são uma macha na autoimagem progressista da cidade, mais associados aos funcionários das empresas de alta tecnologia do que com os hippies.

Mas a sinalização da virtude tem consequências no mundo real. A proibição de São Francisco é uma decisão mal pensada, que ignora os fumantes que estão tentando abandonar o vício e ameaça reverter décadas de esforços para livrar os adolescentes dos cigarros comuns.

James P. Sutton é repórter da National Review e estudante da Swarthmore College.

© 2019 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês

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